Os trabalhadores têm papel fundamental para mudar a agenda pública nacional. Primeiro por meio das negociações coletivas. Quando conquistam a recuperação dos salários, ajudam a injetar renda fortalecendo a economia. Esta é a avaliação do supervisor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, ao destacar que a agenda setorial dos bancários interessa a todo o país. O economista fez apresentação sobre a conjunta econômica nacional e internacional neste sábado 18, abrindo o segundo dia da 11ª Conferência Nacional dos Bancários, que está sendo realizada em São Paulo.

"Os desafios neste período de transição no Brasil, saída da crise, passam pela redução das taxas de juros, diminuição de encargos de juros da dívida interna pública federal, pelo papel dos bancos voltado para o desenvolvimento. Essa agenda de discussão setorial interessa a todo o país. Não é porque o capitalismo ruiu que o lado dos trabalhadores está ganho. Temos que disputar essa agenda.", afirmou Mendonça.

Para ele, salário e emprego decente, meio ambiente, regulamentação do sistema financeiro, combate ao protecionismo, taxação dos mais ricos, ampliação das políticas de proteção social, taxa de cambio flexível, controle de capitais, revisão do papel do FMI e do Banco Mundial são desafios mundiais e que o G20, grupo de países do qual o Brasil faz parte, deve ser um dos responsáveis por novas regulamentações.

Crise

"Cenário muito otimista em 2011, quando o Brasil deve voltar a crescer. Dificilmente em 2010 a situação vai estar normalizada."

Sérgio Mendonça lembrou que está é a maior crise desde 1929. O Brasil passou por várias crises nos anos 80, mas que foram crises localizadas e que não tinham impacto global. Para o economista só dois países, China e Índia devem apresentar crescimento, porém menor do que no ano anterior. O Brasil que beirava um crescimento em torno de 7%, não deve ter recessão e crescer pouco acima de zero.

Mendonça avalia que a crise tende a ser longa, porque os três blocos econômicos mais poderosos estão em uma grande recessão. Os EUA devem cair 3%, o Japão, 5%, e a Europa deve sofrer uma queda de cerca de 3%. O desemprego chega a 10% nos EUA, a maior taxa desde a Segunda Guerra Mundial.

O economista destaca que, pela primeira vez, o Estado brasileiro não arrasta o Brasil para a crise. O Estado não está com endividamento alto, pelo contrário, é credor em dólar e não tem dívida externa. As reservas cambiais existentes no país chegam a US$ 200 bilhões. A pauta de exportações é diversificada, a inflação está controlada e não deve ultrapassar 4%, em setembro, data-base da categoria bancária.

Mendonça destaca que o Estado pode atuar contraciclicamente, empurrando a economia para cima através das estatais e bancos públicos (BB, CEF, Petrobrás, Basa, BNB) que podem estimular o crédito e reforçam a taxa investimento. "O BNDEs teve investimento de R$ 100 bilhões, cerca de 3% do PIB. Há uma percepção que o pior já passou. A atividade industrial já bateu o fundo poço e deve se recuperar aos poucos", ressaltou.

Emprego

"A taxa média de desemprego será menor do que ano passado. As negociações coletivas têm sido um fator fundamental para manter o crescimento econômico."

Sérgio Mendonça destaca que dezembro de 2008 foi o pior momento para o emprego: queda de 665 mil empregos. A partir de fevereiro, o nível de emprego começou a se recuperar, mas ainda há saldo negativo no país. Ele acredita ser provável que o Brasil gere cerca de 700 mil empregos neste ano.

Sistema financeiro

Os lucros dos bancos cresceram muito, por causa do spread e juros elevados. A rentabilidade dos bancos brasileiros continua alta, uma das maiores internacionalmente. Alemanha, Coréia e EUA têm a metade da rentabilidade das instituições financeiras no Brasil.

"A queda dos lucros do setor bancário não é ruim para o Brasil", afirmou o economista. "Há muito espaço para este declínio, o que significa, espaço para o crescimento da economia do país". Mendonça destacou que, embora seja essencial que os bancos tenham saúde financeira, a lucratividade atual não é sã para o crescimento econômico nacional.

O especialista afirmou que a perspectiva para o futuro é de que ocorra, por meio da regulamentação do sistema financeiro, uma revisão do papel dos bancos na sociedade brasileira. "A tendência é de crise da lucratividade do setor bancário, de remoção da trava ao crescimento econômico e de reconstrução do papel do sistema financeiro no país. Os bancos devem estar voltados para o financiamento da produção e do desenvolvimento".

Mais uma vez, o supervisor técnico do Dieese destacou que os bancos pagam praticamente todas suas despesas, incluindo a folha de pagamentos, apenas com uma das suas três fontes de receitas: a prestação de serviços, especialmente tarifas. Portanto, as receitas provenientes da tesouraria e do crédito são diretamente revertidas em impostos e em lucro. "E o acesso ao crédito está muito aquém do que o país precisa", salientou.

Sérgio Mendonça lembrou que os bancos brasileiros têm porte internacional, são robustos e têm alta capacidade de geração de resultados. "Há uma tendência de estabilidade do setor em cinco bancos: BB, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Caixa e tudo indica que, no segundo trimestre de 2009, com a divulgação dos balanços, o Banco do Brasil vai retomar a frente como maior banco do país em ativos".

O especialista, assim como o presidente da CUT, Artur Henrique, havia declarado na abertura da Conferência, na sexta-feira, afirmou que estamos na "era da incerteza". Para Mendonça, após o "massacre do pensamento único neoliberal" repercutido pelo "mantra da diminuição do Estado e da desregulamentação do setor", é preciso que a classe trabalhadora paute suas bandeiras. "O enfraquecimento dos neoliberais não significa, ainda, uma vitória da classe trabalhadora", destacou.

Pelo cenário apontado pelo economista, salários e empregos decentes são o mínimo que o setor bancário deve assegurar para a sociedade brasileira, o que demonstra a importância da organização e dos debates da categoria na 11ª Conferência Nacional.

Fonte: Elisângela Cordeiro e Patrícia Meyer/Rede de Comunicação dos Bancários