SÃO PAULO – O Banco Central está exigindo provisões adicionais para os bancos médios, o que reduziu as operações de crédito dessas instituições nos últimos meses, de acordo com fontes do setor financeiro ouvidas pela Agência Estado. Os bancos estão prevendo prejuízo para o segundo trimestre e atribuem o resultado ruim aos ajustes pedidos pelo órgão regulador. Com isso, afirmam que a saída encontrada foi diminuir a concessão de crédito.

Em um dos bancos médios, focado em crédito à pequena e média empresa, segundo as fontes, a provisão extra exigida pelo BC superou R$ 1 bilhão. Em outros, o BC pediu menos. No Rural, por exemplo, o ajuste exigido foi de R$ 181 milhões, segundo explicação no último balanço divulgado pelo banco mineiro. Os ajustes foram pedidos após fiscalização de rotina do BC nos bancos que, em alguns casos, considerou as provisões insuficientes para fazer face a possíveis calotes.

Enquanto fazem os ajustes pedidos pelo BC, as fontes dizem que os bancos pararam de emprestar. Um diretor de um banco focado no crédito a empresas diz que essa postura de maior rigor do BC freia o crédito num momento em que o governo quer estimular os empréstimos para reaquecer a economia.

Outro executivo de instituição de médio porte também admite que as operações em sua instituição estão praticamente paradas. A razão, segundo ele, é que o banco teme emprestar sem saber antecipadamente se o BC vai exigir provisões extras. Dados do primeiro trimestre, baseados no balanço de doze bancos de menor porte, mostram queda das carteiras de 4% ante o quarto trimestre de 2011.

Uma das razões para o maior rigor da análise do BC, dizem fontes próximas ao governo, é o cuidado em manter a solidez do sistema após a descoberta das fraudes no PanAmericano e de problemas em outros bancos, como o Morada e a financeira Oboé, ambos sob intervenção desde o começo de 2011. Mais recentemente, a fraude no Cruzeiro do Sul fez o BC redobrar a atenção, intensificando a fiscalização das carteiras de crédito e gestão de risco dessas instituições.

O cenário de crise na Europa também inspirou cautela adicional por parte da autoridade monetária. Segundo as fontes, a maior aversão ao risco pode inibir potenciais compradores de ativos desses bancos, como CDBs e carteiras de crédito. No caso da cessão de carteiras, com a provisão adicional, o BC pode estar querendo evitar casos semelhantes aos do Panamericano e do Cruzeiro do Sul.

Entre os fatores que motivam o BC a exigir mais provisões está a forma como certos empréstimos foram classificados pelos bancos. Segundo fonte próxima ao governo, no pente fino, o regulador pediu que determinadas operações avaliadas como de baixo risco pelas instituições fossem reclassificadas para níveis piores de risco. Com isso, foi necessário provisionar mais dinheiro para fazer frente a possíveis calotes. No primeiro trimestre, os balanços dos doze bancos médios analisados pela Agência Estado mostram que foram provisionados R$ 3,5 bilhões, um crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2011.

Alguns bancos questionam a avaliação do BC. Acham que o regulador é rigoroso demais e dizem que mesmo empréstimos que vinham sendo pagos em dia, com garantia real, como financiamento de veículos, tiveram o rating de crédito rebaixado. Em um dos bancos avaliados, o BC pediu para que a classificação de determinados empréstimos baixasse de um dos melhores ratings para um dos piores, na escala que vai de A a H, onde o A é a melhor nota e H, a pior.

Outros especialistas argumentam que a postura mais rigorosa se justifica, pois o BC vem reforçando nos últimos anos a regulação prudencial, para se antecipar a quebras de bancos e problemas de solvência no sistema financeiro. As avaliações do BC são feitas caso a caso. Em determinados bancos, permite que o aporte extra nas provisões seja feito de forma escalonada, pois avalia que a instituição tem bom nível de capital e está sólida.

 
Fonte:  Agência EstadoAltamiro Silva Júnior

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