Presente em Genebra, onde representa a Central Única dos Trabalhadores (CUT) na reunião para discutir o acordo comercial Mercosul-União Europeia (UE), o secretário-adjunto de Relações Internacionais da Central, Ariovaldo de Camargo, criticou a falta de transparência no diálogo e classificou como a absurda a ausência das organizações sindicais no debate.

Camargo também participou de reuniões com parlamentares do parlamento europeu, com a Comissão Econômica da União Europeia, negociadores da UE e do Mercosul e, por último, com a Central Sindical Internacional (CSI).

Ao lado de lideranças da Confederação das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) e da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), o dirigente alertou que há um processo de entrega do patrimônio público e submissão na região em relação aos europeus.

“Governos abertamente neoliberais, como os de Macri, na Argentina, e de Cartes, no Paraguai, se somam a golpistas, como o de Temer, para sinalizarem com uma proposta inaceitável, inteiramente desequilibrada em favor da UE”, destacou o dirigente cutista, que fez a denúncia aos ataques perpetrados no Brasil contra os direitos dos trabalhadores, com destaque para a Reforma Trabalhista.

Segundo ele, as negociações ocorrem sem transparência e o fato de o governo brasileiro não aceitar o compromisso de ratificar as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em especial a convenção 87, que trata da liberdade e autonomia sindical, mostra que as atuais lideranças sul americanas se dispõem a derrubar qualquer direito para entregar o país ao capital estrangeiro.

Há uma compreensão comum entre os sindicalistas da CCSCS que o acordo, como todo pacto comercial transnacional, deve atentar contra a industrialização e o desenvolvimento soberano, com consequências extremamente negativas para a geração de empregos e salários dignos e contra os direitos sociais e trabalhistas.

Por ser discutido a portas fechadas, sabe-se muito pouco sobre o compromisso, mas  fala-se nos corredores sobre termos que apontem para a desnacionalização das empresas, a pressão para redução da proteção trabalhista e a fuga de capitais

Atualmente, compõem o Mercosul Brasil, Argentina, Paraguai e Paraguai. Vale lembrar que em 2002, a CUT e parceiros dos movimentos sociais promoveram um plebiscito para saber a opinião dos brasileiros em relação à Área de Livre Comércio das Américas. Mais de 10 milhões de pessoas votaram e 98,33% delas disseram não à proposta.

Santiago Maldonado

Os dirigentes sindicais aproveitaram a oportunidade para expressar a mais ampla solidariedade a Santiago Maldonado, jovem argentino de 28 anos, “desaparecido” desde o dia 1 de agosto enquanto participava de uma manifestação na Patagônia, em apoio aos índios mapuches, violentamente reprimida pela guarda nacional.

O protesto mapuche – no qual foram presas 23 pessoas – reivindicava a restituição de suas terras ancestrais, das quais foram expulsos. Durante o governo de Carlos Menem, em 1991, a multinacional Benetton adquiriu 900 mil hectares na Patagônia (uma área equivalente a seis vezes o município de São Paulo), onde viviam várias comunidades. ​