Nos últimos meses, três das maiores categorias ligadas à CUT passaram por processos de renovação de suas diretorias. Metalúrgicos do ABC, Bancários de São Paulo, Osasco e região e professores da rede pública estadual de São Paulo têm em comum o fato de sair da eleição com resultados expressivos e ter pela frente o desafio de negociações salariais que podem criar referências para os embates que costumam compor as agendas do período.

À Rede Brasil Atual, as presidentas Juvandia Moreira (bancários), Maria Izabel Noronha (Apeoesp) e o presidente Sérgio Nobre (metalúrgicos) falaram sobre das campanhas que têm pela frente.

Pioneira

A Chapa 1, majoritariamente ligada à CUT, da situação e pela primeira vez comandada por uma mulher, Juvandia Moreira, venceu a eleição do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região com 83,5% dos votos válidos, contra 16,5% da Chapa 2, apoiada pelo Conlutas.

Juvandia atribui a votação expressiva à sintonia da entidade com os temas que interferem no cotidiano dos bancários. "Esse resultado é o reconhecimento do esforço e da presença do sindicato nos locais de trabalho, porque os trabalhadores votam naquilo que veem de resultado e nas pessoas em quem confiam. E isso é uma responsabilidade grande", declarou a primeira mulher eleita para presidir a entidade, fundada em 1923.

Dentro do sindicato, segundo ela, as mulheres já são 34% da diretoria e metade dos funcionários da entidade. "Quando entrei no sindicato (1997), havia duas mulheres em uma diretoria-executiva de 12 pessoas. Hoje são seis. Então, cresceu bastante a nossa participação e assumimos postos importantes como a presidência, secretarias geral e de finanças", avalia. As mulheres são metade da categoria bancária na base do sindicato.

Na rede pública estadual de ensino, as mulheres são 86% do quadro. E o sindicato da categoria, a Apeoesp, com 185 mil associados no estado, também acaba de eleger nova diretoria. Numa disputa que contou com cinco chapas, foi reeleita com mais de 62% do votos, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, que permanecerá à frente da entidade por mais três anos. E já com campanha em andamento.

Os professores da rede estadual continuam pressionando o governo de São Paulo para que a proposta já anunciada, de reajuste escalonado de 42,2% nos próximos quatro anos, seja aprimorada, com a participação da categoria na apreciação do projeto encaminhado à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O Projeto de Lei Complementar (PLC) 37/2011 dispõe sobre a reclassificação de vencimentos e salários dos integrantes do quadro do magistério. Segundo Bebel, há impasse em torno de gratificações que, na conta dos professores já haviam sido incorporadas ao salário, mas que o governo embute nesses 42,2% que constam do PLC.

"Entendo que a mobilização tem de continuar na perspectiva em que vínhamos, inclusive para conseguirmos mais coisas, como colocar a questão da carreira no centro do debate dos professores", defende. "Não como algo só debatido pelo governo, mas nós também entrarmos com propostas efetivamente. Somente com uma carreira que valorize de fato os profissionais da educação é que a gente vai avançar na qualidade de ensino."

Outra categoria importante e prestes a iniciar campanha salarial, os metalúrgicos do ABC também vêm de processo eleitoral recente, iniciado em março com a eleição dos comitês sindicais de empresa e concluído em maio com a formação da diretoria executiva e conselho diretor da entidade. O atual presidente, Sérgio Nobre, foi reeleito com aprovação de 97,3% da base.

Para ele, o modelo de organização sindical dos metalúrgicos é a "maior riqueza" dos 52 anos da entidade e contribuiu para a conquista da nova gestão. "Isso é um diferencial importante que este sindicato tem e é uma vantagem também", disse. O dirigente enfatiza que a próxima campanha salarial enfrentará dificuldades com as diversas frentes que englobam a categoria (setores de montadora, autopeças e máquinas), por estarem perdendo espaço para a importação.

Ele considera que a reposição da inflação acrescida de aumentos reais, além de compartilhar parte dos ganhos de produtividade das empresas, são essenciais para a distribuição de renda e o crescimento da economia.

Campanha salarial

"O reajuste salarial só traria algum impacto negativo (para a inflação) se fosse superior aos ganhos de produtividade. Isso nunca acontece. Nenhum trabalhador quer este tipo de cenário. Os salários são o grande indutor da economia. O país só cresceu nos últimos oito anos de maneira forte porque as famílias começaram a consumir mais. Manter os salários em crescimento e aumentar a renda da população tem a ver com o crescimento da economia", defende o dirigente.

"Não há nenhuma justificativa para que a categoria não tenha aumento real. Disso não abrimos mão. Não tem nenhum setor brasileiro que não esteja em condição de dar ao trabalhador aumento real", reforça.

Além da recuperação do poder de compra e do aumento real por produtividade, a campanha dos bancários – atualmente em fase de consulta junto à categoria para definição das reivindicações – tradicionalmente inclui a defesa do emprego e o combate à terceirização entre os carros-chefe das reivindicações.

"Estamos vivendo um momento econômico no Brasil muito bom e isso criou mais demanda por crédito, seguros. Isso significou mais trabalho para os bancários. Então temos a demanda de aumentar os postos de trabalho também", afirma Juvandia.

Relação com o governo

Os três dirigentes avaliaram como positiva a relação do governo da presidenta Dilma Rousseff com os movimentos de trabalhadores. Para Bebel, Dilma está seguindo o modelo que o ex-presidente Lula deixou durante seus mandatos.

"Acho que tem de ser desta forma. Mas também tem de avançar", pontuou. Para ela a forma como o Estado está organizado hoje obrigatoriamente faz com que os movimentos sociais sejam reconhecidos como forças a serem levadas em conta antes das tomadas de decisões.

Juvandia ressalta a importância do diálogo estabelecido desde o governo Lula e alerta que os trabalhadores precisam se fazer presentes nas decisões e nas disputas relacionadas ao poder. "O governo vai receber pressão de vários setores. Então os trabalhadores têm de fazer pressão também para fazer valer seus interesses. Tem que negociar e não pode deixar de lado a pressão."

Nobre avalia que a ida do ex-presidente da CUT e dos Metalúrgicos do ABC à Secretaria-Geral da Presidência da República, José Lopez Feijoó, ajudou a manter a boa relação com o movimento sindical. "A razão do Lula ter feito um governo bom e saído com a aprovação que teve foi ter a sabedoria de que os movimentos sociais são interlocutores importantes do governo. Às vezes, colocar sua agenda no governo não significa que será ouvido, mas o fato de você ter espaço para dialogar e apresentar suas demandas é extremamente positivo", avalia.

Fonte: Leticia Cruz, Rede Brasil Atual

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