Crédito: Daiani Cerezer – CUT-RS

Daiani Cerezer - CUT-RS Os 645 delegados e as delegadas do 13º Congresso Estadual da CUT do Rio Grande do Sul (Cecut-RS) aprovaram por unanimidade a resolução "por uma conferência nacional sobre o sistema financeiro", durante o evento realizado no último final de semana, em Porto Alegre, que elegeu o metalúrgico Claudir Nespolo para a presidência da CUT-RS.

"Aprovamos essa importante proposta, com o objetivo de reforçar a mobilização dos trabalhadores para que seja realizada uma conferência nacional para discutir o sistema financeiro, buscando envolver a sociedade no debate sobre o papel dos bancos públicos e privados, neste momento em que aumenta a pressão para a redução dos juros, spreads e tarifas, a geração de empregos e a melhoria da prestação de serviços bancários", afirma Paulo Stekel, diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e da Contraf-CUT, que apresentou a resolução. 

Conforme a resolução aprovada, "o Brasil precisa de um novo sistema financeiro, que dê contrapartidas sociais a seus lucros, garanta a universalização dos serviços bancários e contribua com o desenvolvimento econômico do país. Os bancos públicos e privados precisam cumprir o seu papel de baratear o crédito, oferecer bons serviços para todos os brasileiros e colocar as pessoas em primeiro lugar".

Leia a íntegra do texto aprovado no 13º Cecut-RS:

Por uma conferência nacional sobre o sistema financeiro

O 13º Congresso Estadual da CUT do Rio Grande do Sul (Cecut-RS) apoia a proposta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) para que o governo federal convoque imediatamente uma conferência nacional sobre o sistema financeiro, a exemplo de encontros já realizados sobre saúde, educação, segurança pública e comunicação, entre outros.

Temos hoje um sistema financeiro altamente concentrado, um verdadeiro cartel de grandes bancos públicos e privados, em que apenas as cinco maiores instituições detêm 82% dos ativos, 80% do crédito e 70% do patrimônio do setor. Mesmo concessões públicas, os bancos ainda cobram os juros, os spreads e as tarifas mais altas do mundo. No ano passado, eles tiveram lucros gigantescos de R$ 53 bilhões e quase não ofereceram contrapartidas para a sociedade.

A participação do crédito na economia brasileira é de apenas 46% do PIB, muito abaixo do padrão internacional. E dos seis grandes bancos que operam no país apenas 35,5% dos ativos são destinados a operações de crédito. A maior parte dos ativos é utilizada em atividades especulativas, graças à taxa Selic, ainda uma das mais altas do mundo, que é uma verdadeira bolsa-banqueiro.

Os bancos públicos federais, regionais e estaduais não podem atuar na lógica perversa dos bancos privados, que visam somente o lucro fácil, mas precisam cumprir o papel de indutores no sistema financeiro para reduzir os juros, os spreads e as tarifas e garantir atendimento decente para todos os brasileiros.

Milhões de brasileiros continuam sendo excluídos pelos bancos. Pesquisa do Ipea mostra que 33% das cidades brasileiras não têm nenhuma agência bancária e 44% da população não possui conta corrente.

Mas existe uma diferença entre a chamada bancarização e a inclusão bancária. O que as instituições financeiras e o Banco Central chamam de bancarização é dar um cartão para uma pessoa, sendo que os clientes de baixa renda são empurrados para atendimento precário em lotéricas e correspondentes bancários. Para haver uma verdadeira inclusão bancária, precisamos acabar com as discriminações e garantir atendimento de qualidade para todos os brasileiros em agências e postos de serviços, com bancários, segurança, orientação para o crédito e proteção ao sigilo bancário.

O Brasil está crescendo, é hoje a sexta maior economia do mundo, mas está entre os 12 países com a maior concentração da riqueza. Essa é uma situação insustentável. O país precisa de desenvolvimento para gerar empregos e renda e reduzir essa vergonhosa desigualdade social. Os bancos precisam fazer a sua parte.

Para tanto, é fundamental que os trabalhadores e sociedade brasileira discutam em uma conferência nacional o sistema financeiro que temos e o que queremos, com a perspectiva de regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que estabelece:

‘O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.’

Para nós, o Brasil precisa de um novo sistema financeiro, que dê contrapartidas sociais a seus lucros, garanta a universalização dos serviços bancários e contribua com o desenvolvimento econômico do país. Os bancos públicos e privados precisam cumprir o seu papel de baratear o crédito, oferecer bons serviços para todos os brasileiros e colocar as pessoas em primeiro lugar.

Porto Alegre, 26 de maio de 2012."

Fonte: Contraf-CUT com CUT-RS