Os bancos federais receberam uma nova missão do governo: aumentar a concorrência no mercado de cartões de crédito. Depois de liderar a oferta de empréstimos durante a crise, essas instituições começam a pôr em prática um plano ambicioso.

Na Caixa Econômica Federal, está sendo preparada uma nova frente de negócios para o segmento de baixa renda e há intenção de emitir até 30 milhões de cartões para esse público.

No Banco do Brasil, foi quebrado um duopólio de décadas e a instituição começou a oferecer uma terceira marca aos clientes de maior renda, a American Express.

Segundo informação dada ao Estado por fonte diretamente envolvida com o assunto, os bancos públicos vão agir alinhados com o plano da equipe econômica de remodelar o mercado de cartões, que é concentrado em poucas empresas.

O Banco Central e os Ministérios da Fazenda e da Justiça trabalham numa proposta de nova regulamentação do setor, que deverá ser divulgada no fim de setembro. A intenção do governo é aumentar a concorrência para elevar o uso dos pagamentos eletrônicos e, ao mesmo tempo, reduzir custos para os clientes e varejo.

Nesse projeto, a Caixa e o BB querem repetir o sucesso da ação recente no crédito. Desde o agravamento da crise em setembro de 2008, essas instituições aumentaram a oferta de financiamentos e passaram a reduzir os juros para tentar normalizar as condições do mercado.

O movimento deu certo e foi seguido pelas instituições privadas. Para o governo, o plano pode ser aplicado nos cartões porque Caixa e BB têm posição relevante: juntos, têm um quarto do mercado.

Nessa empreitada, o plano mais ambicioso é da Caixa. Diretores da instituição estão debruçados sobre um novo modelo de negócio para a baixa renda. A ideia é oferecer o cartão como uma "porta de entrada" para as pessoas que ainda não têm relação com o sistema financeiro. No mercado, o movimento é chamado de "bancarização".

O alvo passa pelos beneficiários do programa Bolsa-Família, que têm renda mensal garantida e recebem o dinheiro em correspondentes bancários da própria Caixa nas lotéricas. Trabalhadores informais também serão alvos desse projeto.

Para conseguir operar os 30 milhões de cartões desse público, a Caixa pretende usar um novo modelo de credenciamento com o comércio. O sistema atual de credenciamento é um dos pontos que mais recebem críticas dos técnicos do BC e da Fazenda. Para o varejo, é caro pagar pelo aluguel das máquinas de leitura dos cartões e também à empresa que administra o cartão – em alguns casos, mais de 5% do valor da compra fica com a administradora.

A Caixa deve oferecer aos clientes cartões de débito, crédito e uma nova modalidade pré-paga. Deve, ainda, reduzir os juros cobrados. Em algumas situações, usar o crédito rotativo do cartão é mais caro que o cheque especial. Atualmente, a Caixa tem 55 milhões de cartões de crédito e débito em circulação.

No BB, o plano é crescer na classe média. Historicamente, o banco sempre ofereceu cartões com a marca Visa aos clientes. No Brasil, o BB é um dos sócios da VisaNet, empresa que processa as transações Visa no País. Como alternativa, o BB também comercializa, em volume bem menor, cartões com a bandeira MasterCard.

Mas, desde meados do mês passado, clientes de maior poder aquisitivo começaram a receber propostas para aderir ao cartão American Express emitido pela própria instituição. No BB, a intenção é emitir até 100 mil cartões com essa marca até o fim do ano.

A avaliação no governo é que, com os novos consumidores do banco federal, a American Express terá maior poder de barganha na reorganização do mercado. Isso será importante para tentar equilibrar forças nesse mercado dominado por Visa e MasterCard.

Fonte: Fernando Nakagawa – O Estado de S.Paulo