Desde o início da pandemia os bancários estão na linha de frente como categoria essencial. Mas, ao contrário de seus patrões, não podem viajar para Miami para se vacinar
A pandemia da covid tem revelado toda a crueldade com que os donos do poder e do dinheiro podem tratar a vida dos trabalhadores no Brasil. Através de farta documentação na CPI do Covid, ficou demonstrado que o governo Bolsonaro recusou 100 milhões de doses da vacina da Pfizer que começariam a ser entregues no ano passado e por um preço 50% menor do que o pago pelos Estados Unidos e Europa. Agora, ficamos sabendo através de telegramas sigilosos do Itamaraty que o presidente também recusou 43 milhões de doses do consórcio Covax Facility. Estas vacinas recusadas seriam suficientes para imunizar em duas doses mais de 70 milhões de brasileiros.
Quantas vidas teriam sido salvas das 480 mil perdidas? Quantas outras que ainda vamos perder? Mortes evitáveis! Se cada morte evitável é um assassinato (e é) não há outro nome possível para esta quantidade de mortes que não o genocídio.
Triste Brasil que teve que enfrentar a pior pandemia do século com um governo genocida. Esta foi a conduta do poder. Mas não foi diferente a conduta dos donos do dinheiro. Sua única pressão sempre foi, não pela vida, mas pelo lucro. Nenhuma atividade poderia parar, mesmo que custasse a vida dos seus trabalhadores. Ônibus lotados, trabalhadores sem proteção ou distanciamento, combate incessante a todo tipo de lockdown ou home office, ou seja, uma aposta cada vez redobrada no morticínio.
Foi exatamente esta a conduta dos mais endinheirados membros desta elite econômica: os banqueiros. Usaram todo o peso de sua imensa influência política para arrancar um pacote trilionário do governo para suas empresas, logo nos primeiros dias da pandemia, mas não moveram um dedo para incluir seus trabalhadores na prioridade do Plano Nacional de Imunização (PNI). Cada conquista de proteção à saúde dos bancários teve que ser arrancada na mesa de negociação pelo movimento sindical.
O resultado disto foi o crescimento de 114,6% no número de desligamentos por morte entre os trabalhadores das atividades financeiras do primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, segundo os dados do Caged. Ou em uma linguagem mais clara, mais que dobrou o número de mortes nos trabalhadores do setor!
Desde o início da pandemia os bancários estão na linha de frente como categoria essencial. Foram eles que garantiram a operação do auxílio-emergencial ou das linhas de financiamento dos pequenos negócios. Foram eles que assistiram as pessoas e as empresas sem interrupção durante a crise, eles que se expuseram ao contato diário e presencial com milhares de clientes. Mas, ao contrário de seus patrões, não podem viajar para Miami para se vacinar.
Exigimos a vacinação para a categoria, porque este é o mais elementar dos direitos, o direito à vida. E queremos mais. Queremos a responsabilização de quem recusou a salvação quando era possível. Queremos o fim deste governo de morte e destruição que é o governo Bolsonaro. Porque esta, hoje, é a única forma de defender a vida da classe trabalhadora.
Artigo de Juberlei Bacelo, diiretor de comunicação da Fetrafi-RS.
Fonte: Brasil de Fato – RS / Edição: Katia Marko