Dilma, segundo ex-assessor de imprensa de Lula, vai enquadrar os bancos
Balaio do Kotscho (*)
Ao mesmo tempo, pedirá ao Banco Central que faça um levantamento das tarifas cobradas pelos bancos e coloque tudo na internet, para que os seus clientes possam comparar o que pagam com o que é cobrado pela concorrência.
É a chamada tática do constrangimento, que já deu certo quando a presidente anunciou que o País precisava reduzir os juros. Imagino como tenha sido a conversa com os banqueiros.
– Posso contar com vocês?
– Ah, sim, claro, senhora presidenta. O nosso banco vai apoiar com o maior prazer a redução das taxas de juros…
Eles não mentiram. De fato, passaram a cobrar juros um pouco mais baratos, seguindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, até para não perder a clientela. Em seguida, porém, deram ordens para seus executivos elevarem as tarifas, já que prometeram à presidente diminuir os juros, mas não os seus lucros.
Já que nós não estamos habituados a conferir os nossos extratos bancários nos mínimos detalhes, muita gente, assim como eu, nem deve ter percebido o golpe, mas a presidente Dilma estava atenta. A partir do momento em que o Banco Central divulgar todas as tarifas de todos os bancos, ninguém mais terá o direito de ser feito de trouxa. É só escolher aquele que oferece mais e cobra menos.
Ao ver a notícia sobre o aumento das tarifas bancárias nos telejornais da noite de segunda-feira, até me deu um certo desânimo. Já tinha até pensado num título para hoje – "Dilma manda muito, mas quem obedece?" – ao me lembrar dos tempos em que trabalhei no Palácio do Planalto como secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República nos dois primeiros anos do governo Lula.
"Você está mandando muito…", comentavam os colegas ao me ver nervoso dando ordens pelo telefone. "É, estou mandando muito, mas ninguém me obedece…", brincava.
Dilma tem fama de mandona desde que assumiu a chefia da Casa Civil, em 2005, com carta branca do presidente Lula para cobrar os demais ministros e colocar ordem na cozinha do governo. E é claro que, como presidente da República, ela manda muito mais, embora entre as ordens dadas e o seu cumprimento haja um abismo e uma eternidade, que tanto a irritam.
Por isso, achei que mais uma vez o governo seria derrotado na sua cruzada contra a voracidade dos bancos, mas antes que começasse a escrever minha coluna diária apurei as informações sobre quais providências Dilma vai tomar para enquadrar os bancos.
Desde a vinda de D. João VI com toda a família real e sua corte para o Brasil, em 1808 – como se pode ler no brilhante livro do mesmo nome, ou melhor, número, do jornalista Laurentino Gomes, tem sido assim: sempre se procura dar um jeitinho para driblar as leis e levar vantagem em tudo.
Não são só os banqueiros, não, que agem desta forma. Os militares, que deveriam dar o exemplo, formados que são para respeitar a hierarquia e a disciplina, também tentaram dar uma de espertos para não cumprir a Lei de Acesso à Informação.
O repórter Rubens Valente informa na Folha desta terça-feira que, "dias antes de entrar em vigor a Lei de Acesso à Informação, em maio, o Ministério da Defesa usou brecha na lei para elevar o sigilo de documentos militares, o que pode prorrogar o prazo para que eles se tornem públicos".
Trocando em miúdos: os militares simplesmente transformaram em "secretos" documentos antes catalogados como "confidenciais", aumentando de 10 para 15 anos o prazo do sigilo.
Que não percam por esperar. Assim que voltar da viagem que está fazendo hoje a Minas Gerais, certamente a presidente Dilma tomará suas providências para que a lei seja respeitada.
A cada dia sua agonia, uma nova cilada. Não deve ser nada fácil ocupar o cargo de presidente da República do Brasil.
(*)Blog do jornalista Ricardo Kotscho, que entre inúmeras atividades foi assessor de imprensa do primeiro governo Lula