A esmagadora maioria das pessoas já presenciou ou foi vítima de pelo menos um ato de violência contra profissionais de todos os ramos, por causa de sua orientação sexual ou sua identidade de gênero

Uma pesquisa realizada pela UNI Global Union sobre direitos e percepção de trabalhadoras e trabalhadores LGBTQIA+, ao avaliar os direitos individuais, revela que nada menos de 68% das pessoas já viram, ouviram ou vivenciaram algum ato de violência contra profissionais por sua identidade de gênero ou orientação sexual. No topo da lista, encontra-se a agressão verbal, mas os casos relatados não têm fim e incluem ataques físicos, inclusive com espancamentos; agressões de cunho religioso, até com proibição em encontros e atos; casos de assédio, que são acentuados com vistas grossas de chefias; bullying e pressão psicológica; entre outras.

A discriminação no trabalho é crime em muitos países, porém essa proibição legal nem sempre é sentida como realmente efetiva, e 8% dos trabalhadores e trabalhadoras LGBTQIA+ relataram dificuldades para encontrar emprego por causa de sua sexualidade ou identidade de gênero. As principais causas que impedem um profissional LGBTQIA+ de se sentir integrado no ambiente profissional são a falta de consciência a respeito da questão, pequenas e constantes agressões, incompreensão de colegas mais velhos e inexistência de oportunidades.

Entre as sugestões apresentadas, para tornar o ambiente de trabalho mais acolhedor, encontram-se a instalação de banheiros de gênero neutro; o uso correto dos pronomes; o envolvimento em eventos como a parada e o mês do orgulho LGBTQIA+, o Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia; além de mais diversidade nos processos de contratação.

Na avaliação de Adilson Barros, da direção Executiva da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), é preciso investir cada vez mais em políticas afirmativas para combater a discriminação no local de trabalho e em toda sociedade. “Se os empregadores topam investir na diversidade e inclusão, precisam amarrar compromisso, exigir o rigor da lei para frear atitudes que levam muitos LGBTQIA+ a adoecer ou até a morrer. São pequenos gestos como compreender sua diferença, seu comportamento e pensar que não é uma escolha se reconhecer homossexual ou o que valha. Com isso, a sociedade avança e o mundo do trabalho fica humanizado. Respeito é bom e todes gostam”.

Testemunhos ao redor do mundo

Conheça a seguir alguns dos relatos feitos na pesquisa, que revelam a dimensão da discriminação e dos crimes de agressão contra trabalhadoras e trabalhadores LGBTQIA+ em vários países.

“Tenho vários colegas de trabalho que são transfóbicos e que não aceitam mulheres trans como verdadeiras mulheres. Recentemente, decidi me revelar como não binárie, mas decidi manter segredo para a maioria dos colegas de trabalho e para a liderança sindical, por causa do preconceito e da falta ativa de apoio” (EUA).

“Xingamentos, como ‘não vou deixar que uma bicha me sirva’ ou ‘ele pode ser contagioso, não se aproxime’, referindo-se ao HIV” (Noruega).

“Há 33 anos, perdi um emprego porque me revelei. Perdi meu trabalho, meus amigos e minha rede de apoio. Fiquei sem trabalho por três meses e, quando encontrei outro emprego, tive problemas de saúde por causa do estresse. Perdi a confiança nas organizações e temo que meus direitos e o meu bem-estar não serão protegidos ou respeitados” (Nova Zelândia).

“Minha carreira foi prejudicada de formas incalculáveis. O bullying, o assédio e a violência me causaram um trauma irreparável, e cheguei ao ponto de que, se eu não precisasse trabalhar para viver, eu não trabalharia mais. Gostaria de não precisar trabalhar, mas não tenho escolha, pois preciso do trabalho para ter uma vida digna” (Nova Zelândia).

Na próxima matéria sobre a pesquisa da UNI, veja o que seu sindicato pode fazer para eliminar preconceitos e crimes contra trabalhadores e trabalhadoras LGBTQIA+.

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Fonte: Contraf-CUT