Como parte das atividades comemorativas dos 80 anos do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas do Ramo Financeiro no Estado da Paraíba (Sintrafi-PB), a palestra intitulada Home Office Pandêmico e Saúde Mental, proferida pela Dra. Mirella Cahu, Juíza da 4ª Vara do Trabalho de João Pessoa (TRT 13ª Região), realizada na noite desta quinta-feira (11), pela plataforma Zoom, tratou sobre o adoecimento da categoria e a saúde dos trabalhadores com as novas dinâmicas do trabalho na pandemia.

Formada em Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho, pelo IPQ/HC/USP, com especialização em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a palestrante destacou que mesmo com as adaptações que foram feitas ao longo do trabalho home office, o trabalhador vivenciou os transtornos gerados por essa mudança.

“Quando a Constituição fala em dignidade da pessoa humana, do direito social, e que sempre tem que se visar os direitos assegurados, o trabalhador que foi posto em home office por conta da pandemia faz jus aos mesmos direitos da jornada tradicional na empresa. O trabalho nunca é neutro em relação à saúde, ou ele favorece a doença ou a saúde. A saúde mental dentro do trabalho é uma busca constante que envolve identidade, reconhecimento da beleza do trabalho e o pertencimento, onde o indivíduo deve se sentir pertencente a uma categoria. Esse coletivo foi descontruído quando trabalhadores e trabalhadoras foram deslocados trabalhar em suas residências. Além disso, é importante que o empregado saiba gerenciar essa nova dinâmica”, analisou.

Para ela, os empregadores devem promover formação de como gerir o trabalho em home office e considerar a preocupação com o sofrimento do trabalhador decorrente da sobrecarga, já que a segunda maior causa de afastamento no trabalho é decorrente do adoecimento laboral no Brasil.

Ainda segundo ela, o cenário de luto precisa ser respeitado, uma vez que não adianta negar as sensações impostas por uma condição de perda e alterações na rotina diária no trabalho. Ela fez referência ainda, a diversas pesquisas, como a da Universidade de São Paulo (USP), que identificou 32% dos entrevistados com algum tipo de transtorno referente a pensamentos negativos constantes, entre outros.

Divisão sexual do trabalho

Dra. Mirella chamou a atenção para a complexa jornada de trabalho das mulheres em home office, que têm uma sobrecarga de trabalho maior na pandemia. “De forma genérica, os homens vão trabalhar em casa e se isolam para executar o serviço. Já as mulheres, pelo histórico de assunção de funções dentro do ambiente familiar, uma vez que não podem contar o apoio de uma trabalhadora doméstica e nem levar os filhos à creche, acumulam essas funções com o trabalho e, nesse sentido, os sindicatos devem dar uma atenção especial a esse impacto negativo na jornada laboral das mulheres em home office”, ressaltou.

Washington Luiz, secretário de saúde do trabalhador do Sintrafi-PB, avaliou o evento como muito positivo e agradeceu à Dra. Mirella Cahu pela brilhante palestra, em nome da diretoria. “É muito gratificante podermos contar com a experiência da uma juíza do trabalho que se dispôs a vir nos brindar com os seus conhecimentos acadêmicos de pesquisadora dos transtornos mentais relacionados ao trabalho, nos municiando de informações valiosas no desempenho de nossa difícil missão na luta em defesa dos interesses da categoria bancária, vítima de muitas doenças ocupacionais, agravadas com a pandemia. Gratidão aos que prestigiaram a palestra e, de forma especial, à palestrante”, concluiu.