Movimento durou 24 horas e atingiu agências e unidades em todo o país. Registre-se a participação decisiva da Fenae nessa mobilização histórica que também teve a participação do Sindicato dos Bancários da Paraíba

Há 39 anos, o primeiro movimento de alcance nacional dos empregados da Caixa Econômica Federal aconteceu em 1985 e foi decisivo para a conquista de duas importantes reivindicações, que prevalecem até hoje: a jornada das 6 horas e o direito à sindicalização. Foi uma greve histórica de 24 horas em 30 de outubro, de 100% de adesão dos trabalhadores do banco público, em muitos locais Brasil afora. Naquele ano, em meio a efervescência de movimentos sociais durante a chamada transição democrática, o país vivia o período final da ditadura militar iniciada com o golpe de Estado de 1964.

Em tempos de regime militar, a greve das 6 horas pretendia reinstituir a dignidade e a cidadania dos trabalhadores da Caixa, num movimento duplo de resistência e de afirmação. A partir de protestos, encontros, manifestações, articulações políticas em nível institucional e paralisações pontuais, a mobilização das 6 horas se enraizou entre os empregados do banco público de maneira forte e consistente, tendo à frente lideranças das entidades sindicais e associativas.

Houve até mesmo um ato em frente ao edifício-sede da Matriz, em Brasília – no dia 21 de outubro de 1985, no qual o grito ecoado foi reivindicatório: “de Norte a Sul / o Brasil aqui está / se não vierem as seis horas e o direito à sindicalização / a Caixa vai parar”.

À época, os empregados da Caixa eram chamados de economiários e, devido a isso, não integravam a categoria bancária. Ao contrário dos demais bancários, tinham jornada de trabalho de 8 horas diárias, ao mesmo tempo que não eram vinculados a sindicatos.

Para mudar essa situação esdrúxula, a categoria passou a se mobilizar. No 1º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (1º Conecef), realizado em 20 de outubro de 1985, em Brasília (DF), foi deliberada a deflagração da greve que obteve a mudança da jornada e o direito à sindicalização, ocorrida no dia 30 de outubro daquele ano. Esta foi a primeira paralisação nacional dos empregados da Caixa e um marco no processo de organização desses trabalhadores para lutar por melhores condições de trabalho e em defesa do banco público/social.

Graças à união da categoria, o movimento na Caixa assegurou a tramitação na Câmara dos Deputados, em regime de urgência, do projeto de lei que determinou a jornada das 6 horas. Na sequência, outro projeto garantiu o direito dos empregados do banco de se sindicalizarem como bancários e assegurarem diversos direitos.

O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, protagonizou aquele momento histórico para o pessoal da Caixa. Ele afirma sentir-se orgulhoso de ter feito parte de tão importante história da luta. “Foi o início de um processo que não para, por mais direitos e contra qualquer ameaça de privatização do patrimônio público. Esse movimento serve ainda de referência histórica para a continuidade da luta por melhores condições de trabalho e por atendimento adequado à população”, resumiu.

Hoje, segundo Sergio Takemoto, a mobilização pelo respeito à jornada das 6 horas sem redução salarial se articula com a luta pela contratação de mais empregados, “medida fundamental para suprir o atual deficit de 14 mil trabalhadores”.

Como tudo começou

O movimento pela jornada das 6 horas foi deflagrado no início dos anos de 1980. Exatamente entre 1980 e 1981, a Caixa realizou concurso público para contratar 20 mil escriturários básicos, que ingressaram na carreira no banco com salário 50% inferior ao do pessoal que já trabalhava na estatal. A diferenciação salarial levou os trabalhadores a reivindicarem isonomia de tratamento.

Chega-se a 1984. Face à pressão fortemente articulada nacionalmente, a direção do banco promoveu dois processos seletivos que permitiram o enquadramento de apenas 4 mil dos 20 mil escriturários básicos. Um grupo de bancários, sobretudo em São Paulo, se recusou a fazer as provas.

O protesto paulista culminou na demissão de alguns trabalhadores e provocou, como resultado direto dessa situação, uma grande mobilização não só pelo enquadramento dos 20 mil escriturários aprovados no concurso, mas também pela jornada das 6 horas, pelo reconhecimento dos empregados da Caixa como bancários e pelo direito à sindicalização. Uma mudança significativa e que demonstra a importância dos sindicatos e da organização dos trabalhadores.

Paralisação, 30 de outubro de 1985

A greve pelas 6 horas foi construída a partir da mobilização dos auxiliares de escritório, que buscavam ser enquadrados ou reconhecidos como escriturários básicos na carreira técnico-administrativa e não mais como economiários. A data da paralisação, em 30 de outubro de 1985, foi aprovada no 1º Conecef, realizado em Brasília com mais de 500 participantes.

A greve de 24 horas foi o primeiro movimento de alcance nacional da história do banco público, e teve a participação decisiva da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), fundada em 29 de maio de 1971.

Depois de muitas idas e vindas institucionais, a lei que estabelecia a jornada das 6 horas para o pessoal da Caixa foi sancionada em 17 de dezembro de 1985. No dia seguinte à sanção presidencial, o “Diário Oficial da União” trazia ainda a garantia do direito à sindicalização de todos os empregados da Caixa, viabilizada com a alteração do parágrafo único do artigo 556 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Em 1º de janeiro de 1987, entra em vigor a jornada das 6 horas.

“É uma data muito significativa para a categoria bancária, especialmente para as empregadas e empregados da Caixa que foram até as últimas consequências nessa luta histórica pela conquista da jornada de seis horas. Essa luta também foi encaminhada pelo Sindicato dos Bancários da Paraíba com muita força aqui em João Pessoa (vide foto ilustrativa da matéria) e nos orgulhamos da postura combativa da nossa entidade sindical. Juntos somos mais fortes!”, comemorou o presidente Lindonjhonson Almeida.

Fonte: Seeb-PB, com Fenae.

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