Crise, comunicação, CPI da Petrobras, emprego, ambiente. Esses foram apenas alguns dos temas abordados pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, em encontro de quase duas horas com profissionais de comunicação de vários sindicatos da Grande São Paulo, promovido pela Rede Brasil Atual. Os jornalistas da Contraf-CUT participaram do encontro, realizado no dia 22 de junho.

Artur destacou que a capacidade do Brasil de sair da crise está diretamente relacionada ao emprego. "Estamos bem preparados para lidar com a crise, tendo sempre em vista a defesa do emprego, da renda e dos direitos dos trabalhadores", disse, destacando a importância da mobilização das lideranças sindicais para acompanhar, na Comissão Especial da Câmara Federal, no próximo dia 30, a votação do relatório favorável à redução da jornada de trabalho sem redução de salários. A iniciativa, que altera a jornada oficial no Brasil de 44 para 40 horas semanais pode gerar até 2,2 milhões de empregos, segundo o Dieese.

Para o dirigente sindical, está no centro dos debates a discussão de um novo modelo de desenvolvimento para o mundo. "Temos que discutir padrão de consumo. A questão ambiental é fundamental."

Comunicação

Artur destacou a importância de uma rede de comunicação diferenciada, que tenha relação mais estratégica e comprometida com a classe trabalhadora, para "pensar o pós-crise" dentro de uma perspectiva de desenvolvimento nacional inclusivo. Ao abordar o tema, afirmou que aquela reunião de jornalistas e assessores de comunicação em torno de temas comuns demonstrava amadurecimento do movimento sindical e citou a criação e consolidação da Revista do Brasil e da Rede Brasil Atual como evidências disso. "Levamos 25 anos para fazer uma revista. Por quê? Porque ficava aquela discussão sobre qual o dirigente deveria ter foto na capa", ironizou. "Avançamos muito."

A secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, também participou da entrevista e, como integrante da Comissão Organizadora da Conferência Nacional de Comunicação, salientou que o envolvimento do sindicalismo cutista, em coordenação com as demais centrais e movimentos sociais, será um elemento decisivo para a vitória sobre os interesses mercantis.

"Infelizmente, temos concessões públicas que viraram negócios privados, pois os seus detentores se colocam como donos, manipulando e deformando a realidade que transmitem a milhões. O fortalecimento dos nossos instrumentos de comunicação servirá para fazermos um grande mutirão de debate sobre sua democratização, cumprindo um papel fundamental na disputa de hegemonia com os setores conservadores", disse ela.

Petrobras

Artur falou sobre as 14 manifestações realizadas pela CUT em todo o Brasil para debater a realidade por trás da proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Petrobras. "O objetivo é claro: impedir a mudança do marco regulatório, que garantirá as imensas riquezas do pré-sal para o povo brasileiro – investimentos de US$ 174 bilhões – e será um divisor de águas do que é o país, possibilitando a diminuição das desigualdades", afirmou.

"Com essa CPI, que quer inviabilizar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o governo Lula e a própria Petrobras, corremos o risco de passar os próximos seis meses discutindo licitação de parafuso", frisou Arthur.

Emprego

O peso que o movimento sindical deve jogar sobre a luta pela ratificação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) também foi pauta da entrevista. "Esse debate é fundamental para denunciar a alta-rotatividade nas empresas e as demissões que estão sendo feitas tendo a crise como desculpa."

Artur destacou medidas jurídicas adotadas, como a ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), impetrada pela CNM e Contag, sob a argumentação de que o presidente Fernando Henrique feriu a legislação ao denunciar a 158, em 1996, em vez de encaminhá-la ao Congresso.

"Também estamos em contato com a Anamatra (associação dos magistrados) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Federal para produzir um projeto de lei que traga o conteúdo da 158", relatou Artur, lembrando também do debate que deve ser feito em torno da responsabilidade social de bancos públicos e fundos de pensão que investem em empresas que estão demitindo, por exemplo.

Ambiente

A posição da CUT sobre a Medida Provisória 458, conhecida como MP da grilagem ou MP da motosserra, é pelo veto dos três artigos considerados nocivos à Amazônia. "Também queremos formar cipeiros e sindicalistas capazes de promover o debate da questão ambiental", defendeu Artur.

Frustração

O presidente da CUT confessou que a maior frustração da sua vida "será ter passado os oito anos do governo Lula sem ter feito a reforma sindical". Mas está trabalhando nisso. "O projeto que acaba com o imposto sindical e o substitui pelo negocial aprovado em assembléia deve sair ainda esse semestre", acredita.

Fonte: Contraf-CUT, com Seeb São Paulo