Enquanto fazem os ajustes pedidos pelo BC, as fontes dizem que os bancos pararam de emprestar. Um diretor de um banco focado no crédito a empresas diz que essa postura de maior rigor do BC freia o crédito num momento em que o governo quer estimular os empréstimos para reaquecer a economia.
Outro executivo de instituição de médio porte também admite que as operações em sua instituição estão praticamente paradas. A razão, segundo ele, é que o banco teme emprestar sem saber antecipadamente se o BC vai exigir provisões extras. Dados do primeiro trimestre, baseados no balanço de doze bancos de menor porte, mostram queda das carteiras de 4% ante o quarto trimestre de 2011.
Uma das razões para o maior rigor da análise do BC, dizem fontes próximas ao governo, é o cuidado em manter a solidez do sistema após a descoberta das fraudes no PanAmericano e de problemas em outros bancos, como o Morada e a financeira Oboé, ambos sob intervenção desde o começo de 2011. Mais recentemente, a fraude no Cruzeiro do Sul fez o BC redobrar a atenção, intensificando a fiscalização das carteiras de crédito e gestão de risco dessas instituições.
O cenário de crise na Europa também inspirou cautela adicional por parte da autoridade monetária. Segundo as fontes, a maior aversão ao risco pode inibir potenciais compradores de ativos desses bancos, como CDBs e carteiras de crédito. No caso da cessão de carteiras, com a provisão adicional, o BC pode estar querendo evitar casos semelhantes aos do Panamericano e do Cruzeiro do Sul.
Entre os fatores que motivam o BC a exigir mais provisões está a forma como certos empréstimos foram classificados pelos bancos. Segundo fonte próxima ao governo, no pente fino, o regulador pediu que determinadas operações avaliadas como de baixo risco pelas instituições fossem reclassificadas para níveis piores de risco. Com isso, foi necessário provisionar mais dinheiro para fazer frente a possíveis calotes. No primeiro trimestre, os balanços dos doze bancos médios analisados pela Agência Estado mostram que foram provisionados R$ 3,5 bilhões, um crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2011.
Alguns bancos questionam a avaliação do BC. Acham que o regulador é rigoroso demais e dizem que mesmo empréstimos que vinham sendo pagos em dia, com garantia real, como financiamento de veículos, tiveram o rating de crédito rebaixado. Em um dos bancos avaliados, o BC pediu para que a classificação de determinados empréstimos baixasse de um dos melhores ratings para um dos piores, na escala que vai de A a H, onde o A é a melhor nota e H, a pior.
Outros especialistas argumentam que a postura mais rigorosa se justifica, pois o BC vem reforçando nos últimos anos a regulação prudencial, para se antecipar a quebras de bancos e problemas de solvência no sistema financeiro. As avaliações do BC são feitas caso a caso. Em determinados bancos, permite que o aporte extra nas provisões seja feito de forma escalonada, pois avalia que a instituição tem bom nível de capital e está sólida.