O Banco do Brasil fechou ontem uma captação de US$ 1 bilhão no exterior que poderá servir de referência para diversas instituições financeiras não só no Brasil, mas em todo o mundo. Os recursos captados, que poderão ser usados pelo banco como se fossem capital (com força semelhante a uma emissão de ações), deixa em aberto a possibilidade de o BB ajustar as características dos papéis para adequá-lo, no futuro, às novas regras de Basileia 3, ainda não definidas pelo Banco Central (BC).

"Essa foi uma operação inédita no mundo", diz Ivan Monteiro, vice-presidente do BB. "Deve servir de exemplo para outros emissores no Brasil", completa.

A cláusula incluída no negócio permite que o BB faça os ajustes necessários para que o bônus continue sendo aceito como capital de Nível 1 (o mais forte) sem precisar consultar os investidores do papel. "Essa foi uma operação inovadora para acomodar futuras exigências de Basileia 3 assim que elas forem adotadas no Brasil", diz Alexei Remizov, diretor do HSBC, um dos bancos líderes da operação.

"A emissão mostra que o mercado está muito aberto. Os investidores passaram muito tempo sem alocar capital e agora estão colocando muito dinheiro para trabalhar", diz Luís Berlfein, chefe da area de originação e distribuição de renda fixa do BNP Paribas, também líder da operação.

O Banco do Brasil captou US$ 1 bilhão em bônus subordinados perpétuos (sem vencimento), denominados em dólar, com rendimento de 9,25% ao ano. Essa taxa pode ser comparada ao custo de capital do banco, estimado pela administração entre 13% e 14%. "Ao captar com essa taxa, agregamos imediatamente valor para o acionista", diz Monteiro.

Inicialmente, a operação estava planejada para US$ 750 milhões, mas a demanda superior a US$ 6,2 bilhões permitiu a ampliação do negócio. Além do BNP e do HSBC, lideraram a captação o BB Securities, Citigroup e Standard Chartered Bank.

Rodrigo Fittipaldi, diretor do BNP Paribas, explica que a operação foi pensada para atender a regulação como ela é hoje, mas incluindo uma opção que trata de possíveis mudanças para que o papel continue a ser tratado como capital de Nível 1 quando as novas regras forem adotadas. "Essa é uma nova classe de ativos que vai crescer bastante na América Latina e no mundo", diz.

Por conta dessa inovação, não é possível comparar o custo da nova emissão (9,25%) com o preço do bônus perpétuo lançado pelo BB em 2009, a 8,5%. Agora, o preço esperado pelo BB era de 10% ao ano.

A regulamentação de Basileia vem passando por aprimoramentos após a crise financeira de 2008. A nova norma, Basileia 3, ainda não está totalmente definida, mas deverá ampliar fortemente as exigências para que um instrumento de dívida (como uma captação externa) seja aceito como capital para reforçar o balanço do banco.

A autoridade monetária brasileira soltou no início do ano passado algumas premissas que deverão ser adotadas no Brasil, mas a norma final não foi publicada.

Entre as novas exigências que poderão ser incorporadas ao papel estão o direito de o banco suspender o pagamento de cupom nos casos de um problema de solvência. Outra alteração deve incluir a possibilidade de o investidor perder o investimento principal caso o banco fique desenquadrado das regras de Basileia para capital de Nível 1 (inicialmente abaixo de um piso de 6,125%). Além disso, o título já contém outras características exigidas pelo regulador para ser considerado capital de Nível 1: papéis perpétuos e subordinados.

Desde o início do ano, o Brasil já atraiu US$ 3,6 bilhões em quatro operações no exterior: Tesouro Nacional, Vale e Bradesco, além do BB. São aguardados novos emissores na próxima semana.

Fonte: Fernando Travaglini – Valor Econômico

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