Se depender da maioria das candidaturas a presidente nas eleições deste ano, a Caixa Econômica Federal e os demais bancos públicos, como o Banco do Brasil, correm o risco de seguirem perdendo espaço para as instituições financeiras privadas, como vem ocorrendo nos últimos dois anos e meio de governo Temer. A população de baixa renda é a mais prejudicada, pois deixa de contar com crédito mais barato e taxas mais competitivas. O esvaziamento e desmonte dos bancos públicos também afetam a vida dos trabalhadores e precarizam o atendimento.

Segundo o presidente da Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Ferreira, apenas os programas dos candidatos Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes(PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) apresentam propostas para o fortalecimento dos bancos públicos. Os demais candidatos, entre eles Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (PV), se omitem, defendem a “livre concorrência” com os bancos privados ou falam explicitamente em privatização.

“Dos projetos que estão em disputa, a maioria vai de acordo com as propostas do atual governo. O que eles têm demonstrado objetivamente é que os bancos públicos têm um papel secundário, na visão deles. Apenas três candidaturas que estão falando em manutenção e fortalecimento dos bancos públicos. O restante, ou fala em privatização, ou fala em deixar livre para o mercado, ou não falam nada”.

Jair explica que, além dos bancos privados não chegarem nas pequenas cidades do interior do país como os bancos públicos chegam, a Caixa Econômica desempenha um papel fundamental na condução de programas sociais, como o Bolsa Família, e na oferta de crédito habitacional.

Segundo relatório elaborado pela subseção do Dieese na Fenae, os valores desembolsados pela Caixa para financiamento habitacional pelo Minha Casa Minha Vida durante o governo Temer caíram 83%, passando de R$ 20,7 bilhões, em 2015, para R$ 3,6 bi, em 2017. Para este ano, os valores efetivamente pagos até o momento somam apenas R$ 400 milhões.

O presidente da Fenae ressalta que políticas habitacionais de larga escala têm dois impactos  importantes: garantem moradia digna para populações que vivem em áreas de risco ou de fragilidade social e contribuem para a criação de milhares de vagas de emprego na construção civil, reduzindo assim o elevado número do desemprego, que hoje atinge mais de 12,9 milhões de pessoas, segundo IBGE.

No entanto, diz o presidente da Fenae, a política adotada pelo governo Temer, com Henrique Meirelles à frente do ministério da Fazenda, fez com que a Caixa adotasse os padrões do “rentismo”. A atual presidente do Conselho de Administração do banco, Ana Paula Vescovi, insiste, segundo ele, que a Caixa deve dar lucro, mesmo sendo uma instituição 100% pública, que não tem que distribuir dividendos a acionistas, por exemplo, e subiu tarifas, igualando, ou até superando, as cobradas pelos bancos do mercado, contrariando um dos lemas da instituição, que diz que a Caixa “é o banco das menores taxas”.

“Assim estamos deixando de atender uma parcela enorme da população com financiamentos e programas sociais. Para que a sociedade brasileira precisa de mais um banco rentista?”, questiona o presidente da Fenae.

“É preferível ter um banco com lucro menor – lógico que não pode ser ineficiente –, mas que a população de baixa renda acesse os benefícios. Esse tem que ser o papel dos bancos públicos. Se os bancos privados querem cobrar altas taxas, que cobrem, mas em relação aos bancos públicos, não se justifica o que estão fazendo.”

Outro número que desnuda a estratégia do governo Temer de enfraquecimento dos bancos públicos é a queda no número de servidores. Em 2015, eram cerca de 100 mil trabalhadores. Agora são 86 mil. Com menos funcionários, cai a qualidade do atendimento e aumentam as críticas da população. “Tem agência funcionando com sete, oito pessoas. No dia que adoece um, outro sai de férias, o atendimento fica precarizado.”

A Fenae, que na semana passada realizou o seminário Futuro da Caixa, Cenários e Desafios para tratar da conjuntura eleitoral, cogitou elaborar uma espécie de carta-compromisso a ser entregue aos candidatos, mas, frente às propostas apresentadas nos programas, decidiram adiar a decisão. “No segundo turno, vamos divulgar documento com posicionamento. Mais do que conversar com os candidatos, a gente quer falar com a população sobre a importância que os bancos públicos têm na vida delas.”