O Banco Central, com uma ajuda do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), está "estimulando" uma consolidação no sistema financeiro nacional, segundo executivos de bancos. Tem chamado informalmente instituições financeiras em situação mais confortável a comprar os bancos com mais necessidade de capital e perdas recorrentes.
 

Em troca, o FGC oferece empréstimos com juros mais baixos do que os do mercado. Muitas vezes os empréstimos se tornam dívida subordinada, que entra como capital no balanço da instituição financeira compradora, ajudando a dar para a instituição compradora mais espaço para criar ativos e emprestar.

Razões políticas, econômicas e pressões diversas podem levar o banco consolidador a concordar com a aquisição. Fundos de private equity estrangeiros interessados em bancos médios, que têm visto o preço de suas ações cair, podem ajudar no processo de consolidação.

Até mesmo a investidores estratégicos nacionais e estrangeiros o BC tem oferecido bancos menores em situação mais difícil e com pouco capital em troca de uma licença imediata. O processo de aprovação de licença de um banco pelo BC, depois de colocado o pedido, pode durar mais de um ano.

Segundo apurou o Valor, o estímulo do BC é parte determinante no processo de compra do Banco Schahin pelo BMG. A aquisição do Banco Morada também pelo BMG, cuja negociação está em andamento, será mais um desses casos. A polêmica é justamente qual o valor que o FGC deve emprestar em cada caso. Era essa a questão em debate ontem e que atrasou o anúncio da aquisição do Schahin pelo BMG.

O Banco Schahin estava com o índice de Basileia de 10,97% em dezembro – abaixo do mínimo de 11% exigido pelo BC – e tinha um patrimônio de R$ 229 milhões. O Banco Morada tinha o índice de alavancagem de 11% e patrimônio de R$ 69,4 milhões em dezembro.

Os dois bancos vão consumir parte do Basileia do BMG, de 14,49%. Mas a GE Capital, comprada pelo BMG em setembro, tinha em dezembro Basileia de 37,96%.

O banco da família mineira Pentagna Guimarães pode ter feito a aquisição para "comprar" espaço no Basileia da GE Capital já se preparando para entrar como consolidador no processo estimulado pelo BC.

O Banco Matone, comprado pelo JBS em março, estava em dezembro com um índice de Basileia de 4,3%, muito abaixo do mínimo exigido pelo BC, conforme antecipou oValor. Não foi divulgado, na época, se o FGC teria participado da transação.

A compra do PanAmericano pelo BTG, como se sabe, envolveu bilhões do FGC. Essas aquisições, de acordo com executivos de bancos, são apenas o começo de um processo que pode envolver, em breve, mais bancos médios.

O caso do Banco Panamericano e o aperto de liquidez decorrente para os bancos pequenos e médios, principalmente os que fazem cessão de carteiras de crédito consignado, só tornou o processo mais urgente.

A retirada imediata de estímulos à captação dos bancos menores colocados na época da crise de 2008 tem agravado a preocupação mais urgente com o caixa dessas instituições financeiras no curto prazo e acelerado o processo de consolidação.

Para completar, mudanças contábeis previstas para o início de 2012 vão apertar mais o patrimônio dos bancos que vivem de conceder crédito consignado e vender carteiras.

De imediato, com impacto relevante no caixa das instituições menores, já em junho acaba um estímulo para os bancos grandes comprarem carteiras dos menores e seus Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDIs).

Hoje, os grandes podem usar até 36% dos depósitos compulsório sobre depósitos a prazo nessas aquisições. Em fevereiro, 36% desses compulsórios representavam R$ 40 bilhões. A partir de junho, o compulsório não poderá mais ser usado para esse fim.

Não é à toa que os bancos de médio porte estão fazendo fila para levantar recursos no exterior. Neste momento, há transações no mercado do Banco Pine, de US$ 100 milhões, pelo prazo de vencimento em cinco anos, do Banco Bonsucesso, também por cinco anos, e do Cruzeiro do Sul, por três anos.

Segundo o Valor apurou entre os investidores, o Cruzeiro do Sul propôs inicialmente a taxa de juros de 7,5% ao ano, que depois foi elevada para 7,75% e neste momento está em 8% ao ano. Bem diferente do que tem acontecido com a emissão da Hypermarcas, que está com demanda superior a US$ 2 bilhões e juros de 7% para dez anos.

O BMG captou na semana passada US$ 300 milhões por sete anos e pagou rendimento de 8,25% ao ano, o que fica bem caro, após a conversão da dívida para o real. Chega a mais de 14% dos juros do CDI.

Em janeiro do ano que vem, os bancos médios terão ainda de reduzir em 20% ao ano os limites de captação dos depósitos a prazo com garantia do FGC. O estoque dessas transações era de mais de R$ 20 bilhões em abril.

Para completar, os bancos médios têm de lidar com medidas macroprudenciais do BC, que impactam o crédito de longo prazo, e mudanças contábeis que vão impedir o negócio no qual se especializaram: produzir crédito consignado para vender e contabilizar os ganhos na hora da venda.

Fonte: Valor Econômico