O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy disse que vai esperar pelos resultados de auditorias independentes do sistema bancário, antes de conversar com as autoridades europeias sobre como recapitalizar os bancos.
Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que deve ser divulgado segunda-feira, deve mostrar que os bancos espanhóis precisam de pelo menos 40 bilhões de euros, segundo fontes.
Sem esperar por uma expectativa maior de um socorro pela UE, a agência de avaliação de crédito Fitch reduziu a classificação da dívida soberana da Espanha de "A" para "BBB", com perspectiva negativa, alegando que Madri está especialmente vulnerável a um eventual agravamento da crise da dívida da zona do euro.
A Fitch estima que os bancos espanhóis precisam de algo entre 50 bilhões de euros e 60 bilhões de euros. No entanto, o custo fiscal total de um apoio ao setor chegaria a 100 bilhões de euros, ou 9% do PIB, em um cenário mais extremo, parecido com o colapso bancário da Irlanda.
Após uma reunião em Berlim com o primeiro-ministro britânico David Cameron – que pediu uma "ação urgente" contra a crise da dívida -, Merkel disse que a Alemanha está pronta, juntamente com os outros 16 países do euro, para fazer o que for necessário.
"É importante observar mais uma vez que criamos os instrumentos de suporte à zona do euro e que a Alemanha está pronta para usar esses instrumentos sempre que necessário", disse, referindo-se ao fundo temporário de ajuda financeira da zona do euro, (o EFSF, em inglês), e seu sucessor permanente, o ESM.
Se a Espanha decidir pedir ajuda para recapitalizar seus bancos, abarrotados de empréstimos imobiliários ruins e outras carteiras insatisfatórias, ela deverá recorrer ao EFSF (que tem 440 bilhões de euros em recursos disponíveis) ou ao ESM (com 500 bilhões de euros) – este último deverá estar operacional em julho.
Apesar das pressões, a Espanha demonstrou que ainda pode recorrer aos mercados de crédito, captando todo o dinheiro de que precisa, embora a custos maiores. O governo espanhol vendeu ontem 2,1 bilhões de euros em bônus, pagando pouco mais de 6% por uma dívida por dez anos – em comparação a 5,74% no mês passado. Foi o maior leilão desde 1998.
A venda colocou de lado, por ora, os temores levantados pelo ministro do Tesouro Cristobal Montoro na terça-feira, de que a Espanha estava sendo expulsa dos mercados de crédito.
No meio da tempestade, a Espanha nomeou um novo presidente para o banco central, Luis Maria Linde, visando restabelecer a credibilidade do Banco da Espanha, abalada pela maneira como vinha conduzindo a crise bancária. Ele acabou levando a melhor sobre José Manuel González-Paramo, que está deixando o conselho executivo do Banco Central Europeu.
Como a maior economia da UE e a maior contribuinte, a Alemanha tem o poder de decidir como o bloco sairá em socorro da Espanha, e se a Europa conseguirá chegar a um acordo sobre uma união bancária com uma garantia de depósitos conjunta e um fundo de resolução de crises para o setor bancário, conforme contemplado pelo BCE e pela Comissão Europeia.
Os comentários de Merkel ressaltam um racha crescente com o Reino Unido – que não participa da união monetária – que há muito vem freando a integração europeia. Ontem, o Reino Unido disse que não participará de uma eventual união bancária.
O ministro das Finanças britânico, George Osborne, disse à BBC Radio: "Não há como o Reino Unido participar de uma união bancária da zona do euro. Acho que o Reino Unido vai exigir certas salvaguardas se houver uma união bancária completa".
Seus comentários, reiterados de maneira mais branda por Cameron em Berlim, enfatizam a complexidade das negociações sobre o assunto na UE, uma vez que Londres é o principal centro financeiro do bloco e poderia vetar uma integração bancária mais profunda.
Osborne exortou a zona do euro a usar seu fundo de socorro financeiro para recapitalizar os bancos da Espanha, que estão com problemas e se recuperam do estouro de uma bolha imobiliária, que foi agravada pela recessão.
O relatório do FMI precedeu a reunião de hoje do conselho da instituição, aumentando as expectativas de que a UE e as autoridades espanholas podem já ter o esboço de um possível plano de resgate desenvolvido para quando os números forem divulgados.
Um funcionário graduado da UE sinalizou que a Espanha poderá adotar uma abordagem "minimalista" na recapitalização, requerendo algo entre 30 bilhões de euros e 40 bilhões de euros para quatro ou cinco instituições mais fracas, ou mesmo uma postura "maximalista", que poderia exigir até 100 bilhões de euros.
Até agora, a Espanha não pediu ajuda à UE, e autoridades afirmam que ela está determinada a evitar as condições de políticas humilhantes e as intrusivas inspeções trimestrais impostas pelo FMI e UE à Grécia, Irlanda e Portugal.
Embora um empréstimo emergencial possa ser concedido por razões políticas como se fosse para o Fondo de Reestructuración Ordenada Bancaria (FROB), legalmente os organismos europeus podem emprestar apenas para o Estado, segundo informação de autoridades da UE. Isto levanta a questão de quais condições de políticas e monitoramento seriam atreladas a qualquer ajuda.
Sob as regras do EFSF, até agora usado para socorrer a Irlanda e Portugal, os países podem receber ajudar para seus bancos sem precisarem submeter-se à mesma "condicionalidade" rígida imposta a um programa completo de ajuda financeira.
Fonte: Valor Econômico / Carlos Ruano e Andreas Rinke / Reuters, de Madri e Berlim