É inacreditável, mas o Brasil do século XXI, algumas vezes, parece retroceder e retornar ao século XIX. Nestes momentos, percebe-se mais claramente uma luta em curso para se vencer o preconceito, a ignorância e o racismo.

Os negros e negras sempre foram invisíveis neste país, mas mudanças ocorridas nos últimos anos, mais precisamente a partir de 2013, com a implantação de políticas públicas objetivando a diminuição das desigualdades, oportunizando o acesso desta população ao ingresso nas universidades e a ascensão de muitos à classe média, tem gerado insatisfação e resultado em intolerância e gestos reprováveis e inaceitáveis de ações racistas.

Nos últimos meses, várias manifestações de racismo se tornaram públicos, seja no futebol, o esporte que é paixão nacional, seja em shoppings e nas redes sociais, com grande repercussão na mídia. Estes acontecimentos demonstram que setores e pessoas que viviam em zona de conforto graças à discriminação, à exclusão e às desigualdades sociais e raciais, não aceitam a construção de uma democracia racial no país. Estes casos refletem a intolerância de uma minoria raivosa que não se conforma e não aceita a ascensão de uma população que secularmente vem sendo explorada e marginalizada no Brasil.

Os negros e negras neste país representam mais de 51% (cinquenta e um por cento) da população, dados do último censo do IBGE, e mesmo assim não conseguem espaço para atingirem os melhores postos de trabalho. Podemos citar como exemplo a realidade do sistema financeiro e o próprio Congresso Nacional. Nestes espaços, não se reflete a negritude da população, revelada pelo IBGE.

O RACISMO sempre esteve presente nas relações sociais no Brasil, a elite brasileira se beneficiou da exploração da mão-de-obra escrava e construiu sua riqueza sobre a marginalização e a exclusão desta população, essa é a VERDADE por trás dos números.

É visível a falha do nosso sistema educativo em debater e implementar ações formativas para incluir na grade curricular das escolas o tema da história desta população no país, assim como a história da África e isto tem sido decisivo para perpetuar esta situação.

A falha do sistema judiciário em criminalizar o RACISMO é outra face da mesma moeda. Medidas efetivas, como criminalização e punição, certamente dariam um limite a estas ações.

É preciso que estes debates sejam pautados para que a sociedade brasileira se conscientize que um país rico e desenvolvido não pode conviver com essa chaga aberta que sangra cada vez que alguém entende que a cor da pele é razão para se discriminar outra pessoa.

A campanha da CUT: “BASTA DE RACISMO NO TRABALHO E NA VIDA”, lançada na 14ª Plenária Nacional da Central e também nas ações de Desenvolvimento Regional (Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste), demonstra que a Central Única dos Trabalhadores mantém-se sempre sensível e antenada com os anseios da classe trabalhadora e fiel ao princípio de não compactuar com qualquer forma de discriminação. A CUT continua na rua e na luta para banir o preconceito e o racismo do mundo do trabalho.

Maria Júlia Reis Nogueira
Secretária Nacional de Combate ao Racismo da CUT

Fonte: CUT