Em entrevista à Exame na última quinta-feira (9), o presidente do BB, Paulo Rogério Caffarelli, como se estivesse divulgando uma ação de marketing, disse que, mais do que o valor repassado aos funcionários, “a gente vai poder comunicar que todo empregado é também dono da empresa”.
“Nosso mote agora, nossa campanha é: no Banco do Brasil você é atendido pelo dono”, completou.
Para Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil e diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), o anúncio mostra que os setores do banco não dialogam entre si e que a atual direção não tem respeitado as instâncias de negociação com os sindicatos que representam os trabalhadores.
“Além de não apresentarem a proposta na mesa de negociação, a direção do banco usa um discurso muito perigoso para tentar vender a medida, que é tentar responsabilizar o trabalhador pelos resultados apresentados pelo banco”, diz.
“Quer dizer que o bancário terá de responder pelas filas e pela falta de funcionário para atender a demanda? Vão jogar as responsabilidades nas costas dos funcionários para dizer que são donos do banco por causa de apenas três ações?”, questiona.
“O efeito de propriedade é tão insignificante que é desonesto e absurdo dizer que somos donos do banco”, contesta o dirigente.
Negociação do sindicato é mais vantajosa ao trabalhador
Segundo Wagner, o valor total de 9,6 milhões de reais com a distribuição das ações aos trabalhadores representa 0,02% do total de ações do banco. “Esse valor é irrisório a cada trabalhador, muito inferior ao montante que conquistamos quando propusemos ao BB distribuir 200 ações a cada funcionário por ocasião dos 200 anos do banco.”
“Na época, não foi possível fazer o pagamento por meio das ações, então conseguimos o pagamento da bonificação de R$ 1.300 a cada funcionário independentemente do tempo de banco”, conta.
O valor negociado representou, na época, cerca de 93 ações para cada funcionário, conta Wagner. “Se tivessem colocado essa proposta na mesa de negociação, mostraríamos que o trabalhador merece muito mais do que três ações”, diz.
Segundo ele, desde 2016, quando uma nova direção assumiu o banco no pós-golpe, as negociações estão cada vez mais difíceis e o banco não apresenta mais nenhuma proposta, apostando que as ações de marketing “maquiadas” de benefício ao trabalhador possam enfraquecer a negociação com o sindicato.
“Eles apostam nessa postura, mas vão perceber que os trabalhadores sabem que quem luta e garante conquistas para a categoria é o sindicato.”
Campanha salarial 2018
O Banco do Brasil, que teve um lucro líquido ajustado de R$ 6,3 bilhões no 1º semestre de 2018, um aumento de 21,4% em 12 meses e 7,1% no trimestre, não apresentou uma proposta final concreta para a Convenção Coletiva na mesa de negociação e acompanhou os bancos privados na proposta de reposição da inflação nas cláusulas econômicas.
Diversos pontos de reivindicação dos bancários não tiveram retorno, como a proposta de renovação do protocolo de resolução de conflitos, que mantém um canal para as denúncias de assédio moral.
Para Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, a proposta do banco foi insuficiente e incompleta e a categoria aguarda a próxima rodada de negociação, marcada para o dia 17 de agosto.
CUT