A questão do assédio moral na categoria bancária entrelaça-se com outro grande problema existente no cotidiano dos ambientes de trabalho: a imposição e a cobrança de metas abusivas.
As metas abusivas impostas pelos bancos, característica marcante do trabalho bancário nos dias atuais, transformou-se em um fator de risco inerente da profissão de bancário. Além dos riscos já estudados e conhecidos do trabalho bancário, como os riscos ergonômicos, os movimentos repetitivos, o ritmo de trabalho acelerado, o risco iminente de assaltos e sequestros, a imposição e a cobrança de metas revela outro grave fator de risco à saúde de bancários e bancárias, situando os profissionais entre os que mais se afastam do trabalho por problemas psíquicos.
Bem sabemos que o assédio moral não é uma doença e que ninguém fica doente por "contrair" assédio moral. Entretanto, o assédio moral nos bancos é um sério sinal de degradação das relações de trabalho, bem como do próprio ambiente de trabalho. É um sinal de alerta que, além de detectar problemas entre uma vítima e um agressor, remete a atenção para a organização do trabalho, para o modo de execução das tarefas diárias e como essa organização define as relações entre as pessoas.
Logo, o que leva os bancários ao adoecimento são as conseqüências nefastas das práticas de assédio moral, principalmente aquelas relacionadas ao controle e cobrança pelo atingimento das metas de produtividade, que são cada vez mais abusivas, estabelecidas "de cima para baixo", são sempre crescentes e mais: o bancário que não "bate suas metas" pode perder o seu emprego, sendo demitido sumariamente.
Praticamente, não há espaços de diálogo nos ambientes de trabalho para se discutir os meios para se atingir as metas impostas pelos bancos, bem como não há espaços para diagnósticos dos reais motivos do não atingimento das metas em um dado período fixado pelo banco, por exemplo.
Estrategicamente, os bancos individualizam as metas e submetem os trabalhadores às chamadas "avaliação de desempenho individual", caminho propício para as práticas de assédio moral, expondo a situações constrangedoras e até humilhantes aqueles trabalhadores que não atingiram as "suas metas". Ou seja, o bancário é cobrado individualmente pelas metas que, primeiramente, não foram definidas por ele.
Segundo, a realização plena das metas depende de variadas questões, como o perfil socioeconômico da região em que a agência bancária está sediada, o perfil da clientela da região, a aceitação e a adequação do produto bancário oferecido aos clientes, a saturação do mercado bancário e o número de empregados suficientes para a boa execução das tarefas. São questões primordiais que influenciam nos resultados das metas e que não são levados em consideração na hora de se avaliar o trabalho desempenhado.
Busca-se apenas o resultado individualizado do trabalho que se materializa na concretização da meta, desconsiderando todo um trabalho prévio em equipe, importante e necessário, que colabora decisivamente para viabilizar as metas.
Antes de tudo, defendemos que as metas devem ser estabelecidas coletivamente, bem como todo o processo de trabalho que venha a levar para a sua realização ou não. E que os mecanismos de cobrança e acompanhamento tenham a interferência e a participação direta e ativa de todos os bancários envolvidos.
Diante de toda problemática que envolve o assédio moral e a imposição de metas abusivas no mundo do trabalho bancário, que gera desgaste mental, alto índice de absenteísmo e adoecimento, acarretando inúmeros prejuízos aos trabalhadores e para toda a sociedade, o Sindicato dos Bancários de São Paulo vem, a cada ano, fortalecendo o debate nos locais de trabalho, conscientizando e mobilizando a categoria diante do tema e desenvolvendo amplo e forte processo negocial com o setor patronal.
As campanhas do Sindicato dos Bancários de São Paulo, "Assédio Moral – Saia do Isolamento" (2009) e a "Menos Metas, Mais Saúde" (2010), traduzem bem as questões envolvidas na organização do trabalho bancário e as suas repercussões na saúde dos trabalhadores.
Nas campanhas temos procurado situar os temas do assédio moral e das metas abusivas para os trabalhadores, conscientizando-os que o trabalho bancário tem sido fonte de adoecimento, tanto físico quanto mental, que o elevado grau de adoecimento da categoria relaciona-se diretamente com a organização do trabalho bancário e apontando formas de enfrentamento diante de tantos problemas vivenciados no dia a dia, seja nas agências bancárias, nos departamentos, nos postos de atendimento e também nas unidades de terceirização de mão-de-obra bancária.
As reivindicações da categoria bancária são bem definidas e busca soluções para os problemas de ocorrências de assédio moral, com regras e prazos definidos em acordo coletivo de trabalho.
A nossa atuação e persistência na luta por um ambiente de trabalho saudável no ramo financeiro ganha novo respaldo com os resultados da pesquisa realizada no mês de junho de 20105, na base do Sindicato dos Bancários deSão Pauloe respondida por mais de nove mil empregados de bancos públicos e privados. A pesquisa revelou que 68% consideram prioridade discutir metas abusivas e combate ao assédio moral na Campanha Nacional de 2010, momento ímpar de movimentação e mobilização da categoria bancária e de renovação da convenção coletiva de trabalho.
O debate que temos feito junto a categoria busca evidenciar a relação das metas abusivas e das práticas de assédio moral com o elevado grau de adoecimento dos trabalhadores bancários, destacando o desgaste e o sofrimento mental que tem atingido gerentes, chefias, caixas, escriturários, pessoal de teleatendimento, em todos os bancos.
É necessário que os bancos modernizem a sua visão referente à "saúde e segurança no trabalho" e que, de fato, tenham interesse em firmar compromissos com perspectivas para a criação de novas condições de trabalho, com bases na prevenção de doenças, de combate aos riscos à saúde do trabalhador e de promoção da saúde.
E que, de fato, o trabalho bancário seja sinônimo de satisfação, de vida digna, de reconhecimento social, de crescimento pessoal, e não de humilhação, de opressão e adoecimento dos trabalhadores.
Walcir Previtale, secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
Fonte: CUT