Fica cada vez mais evidente que a atual conjuntura política de nosso país é desfavorável aos interesses dos trabalhadores, à soberania nacional, ao desenvolvimento econômico e social e ao processo de combate a toda forma de preconceito e discriminação. O golpe que levou Michel Temer ao poder e a formação de seu governo marcado pela ausência quase que completa de trabalhadores, mulheres, negros e homoafetivos nos principais cargos da administração pública da União, deixaram claro o perfil e o lado da elite política que se instalou no Palácio do Planalto.
A atual conjuntura de ataques aos direitos dos trabalhadores e aposentados, de corte nos investimentos sociais e de extinção de ministérios e secretarias de combate ao racismo, à homofobia e à violência contra a mulher revelam uma conjuntura que aponta para a elevação do preconceito e da desigualdade. Por isso, atacam os projetos de avanços promovidos nos últimos anos. O avanço das forças políticas atrasadas aprofunda a lógica de um Brasil desigual e discricionário.
Negros discriminados
A população negra, em pleno século XXI, continua sendo discriminada. Segundo dados colhidos em 2014, no Brasil, apenas 24,7% dos trabalhadores nos bancos são negros. Os brancos representam cerca de 83% da parcela mais rica da sociedade. Isto num país em que 53,6% da população é formada por negros e negras.
Estas anomalias sociais vinham sendo combatidas, nos últimos anos, através das chamadas políticas de ações afirmativas, como a de cotas em universidades, e por programas sociais e elevação do ganho real do salário mínimo e dos ganhos reais dos trabalhadores, avanços reconhecidos internacionalmente. Apesar disto, o tempo mostrou que estas medidas, embora sejam imprescindíveis, ainda não são suficientes para mudar o quadro de desigualdade social, que passa essencialmente pela questão racial. Em 2004, 73,2% dos mais pobres eram negros, patamar que aumentou para 76% em 2014. Esse número indica que três em cada quatro pessoas que estão na parcela dos 10% mais pobres do país são negras. Já os brancos eram 26,5% dos mais pobres em 2004 e sua participação nessa fatia da população caiu para 22,8% em 2014.
Neste mês de comemoração do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), chamamos a todos para uma reflexão crítica sobre esta conjuntura política e para a necessidade de unidade dos trabalhadores. É preciso impedir a consolidação deste projeto de autoria das mesmas oligarquias que mantiveram, durante séculos, o nosso povo na miséria, excluído do processo de desenvolvimento econômico e acumulação das riquezas de nosso país, produzidas por este mesmo sujeito histórico espoliado, a classe trabalhadora. Nossa missão é mobilizar à sociedade para barrar este projeto que vai aprofundar a exclusão, a discriminação, a miséria e a injustiça social.
Almir Aguiar – Secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.