No segundo Feedback, novos problemas. Rita, que então trabalhava em um projeto que tinha como meta atingir 8% de conscientização sobre segurança nos funcionários, chegou ao percentual de 17%. “Fiquei muito contente com o resultado, mas meu chefe disse que tinha baixado minha meta propositalmente e que só por isso eu tinha conseguido aquele percentual. Percebi que havia alguma coisa errada, tinha ali um problema pessoal”, diz.
Os problemas foram se acumulando até chegar ao cúmulo de o chefe pedir para que duas colegas de trabalho não almoçassem com Rita, pois, na sua opinião, ela ficava falando mal dele durante as refeições. No último Feedback, Rita discordou de algumas afirmações do chefe pois, para, ela elas não correspondiam à realidade dos fatos. “Foi a única avaliação que ele registrou. Enviei esse Feedback ao ombudsman e à Consultoria de RH, mas nada aconteceu”, diz.
Três dias depois, em abril passado, ela foi demitida com a justificativa de baixa produtividade. “Minhas notas no sistema de metas e performance estavam entre as melhores da equipe, como ele pode ter dado esta justificativa para me demitir?”, questiona.
Ombudsman – Entre abril de 2009 a abril de 2010, Rita fez oito contatos por e-mail com o ombudsman do banco e mais outros pelo telefone, além de contatos com a Consultoria de RH. Para ela, esses mecanismos têm pouco poder de ajudar bancários na situação em que ela se encontrava. “Eles me sugeriram falar com o supervisor e disseram para procurar outra área. Não me parece que o ombudsman e o pessoal da Consultoria tenha autonomia para fazer algo mais efetivo.”
Para a diretora do Sindicato Ana Tércia Sanches, o problema pode ser ainda mais grave. “Não é a primeira denúncia ao ombudsman que acaba em demissão. Em outros episódios já houve a quebra do sigilo da identidade do denunciante. O gestor sempre acaba tomando conhecimento do fato e começa a promover novas retaliações. É inadmissível que a identidade do bancário não seja preservada em casos assim”, diz a dirigente sindical.
Problema generalizado – Na opinião da sindicalista, o assédio moral dentro do Itaú Unibanco está generalizado por conta da pressão por metas. “É um problema institucional, que vem de cima, a partir das ordens para reduzir custos, cumprir prazos e aumentar vendas. Isso acaba estourando nos bancários, que vivem um ritmo de trabalho alucinante e vêem suas relações pessoais se desintegrando”, diz.
Ana Tércia destaca que a realidade dos bancários está cada vez mais distanciada do discurso da direção do banco, segundo o qual o bancário seria um “colaborador”. “Já passou da hora de o banco rever a forma como lida com os problemas internos, uma vez que mecanismos como o ombudsman já provaram ser ineficazes”, afirma.