Deise Recoaro

Crédito: Seeb-PB
Deise RecoaroQuanto alvoroço com as mudanças ocorridas na nova lei do Trabalho Doméstico no Brasil. Ninguém tem coragem de afirmar que essas trabalhadoras (esta categoria no feminino por motivos óbvios) deveriam continuar no subemprego, ou melhor, no submundo das relações de trabalho. Porém, na hora de fazer as contas, de botar a mão na massa (ou na privada), o bicho pega e o preconceito, as discriminações e inversões de valores afloram de uma maneira assustadora.

Em que pese o desespero de muitos e muitas de nós que contratamos este serviço, uma coisa é certa: esta categoria está promovendo uma verdadeira revolução nas relações de trabalho deste país. Uma nação inteira irá aprender no amor ou na dor, o verdadeiro valor do trabalho doméstico na vida de homens, e especialmente de mulheres, neste país.

As famílias terão que conversar mais a respeito do assunto, se terão ou não condições financeiras de encarar a nova lei. Caso contrário terá que redistribuir tarefas entre todos e todas que dependam deste trabalho para produzir e viver. Quem depende deste trabalho? Não somente o núcleo familiar formalmente conhecido, como também todo um sistema sócio econômico, popularmente conhecido como capitalismo.

Ora, para que um trabalhador ou trabalhadora possa produzir, gerar lucro e consumir, todos irão precisar do trabalho feito na retaguarda do processo, ou seja, ninguém consegue produzir sem o trabalho reprodutivo, sem alguém que dê as condições mínimas de higiene e cuidado da prole.

As relações compartilhadas, que antes não passava de um conceito vago, hoje será vivenciada na prática com a nova lei. E onde não é possível compartilhar, pois sabemos que uma parcela significativa das mulheres mantêm seus lares e filhos e filhas sozinhas, o Estado terá que cumprir seu papel na promoção de políticas públicas, com creches, lavanderias e restaurantes públicos.

Deise Recoaro
Secretaria de Mulheres da Contraf-CUT