"Vamos receber nesse acordo eu, minha mãe e meus irmãos", diz Francisco Vieira, neto do fundador do banco e irmão de Fernanda Vieira Richa, mulher do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).
Segundo ele, que é sócio da holding Autoplan e possui investimentos em empresas que prestam serviços a instituições financeiras, há outros integrantes da família na ação. "Muitos fizeram poupança com ações do Bamerindus. Vão optar por receber agora a morrer lutando", comentou.
Depois de quase 14 anos e oito ações judiciais movidas pelos acionistas, o FGC propôs o pagamento de R$ 7,74 por ação do banco e R$ 5,52 por ação da Bamerindus Participações, que em 1997 valiam R$ 12,90 e R$ 9,00, respectivamente – ou seja, o pagamento será de 60%.
"Queríamos receber os R$ 12,90, mas acho que agora teremos um acordo definitivo", diz o vice-presidente da associação, Jair Capristo. Como esses minoritários possuem cerca de 8 milhões de ações das duas empresas, o valor do desembolso é estimado em cerca de R$ 50 milhões.
O FGC ainda é credor de mais de R$ 5 bilhões da massa falida do Bamerindus e, se os minoritários encerrarem suas ações na Justiça, o fundo pode leiloar ativos que estão bloqueados e pagar credores, ele inclusive.
Fora da proposta que será votada estão, por enquanto, ex-diretores do banco e membros da família que ocupavam cargos no Bamerindus, como o ex-controlador, José Eduardo Andrade Vieira, e a irmã dele, Maria Christina de Andrade Vieira, atual presidente da Fundação Cultura de Curitiba.
Zé Eduardo, ou Zé do Chapéu, como era conhecido, possui 14 ações na Justiça que questionam a intervenção do Banco Central e seus desdobramentos. Hoje, com 72 anos de idade, ele vive em Londrina, norte do Paraná, e dedica-se à administração do jornal "Folha de Londrina".
"O custo emocional foi grande. Não tenho conta em banco. Vivo em suspenso", reclama Maria Christina, que era diretora de infraestrutura e fazia parte do conselho de três empresas ligadas ao Bamerindus. Com a proximidade da solução para os minoritários, ela aguarda as novas etapas que virão. "Agora vai andar. É o que tenho ouvido." Ela lembra de um acerto que foi feito três anos atrás entre os envolvidos no processo, entre eles o FGC, que tem como condição o fim das ações judiciais. E espera receber por suas ações do banco.
O advogado de Zé Eduardo, Harry Françóia Júnior, afirmou que o cliente não vai impor restrição ao pagamento dos minoritários e não quer inviabilizar o acordo com o FGC. "É o início para resolver a liquidação do banco", comentou. Sobre os questionamentos legais do ex-banqueiro, ele acrescentou não se tratar apenas de assunto financeiro. "Tem aspecto moral."
Os problemas recentes enfrentados pelo banco PanAmericano chegaram a adiar a solução para os minoritários do Bamerindus, porque exigiram atenção de pessoas envolvidas no processo.
Para os próximos passos, após a aprovação da proposta de compra das ações, espera-se que o FGC envie cartas aos cerca de 1,2 mil membros da associação para que cada um receba o dinheiro. Além deles, há outros 53 mil investidores do banco, com lotes menores de ações, que, caso queiram, poderão aderir à associação nos próximos dias. "Foi como tirar leite de pedra. Uma grande vitória", diz James Marins, advogado da associação.
Ele moveu a primeira ação ainda em 1997, pedindo a suspensão da venda para o HSBC. Perdeu, mas na sequência questionou outros pontos do contrato, como a avaliação dos imóveis. Um deles, lembra, foi o fato de que o HSBC pagou R$ 380 milhões pelos ativos intangíveis do Bamerindus, parcelados em sete anos, e recebeu valor semelhante à vista, como verba de reestruturação.
Fonte: Valor Econômic / Marli Lima