Mulheres reforçaram a urgência da intensificação da luta contra a violência e a desigualdade de gênero, além da importância de as mulheres ocuparem mais espaço nas entidades sindicais – Mulheres sindicalistas de todo o continente americano realizaram na quarta-feira (2) a 6ª Conferência da UNI América Mulheres. Com o tema “As mulheres defendem seus direitos e constroem um novo futuro”, elas discutiram o futuro do trabalho tendo em conta a atual conjuntura de violência de gênero, desigualdade salarial e de ataques aos direitos trabalhistas e sociais que foram construídos ao longo de décadas de história e luta.
Além da defesa dos direitos já conquistados, as mulheres atuarão no sentido de avançar em novos pontos, como a ampliação do número de mulheres nos sindicatos; a igualdade salarial entre homens e mulheres; o fim da violência de gênero; e a formação e capacitação para um novo mundo do trabalho, que está cada vez mais digitalizado e caracterizado pelo home office, principalmente por conta da pandemia.
“Essas preocupações foram debatidas ao longo do dia e documentadas através de três moções que abordaram as prioridades estratégicas da UNI; a igualdade de gênero nos sindicatos; e o combate à violência, com destaque para a convenção 190 da OIT, sobre violência e assédio no trabalho”, informou a vice-presidenta da Uni Américas Mulheres, Neiva Ribeiro, que é também secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
“40 por 40”
Uma das principais metas definidas na conferência, chamada de “40 por 40”, estabelece que a UNI (Union Internacional Networking) tenha 40% de mulheres em todos os comitês e espaços decisórios em todas as regiões onde se organiza: América, África, Europa, Ásia e Pacífico. A meta da UNI é chegar à paridade em 2022.
“A luta das mulheres em todos os países é fazer com que essa recomendação da UNI seja seguida pelas entidades filiadas e cada vez mais mulheres participem dos sindicais, das mesas de negociações e dos espaços onde são formuladas as políticas públicas”, explicou Neiva, antes de citar a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o Comando Nacional dos Bancários e o Sindicato dos Bancários de São Paulo como exemplo.
Violência contra a mulher
A secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Elaine Cutis, também ressaltou a iniciativa da categoria bancária brasileira em combater a violência doméstica através de ações como criação de canais de denúncia e acolhimento de mulheres nestas condições.
“Dados sobre violência doméstica são tratados com indiferença no mundo coorporativo, ainda que influenciem diretamente na nossa economia, já que mulheres vítimas de violência perdem em média 18 dias de trabalho ao ano, o que impacta, em volume salarial, quase R$ 1 bilhão ao ano no Brasil”, informou Elaine. “Por isso, o movimento sindical bancário buscou analisar como a violência afeta negativamente a carreira das trabalhadoras e como a questão era tratada dentro dos bancos, constatando que não havia políticas internas relacionadas à violência contra a mulher e o despreparo dos gestores para tratar o tema. O que culminou com a conquista de canais criados pelos bancos para o atendimento às bancárias vítimas de violência doméstica”, completou.
Em março de 2020, em mesa de negociação, as bancárias garantiram um acordo inédito com os bancos para que eles criassem serviços de atendimento às bancárias vítimas de violência doméstica. Em setembro, o acordo foi incorporado de forma definitiva na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria.
“Além do canal de atendimento sigiloso para denúncias, também faz parte do acordo a conscientização e treinamento de funcionários e ações de apoio psicológico, transferência de local de trabalho (a pedido da bancária ou recomendação de segurança), flexibilização de horários, abono de ausências em virtude de violência sofrida e até mesmo linhas de crédito especiais”, informou a dirigente da Contraf-CUT. No último trimestre, 35 bancárias buscaram atendimento.
Debates na conferência
Tiveram destaque na 6ª Conferencia as mobilizações de combate à violência de gênero que ocorreram em todo o mundo, demonstrando que as mulheres em todas as partes estão se unindo contra o machismo, o feminicídio, a LGBTfobia, como por exemplo o “Ninguna a menos”, na Argentina, Uruguai e Chile, “Zapatos Rojos”, no México, “Me too”, nos Estados Unidos, e o “Ele Não”, no Brasil.
Ao final da conferência foi aprovado o plano estratégico e feita a eleição da nova presidenta Thereza Mprtmer, do Caribe, que substitui Alejandra Stoup, da Argentina.
Fonte: Contraf-CUT