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Embalado pelo papel que assumiu durante a crise, de compensar o encolhimento do crédito nos bancos privados e no mercado financeiro, o BNDES liberou um volume recorde em financiamentos e compra de ações de empresas em 2009. Foram desembolsados R$ 137,3 bilhões, 49% acima dos R$ 92,2 bilhões em 2008.
O volume é 78% maior do que Petrobras e Vale, as duas maiores empresas privadas do país, planejavam investir neste ano (R$ 77 bilhões). Representa cerca de 5% do que o Brasil gera em riquezas em um ano (considerando o PIB de 2008, que foi de R$ 2,9 trilhões).
"Foi um desempenho memorável e fantástico. Enquanto o sistema bancário estava em retração e seletividade, devido à crise, ajudamos a expandir o crédito", diz o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Segundo o economista, à frente do banco desde 2007, o valor foi puxado por algumas ações emergenciais, como a liberação de capital de giro para empresas (algo que o banco tradicionalmente não faz) e a criação de linhas de financiamento para a produção e compra de máquinas e equipamentos a praticamente juro zero.
Mas o desempenho não deverá se repetir em 2010, diz Coutinho, que prevê, no próximo ano, liberar R$ 126 bilhões.
"De forma gradual, os bancos e o mercado financeiro voltarão a assumir o papel de financiar empresas que tivemos que ter na crise. Em 2010, será investimento na veia. Reassumiremos o papel clássico de financiar o crescimento da capacidade de produção do país, acompanhando o aumento da demanda, eliminando pressões inflacionárias." Segundo a teoria econômica, quando a demanda de um país por bens e serviços é maior que a capacidade produtiva, gera-se pressão inflacionária; assim, investir na capacidade de produção garante expansão sustentada.
O desembolso a pequenas e médias empresas cresceu 24%, abaixo do ritmo geral do banco. Descartando o efeito do empréstimo à Petrobras, que levou R$ 25 bilhões do BNDES, as pequenas e médias ficam ligeiramente acima da média geral, que cresceu 21%, de R$ 92,2 para R$ 113,2 bilhões.
Sobre o papel de indutor de criação de grandes grupos nacionais, Coutinho disse que se trata de um "processo natural", previsto na política industrial desenvolvida e apresentada no ano passado. Segundo ele, "muita coisa já foi feita e, em algum momento, não haverá mais o que fazer", e que o processo continuará onde houver empresas competitivas.
Neste ano, o BNDES apoiou a fusão da Votorantim com a Aracruz, criando a Fibria, para quem liberou R$ 2,4 bilhões; a fusão de Sadia e Perdigão na Brasil Foods, com R$ 750 milhões aplicados na compra de ações da nova empresa; e a fusão de JBS e Bertin, em que participará com a compra de ações em uma oferta em breve.
A indústria foi o setor que mais levou recursos. Foram R$ 60 bilhões, 54% a mais do que em 2008, alta puxada principalmente pelos R$ 25 bilhões à Petrobras. O setor de infraestrutura levou R$ 46,5 bilhões, 32% mais que em 2008.
Fonte: SAMANTHA LIMA – FOLHA DE S.PAULO