Organização e mobilização da categoria e da classe trabalhadora é a tarefa principal da entidade e de seus sindicatos e federações filiados
Com o tema “Reconstruir o Brasil que a gente quer”, começou na tarde desta sexta-feira (1º), o 6º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em São Paulo. Em decorrência da pandemia da covid-19, a atividade está sendo realizada em formato híbrido.
A presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, ressaltou em sua fala a importância do lema do 6º Congresso: reconstruir o Brasil que a gente quer. “Essa é uma tarefa de todos nós, e se ficarmos parados, não vamos conseguir”, alertou. “O Bolsonaro, junto com o golpe de 2016, destruiu o Brasil para retirar direitos, para empobrecer o país, para implementar um país para poucos”, disse.
Para Juvandia, o grupo que hoje ocupa o poder “atua como um Robin Hood ao contrário, gerando ambiente de negócios para o capital estrangeiro, e quem paga a conta é a população, que está voltando a cozinhar com álcool, ou deixando de cozinhar, porque não tem o que comer. Essa é a lógica perversa desse golpe, entregar o país”.
Por isso, Juvandia enfatizou a importância das eleições de 2022. “A eleição de um candidato comprometido com os trabalhadores é importante para o Brasil, para a democracia, para a América Latina, para o mundo e também para termos desenvolvimento com distribuição de renda, geração de emprego e conteúdo nacional. Temos que lutar por uma reforma tributária que distribua renda, para que a educação não seja privilégio. Esse é nosso sonho, e nós temos que fazê-lo, e não esperar que alguém faça por nós”.
A presidenta também incentivou as mobilizações necessárias para este ano de 2022, que será de muita luta. “Passamos anos resistindo, mas este ano acordamos com a ideia de que vai dar certo. Vamos sair deste congresso com um plano de luta. Temos que lutar para que todos tenham comida, casa, trabalho, para que haja igualdade de gênero. É fundamental a gente lutar por isso, temos que combater o machismo, a violência contra a mulher, a violência contra o jovem negro. Temos que reconstruir o Brasil que a gente quer”.
Por meio de vídeo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também destacou a situação do país e necessidade de mudanças. “Nós precisamos ter muita sensibilidade para tirar o Brasil da situação que ele se encontra, pois ele foi semidestruído e vocês sabem que para construir uma coisa, por menor que seja, a gente leva anos, e para destruir leva um minuto. E este fascista que está governando o Brasil, junto com seu ministro da Economia, querem privatizar tudo. E uma categoria do porte como a bancária é que pode resistir e impedir que isso aconteça”, disse o ex-presidente (veja abaixo o vídeo com a fala na íntegra).
Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, revelou estar muito feliz por voltar ao mesmo lugar onde há quatro anos a categoria estava reunida para ver o início da “destruição da classe trabalhadora, de todo um projeto”, com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Foi um dia muito triste por ver um companheiro sendo preso e lembrar de outros companheiros que estavam presos, como o Vaccari que está aqui hoje”. Entretanto, Ivone acredita que hoje estamos vivendo um outro momento. “A próxima direção da Contraf-CUT, que será eleita domingo, vai ter todo o desafio de reconstrução do país. É um momento muito importante para nós. É importante lembrar que os bancários têm um formato de organização único no mundo. Isso é muito importante para nós e para todos os outros trabalhadores. Nós conseguimos fazer algo que muitas categorias não conseguem, que é fazer a discussão da nossa campanha no Brasil todo. Não é a direção da Contraf que determina o que está na nossa minuta, são os bancários na base, desde a nossa consulta, que neste ano vai começar daqui a algumas semanas. Fico muito feliz de participar deste congresso neste momento de virada, no qual temos a chance de nos organizar para uma ótima campanha nacional, ganharmos o governo e voltarmos a ser feliz, voltarmos a ser respeitados, representados e valorizados como trabalhadores que somos”.
Organização da classe trabalhadora
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, lembrou que as centrais sindicais têm sofrido um forte ataque do governo Bolsonaro, que tenta sufocar a luta da classe trabalhadora. “Eles estão destruindo o Brasil. Para combater isso, temos o desafio de construir 6 mil comitês de luta e organização dos trabalhadores e mostrar para eles que as eleições são importantes para voltarmos a crescer, com igualdade. Mas, antes das eleições, temos que apoiar a população, que está passando fome, sem emprego. Temos que ser referência para a população para impedir que haja uma nova perda devido à campanha subterrânea e cheia de mentiras”, disse, fazendo referência ao vídeo sobre fake news apresentado momentos antes.
Edson Carneiro, o Índio, secretário geral da Intersindical, também elogiou a unidade do movimento. “É importante ter todas as tendências políticas juntas aqui, pois já lutamos todos juntos, contra a Lava-Jato e todas as injustiças”. Índio também lembrou “das dificuldades que teremos, será difícil derrotar Bolsonaro”. Para ele, porém, também “é a hora de restabelecer a esperança do nosso país, que passa pela reversão do teto de gastos, da reforma trabalhista, por valorizar as empresas públicas e parar com as privatizações”.
O presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Hermelino Neto, representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), acredita que o compromisso que todos os bancários precisam assumir é o de realizar uma grande campanha nacional em 2022. “O principal ponto que iremos trabalhar nessa campanha é eleger um presidente, senadores, deputados e governadores comprometidos com os direitos dos trabalhadores. Essa vai ser a principal bandeira na nossa campanha. Nós temos de definir isso nas nossas conferências regionais, estaduais e nacional. Não adianta eleger só um presidente progressista, se a gente não conseguir governar esse país do jeito que tem de governar. A nossa marca ter de ser a marca da unidade. Porque com unidade nós iremos avançar. É necessário que a gente se preparar. É necessário que as multidões, as massas ganhem às ruas, pois só assim daremos uma grande vitória ao povo e um recado para os milicos, para os milicianos, para os golpistas de que o povo quer democracia, o povo quer direitos, o povo quer defender a soberania nacional”.
Sérgio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), disse que o mote escolhido para o 6º Congresso “Reconstruir o Brasil que a gente quer” não poderia ser mais oportuno. “Sem dúvida nenhuma nós precisamos reconstruir o nosso país. Desde o golpe contra a presidenta Dilma, nós vimos como os avanços que a gente teve nos governos democráticos que vivemos num curto período de tempo, foram destruídos. Nós temos 14 milhões de desempregados. Mais da metade da população vivendo em ‘insegurança alimentar’. Em 2014, o Brasil saiu do mapa da fome, dois anos depois do golpe, o Brasil voltou ao mapa da fome. Ficou claro que é muito fácil destruir o que foi construído a duras penas. Por isso, nós precisamos reconstruir esse país. Nós precisamos fazer uma reconciliação com a democracia, nós precisamos fazer uma reconciliação com os direitos dos trabalhadores, nós precisamos reconstruir um país mais justo, mais solidário, precisamos de justiça social no nosso país. Não dá mais para conviver com este modelo que estamos atravessando. Não dá também para aceitar este discurso de que precisamos privatizar as empresas públicas. Enquanto houver um trabalhador, uma trabalhadora que não tenha uma moradia digna, enquanto existir uma rua que não tenha saneamento básico, enquanto houver uma criança fora de escola, a Caixa Econômica será indispensável para esse país. Por isso nós precisamos lutar pela manutenção da Caixa 100% Pública, precisamos lutar pelas empresas públicas e não é possível com esse governo Bolsonaro, não é possível com essa elite retrógrada que a gente tem nesse país. Nós precisamos nos organizar para mudar. E para mudar, temos de ter nossa voz. Não vão nos calar como tentaram recentemente, quando a cultura e a juventude deram a resposta”, disse em referência ao festival de música Lollapaloosa. “Por isso vamos gritar sem parar, em todos os cantos, fora Bolsonaro!”, completou.
O diretor regional da UNI Américas, Márcio Monzane, lembrou a participação da Contraf-CUT na missão de observação das eleições na Colômbia, com observadores credenciados do movimento sindical e que lá se pode ver que existem muitas fraudes para impedir que candidatos comprometidos com a classe trabalhadora vençam as eleições. “Vimos as dificuldades que vamos enfrentar para reconstruir o Brasil que a gente quer. Mas, estamos juntos com vocês para ajudar na organização das trabalhadoras e dos trabalhadores. Para isso, temos que estar sempre nas nossas bases, conversando com elas e com eles para entender quais são suas necessidades e suas propostas. Temos que mostrar que os sindicatos são parte importante desta reconstrução”, disse.
Unidade
Adriana Nalesso, presidenta da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro (Federa-RJ), representante da corrente Articulação Bancária, destacou os desafios da categoria para 2022. Para ela, o primeiro grande desafio é “derrotar Bolsonaro e o que ele representa, e eleger políticos comprometidos com os trabalhadores”. Mas lembrou que também será uma grande luta manter “o que já conquistamos como categoria em nossa Convenção Coletiva, como a importante a cláusula social, a pauta contra a violência doméstica, nosso programa Basta!”. De acordo com Adriana, “outro desafio é pensar nos avanços tecnológicos nos bancos, que precarizam as condições do trabalho, no qual o bancário que atua remotamente, pode até ganhar um pouco mais, mas perde benefícios. Nós conseguimos manter os ganhos da categoria, num momento muito adverso, temos que manter as conquistas”.
O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, representante da CSD, Mauro Salles, lembrou dos companheiros que faleceram devido à política que não se importa com a vida e a saúde dos trabalhadores. “Neste tempo enfrentamos várias batalhas, perdemos algumas. Sofremos muitos ataques, como a tentativa de aumentar nossa jornada. Conseguimos vencer muitas com a coordenação da Contraf-CUT, que é uma rede de sindicatos e toca o processo de negociação com os bancos. Isso não é fácil”, disse. Mauro também ressaltou o papel da Contraf-CUT para o debate eleitoral e para mostrar à categoria a importância de elegermos um candidato comprometido com os trabalhadores. “Temos que mobilizar não apenas os bancários, mas todo o povo nas ruas, escolas em todos os lugares para derrotarmos todos estes que atacam e tiram nossos direitos”, disse.
Jeferson Meira, o Jefão, secretário de Relações do Trabalho da Contraf-CUT, representante da corrente política Enfrente, lembrou que o movimento sindical sempre teve uma tarefa muito árdua. “Não é agora que a gente vai falar que temos uma tarefa mais árdua ainda. Mas, de fato, nós temos. Lidar com a desconstrução de um país não é fácil. O Brasil vive um período de calamidade pública desde o golpe que retirou a companheira Dilma da Presidência da República. Ali nós entramos num estado de calamidade pública permanente. A desconstrução ideológica, cultural científica e humana de um país é muito mais violenta do que outros ataques, porque nós precisamos fazer uma retomada de consciência da população. É um exercício que teremos de fazer ao longo desses anos. Retomar a consciência da população, retomar a consciência da classe trabalhadora para que tenhamos noção de que lado nós estamos. Nós temos que ter uma atenção especial, não só para a Presidência do país, mas também para a reconstrução do Congresso Nacional. Este é o exercício de obrigação do movimento sindical e da esquerda como um todo. E acho que nós faremos muito bem, pois já mostramos isso ao longo do tempo. Eu tenho orgulho de compartilhar essa luta com companheiros que passaram por momento muito difíceis”. Antes de encerrar ele ainda agradeceu a atual direção da Contraf-CUT por “toda a harmonia, respeito e tranquilidade desta gestão. Agradecer por deixar a gente trabalhar e cumprir a missão que nos foi dada”.
O presidente da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo, representante da corrente Fórum, Nilton Damião Esperança, o Niltinho, defendeu a unidade da categoria. “Todas as correntes fazendo parte da unidade da Contraf-CUT são muito importantes, pois tiramos de lado a vaidade e o interesse pessoal, neste momento em que temos que mudar o governo do país”. Para Niltinho, “se não houver unidade, não haverá força nas mesas de negociação, pois a unidade dos banqueiros todo mundo percebe”. Segundo ele, no atual momento de desgoverno no Brasil, essa mesma unidade sindical será importante na sociedade para “fazermos a diferença, não apenas com a eleição do presidente, mas também de parlamentares comprometidos com os trabalhadores”.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de Campinas e representante da corrente política Unidade, Ana Stela Lima, lembrou das comemorações pelos 100 anos do PCB, ocorrido em março. “Foi onde começou o movimento operário, que se desenvolveu ao longo dos anos, mas tomou um tombo com a reforma trabalhista. Mas, nós bancários conseguimos manter nossa força e capacidade de financiamento da luta. Por isso, temos uma responsabilidade de contribuir com a organização da classe trabalhadora. Também temos que conseguir levar nossa forma de se organizar, com respeito e solidariedade, a todas as correntes políticas e a todas as bases sindicais”, disse.
Até domingo (3), os delegados, eleitos em seus sindicatos, definirão a nova direção executiva e seus suplentes, o conselho fiscal e seus suplentes e o conselho diretivo da Contraf-CUT. Eles debaterão ainda alterações estatutárias e a linha política e organizativa da Confederação no próximo mandato, com duração de quatro anos.
Fonte: Contraf-CUT