

Desde o evento mundial na capital paraense, o processo do FSM seguiu seu curso, com uma grande e rica dinâmica. Somente em 2010, mais de 40 eventos, partes desse processo, surgiram: do Fórum Social das Américas em agosto, até o Fórum Social Mundial de Educação na Palestina ou o Fórum Social Europeu (setembro), o Fórum Social Panamazônico (novembro) e ainda o Fórum social senegalês (dezembro).
Os comitês internacional, africano e senegalês também vêm se reunindo, virtual e presencialmente. Três encontros internacionais foram realizados este ano, sendo um no México e dois em Dacar. O último encontro conjunto preparatório antes do evento mundial ocorreu na capital senegalesa, de 9 a 12 de novembro. O palco dessa reunião, que contou com a presença de cerca de 150 pessoas, foi a universidade Cheik Anta Diop, que tem o nome de um dos maiores cientistas, pensadores africanos e contestadores do pensamento eurocêntrico. É no campus desta universidade que acontecerá a maior parte das atividades, no próximo mês de fevereiro.
À diferença das primeiras edições do evento, em Porto Alegre, no início dos anos 2000, a pauta do FSM não tem mais nada a provar: está mais do que legitimada pela crise do capitalismo neoliberal, cujos sinais de esgotamento não pararam de crescer nesta década. A crise financeira e econômica iniciada em 2008 desta vez atinge os países mais tradicionais da economia capitalista dominante.
Enquanto isso, as terríveis catástrofes naturais que surgem como consequências das mudanças climáticas que afligem o planeta soam como um alerta para humanidade! Já se fala em crise civilizatória, em sinais de uma era pós-capitalista, entre outros temas.
Esta também é a segunda edição realizada no continente africano, o que envolve uma série de particularidades. O esforço do Fórum Social Africano para realizar uma atividade deste porte em meio a dificuldades de várias ordens deve ser reconhecido. Há questões financeiras (inclusive é importante que a busca por financiadores continue), de infra-estrutura, entre outras. Existe também uma grande expectativa pela participação das(os) afrodescendentes brasileiras(os), tanto por conta da identidade cultural como das diversas parcerias que têm sido estabelecidas entre organizações brasileiras e africanas, o que coloca para os movimentos brasileiros uma necessidade grande de mobilização de participantes.
Há também a questão simbólica. O continente africano, assim como a América Latina, é extremamente cobiçado por potências imperialistas de olho em suas inúmeras riquezas. Ao mesmo tempo, em outro paralelo com nosso continente, possui uma gama de movimentos e organizações que pensam de forma autônoma e formulam alternativas para superar as desigualdades sociais históricas, agravadas pelas políticas neoliberais levadas a cabo por organismos financeiros internacionais.
O nosso papel nesta articulação é fundamental. Não temos o poder de mudar o planeta, mas todas as condições e credibilidade para indicar e iniciar os caminhos. Os movimentos sociais e organizações da sociedade civil brasileira, na sua maioria, provavelmente não o percebem, mas possuem um papel particularmente relevante e determinante na definição de estratégias e de alternativas de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente sustentável. Justamente por serem organizações e movimentos sociais de países emergentes, novos atores do capitalismo mundial, por terem a possibilidade de atuar como contra-poder em países onde escolhas importantes para o mundo estão sendo feitas. Por isso e por outras razões, a participação das organizações e movimentos brasileiros no FSM em Dacar e a sua articulação com os movimentos do resto do mundo é fundamental.
Três orientações estratégicas do FSM em Dacar podem ser destacadas: o aprofundamento da crítica ao sistema capitalista, a valorização das lutas existentes pelo mundo e a promoção de alternativas democráticas. O grande desafio agora é traçar um futuro para a humanidade, um caminho para um novo universalismo (ou novos universalismos), a promoção de uma nova cultura política.
Assim como nas edições anteriores, uma marcha abrirá o evento (06/02/11). O segundo dia será o Dia da África e das suas diásporas, com atividades autogestionadas e outras co-organizadas, que prometem ser a marca desta edição de Dacar. Os dias 8 e 9 serão reservados para atividades autogestionadas propostas pelas organizações e divididas em doze eixos de grandes lutas. Assembleias temáticas e de convergência ocorrerão nos dois últimos dias, com uma plenária final, uma assembleia das assembleias, para definição de convergências globais.
O FSM ainda é um processo político inacabado, com suas contradições, mas também suas extraordinárias forças, voltadas para a reinvenção da política e do futuro do mundo. Dos movimentos sociais e ONGs espalhados pelo planeta dependerá o futuro do FSM, assim como a qualidade da nossa contribuição para construção deste outro mundo. Vamos apostar nisso e nos encontramos em Dacar.
Fonte: Abong