A presidenta Dilma Rousseff assegurou nesta sexta-feira (21) em cadeia nacional de rádio e televisão que está “ouvindo a voz das ruas” e que vai investir no diálogo com as instituições brasileiras e com os movimentos organizados para melhorar os serviços públicos no país. Ela entrou em cadeia nacional para se posicionar perante a onda de manifestações dos últimos dias. Dilma entrou às 21h e falou por 9min45segundos.

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A presidenta disse que as recentes manifestações em diversas cidades do país são legítimas, mas condenou a prática de atos violentos ocorridas na maioria delas. Defendeu o investimento de 100% dos royalties do petróleo em educação, a reforma política e a vinda de médicos estrangeiros para incrementar o atendimento de saúde oferecido pelo Estado.

Um parênteses: momentos antes do pronunciamento da presidenta, o Jornal Nacional, da Rede Globo, que vinha tratando as minorias violentas das manifestações apenas como “uma minoria”, passou a taxar os grupos de “baderneiros” e praticamente deu a senha para que as polícias voltem a agir para conter os atos violentos.

Dilma não deixou de mencionar nenhum dos principais temas bradados pelas manifestações. Em seu recado, disse que a transparência dos gastos públicos é a melhor maneira de combater a corrupção, argumentou que a existência dos partidos políticos é uma conquista da democracia.

Aproveitou para defender que o Congresso aprove a aplicação da totalidade das receitas da exploração do petróleo do pré-sal para a educação. E prometeu empenho em uma reforma política que atualize a democracia do país e que valorize o “poder cidadão.”

“A mensagem das ruas exige serviços públicos de melhor qualidade. Ela quer educação de qualidade, saúde de qualidade, transporte público melhor e a preços justos. Ela quer mais. E, para dar mais, as instituições e os governos devem mudar”, reconheceu a presidenta, que se comprometeu a conversar nos próximos dias com os chefes dos poderes Legislativo, Renan Calheiros, e do Judiciário, Joaquim Barbosa, para somar esforços em prol desses objetivos, antecipando, porém, que nem tudo que se cobra é atribuição da União.

Dilma também disse que convidará os governadores e prefeitos das principais cidades do país para um “grande pacto” em torno da melhoria dos serviços públicos.

“O foco será, primeiro, a elaboração de um grande Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de 100% dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS”, garantiu a presidenta.

“Vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de suas energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente”, disse, ao anunciar que pretende abrir uma agenda de diálogo com setores da sociedade civil organizada.

Reforma política

A presidenta lembrou que sua geração lutou muito pela democracia e apelou para que todos – governos e sociedade – desfrutem das lições do exercício democrático. Afirmou ainda que pretende contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que aprofunde a participação popular.

“É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvida em primeiro lugar”, justificou, sublinhando que a democracia precisa de organizações políticas. “É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático.”

No entanto, a presidenta frisou que o país precisa se esforçar para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangente sobre seus representantes políticos. “Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção”, propôs, lembrando que a Lei de Acesso à Informação, em vigor desde o dia 16 de maio de 2012, deve ser ampliada a todos os poderes da República e instâncias federativas, como estados e municípios. “É um poderoso instrumento do cidadão pra fiscalizar o uso correto do dinheiro público.”

No final do pronunciamento, Dilma rebateu as críticas relativas ao excessivo gasto de recursos do Erário com as obras da Copa do Mundo. “Quero esclarecer que o dinheiro do governo federal gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando esses estádios”, contou.

“Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários, como saúde e educação. Na realidade, ampliamos bastante os gastos com saúde e educação, e vamos ampliar cada vez mais.”

Manifestações

Sobre as manifestações que ganham as ruas de um número cada vez maior de cidades brasileiras, Dilma disse que elas mostram a força da nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar. “Se aproveitarmos bem o impulso dessa nova energia política, poderemos fazer melhor e mais rápido muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas”, sugeriu.

“Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder”, alertou.

De acordo com a presidenta, os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida e defender “com paixão” suas ideias e propostas. “Mas precisam fazer isso de forma pacífica”, ressalvou, antes de assegurar ao país que o governo vai manter a ordem.

“O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos a nossos principais centros urbanos”, salientou.

Fonte: Rede Brasil Atual