O trabalho de inspeção do BC no Rural teve início em junho e levou cerca de dois meses. Depois disso, a autoridade ainda levou um mês na elaboração do termo finalmente apresentado do Rural em 20 de setembro. Nele, o BC requisitava uma série de ajustes para adequar o balanço do banco, rigorosamente, às normas em vigor.
De acordo com Lima, a lista continha aumento de provisões por operações de crédito no Brasil e no exterior, reforços em provisões trabalhistas e para ações cíveis, entre outros.
Dos R$ 180,936 milhões em ajustes pedidos pelo BC, o banco fez R$ 112,022 milhões já no balanço de 30 de setembro de 2011. Com isso, o patrimônio líquido do banco, que era de R$ 402,5 milhões em 30 de junho, caiu para R$ 370,9 milhões em setembro – alguns ajustes afetaram diretamente o patrimônio e outros foram lançados no resultado, com o banco registrando prejuízo de R$ 28 milhões no trimestre e acumulado de R$ 25 milhões no ano até setembro.
Do total de ajustes solicitados, restavam ainda R$ 68,9 milhões a resolver. Desses R$ 37 milhões foram registrados antes do fim do ano e devem aparecer no balanço de 31 de dezembro a ser publicado – referiam-se a depósitos judiciais de ações trabalhistas que já haviam motivado ressalva do auditor independente do banco.
Quanto aos R$ 32 milhões restantes, o Rural apresentou defesa ao BC para tentar reverter a decisão. Lima explica que referem-se a aumentos de provisão porque o BC entendeu que os devedores deveriam ser enquadrados numa classificação de risco pior. "Acreditamos que não há necessidade de mais provisões porque temos convicção de que temos boas garantias, que alguns clientes são antigos e as prestações estão em dia", argumentou Lima.
"Agora as questões patrimoniais estão todas resolvidas e com uma grande limpeza no balanço", disse. O aumento de capital foi feito com recursos dos controladores. João Heraldo Lima não adiantou números do balanço anual, mas disse que o índice de Basileia, que mede a alavancagem do banco, fechou acima de 12%. Ele não comentou, mas tudo faz supor que o banco terá prejuízo no acumulado do ano, considerando-se os ajustes adicionais de dezembro.
O executivo destacou a forte evolução da carteira de crédito do Rural nos últimos quatro anos, que saiu de R$ 1,1 bilhão em 2008 para R$ 2,9 bilhões em 2011. "Não podíamos interromper esse trabalho de recuperação do banco, e o aumento de capital mostra que o acionista tem compromisso com o negócio."
João Heraldo Lima disse que o banco não está à venda. Em sua edição de ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" trouxe reportagem afirmando que o Banco Original, do grupo JBS, negocia a compra do Rural. "Não existe negociação para venda, o banco não está à venda", afirmou.
Mas ele deixou no ar a possibilidade de um negócio de outra natureza, como um acordo operacional. O excesso de capital e liquidez do Original casaria bem com a capacidade de geração de crédito e a baixa capitalização do Rural.
Fonte: Valor Econômico / Vanessa Adachi e Carolina Mandl