Depois de iniciarem a redução das taxas dos empréstimos, os bancos públicos dão a largada agora à diminuição das taxas de administração dos fundos de investimento no varejo. Desde ontem, o Banco do Brasil (BB) reduziu o percentual cobrado em cinco carteiras DI e de renda fixa com aplicações entre R$ 50 e R$ 200,00 e que reúnem patrimônio de R$ 877 milhões.
É o primeiro grande banco a fazer esse movimento desde que a queda da taxa de juros passou a tornar essas carteiras menos competitivas em relação à poupança e até aos CDBs. Outros bancos, como Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Real limitaram-se a reduzir a aplicação mínima das carteiras com taxas mais baixas. Mas os investidores que já estavam nas carteiras mais caras não foram beneficiados.
Além da taxa, o BB também diminuiu os valores de aplicação desses cinco fundos e de outros 17 que já possuem custos menores, com um patrimônio total de R$ 18,5 bilhões. Um fundo DI com taxa de administração de 2,5% teve sua aplicação mínima reduzida de R$ 10 mil para R$ 5 mil. Outra carteira com taxa de 0,8% que só aceitava aplicações de R$ 200 mil receberá agora valores de R$ 90 mil.
Apesar da redução, as taxas dos fundos mais populares do BB continuam elevadas (entre 3% e 4%) se forem comparadas ao que seria necessário para competir com a caderneta de poupança no cenário de juro baixo atual. Os cálculos usando os juros de 8,75% e considerando fundos que rendam o CDI, sem ganhos extras, é que um fundo teria de cobrar no máximo 1% e por prazos acima de seis meses. Mas é uma mudança em relação ao comportamento geral do mercado, de não mexer no chamado "estoque" de fundos mais caros. E há bancos que ainda mantêm fundos com taxas de 5% ao ano, como o Santander Classic DI. O Valor consultou os três maiores bancos privados – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Real, e eles informaram que já reduziram os valores de aplicação e não pretendem fazer novas mudanças.
A queda dos juros básicos da economia exige um ajuste nas carteiras de fundos dos bancos para dar mais acesso a um universo maior de clientes, diz Carlos Massaru Takahashi, diretor executivo da BB DTVM, gestora de recursos do BB. "O desafio do setor de fundos vai ser ficar mais vigilante, revisar mais os portfólios para que seus custos e valores de aplicação estejam coerentes com as condições de mercado", diz. Além disso, será preciso mais criatividade e inovação para ampliar a oferta de fundos com diferenciais para ganhar da renda fixa. "E tudo isso tem de ser traduzido em fundos fáceis de serem entendidos pelo grande público", diz Janio Carlos Endo Macedo, diretor de Varejo do BB.
Nessa estratégia, o BB deve lançar em setembro duas carteiras. Uma será um fundo multimercado balanceado, com ações e renda fixa, mas sem alavancagem, para o varejo de alta renda, com aplicação em torno de R$ 5 mil, aproveitando a tendência de diversificação que o juro baixo vai trazer. A outra, para o varejo, será um fundo de renda fixa que dará prêmios, com aplicação entre R$ 50 e R$ 100. "Queremos montar um fundo que dê mais prêmios, mesmo que de menor valor, mas que permita mais gente ganhar", afirma Macedo.
Para ele, não há ainda uma migração de fundos para a poupança. "O que há é que parte dos recursos novos estão indo para a caderneta", diz. Ele observa também que os fundos têm vantagens sobre a poupança, como a liquidez diária, e podem render acima do CDI em determinadas situações. O BB, via BB DTVM, é o maior gestor de recursos do Brasil, com cerca de R$ 300 bilhões.
Fonte: Valor Econômico / Angelo Pavini, de São Paulo