O banco de capital holandês ING definiu a estrutura para vender sua atividade no setor de seguros no mundo todo, o que inclui a saída de participação de 36% no capital total da brasileira SulAmérica, fatia cujo valor de mercado é estimado em R$ 2 bilhões.

O banco separou a atividade em três companhias: uma, englobando os Estados Unidos, outra, que inclui a Europa e países da Ásia, inclusive emergentes, e outra, englobando a América Latina. As duas maiores empresas, dos Estados Unidos e da Europa/Ásia, serão vendidas em bolsa, por meio de uma oferta pública inicial de ações (do inglês, IPO).

Ainda não há uma definição sobre como será feita a venda da empresa na América Latina, da qual a cereja no bolo é justamente a SulAmérica – o maior grupo segurador independente – segundo informou o banco por meio da assessoria de imprensa. A venda ainda está na sua fase inicial de negociações e avaliações.

A lista de interessados cresce dia a dia. Rumores de que a Zurich chegou a negociar com o ING tomaram conta do mercado. O ING e a Zurich não confirmaram as conversas. Segundo banco de investimento, no entanto, a seguradora suíça teria interesse no controle da companhia e a família Larragoiti, fundadora da Sul América há 115 anos e controladora, não tem interesse em vender sua parte.

Aparentemente, a família não definiu ainda se vai ou não exercer o direito de preferência na compra da participação do ING, que não descarta vender as ações da empresa latino-americana na Bolsa de Valores de São Paulo em oferta pública e poderia estar somente esperando um bom momento para o mercado de ações.

Entre os investidores estratégicos possíveis interessados na SulAmérica, foram citados também o Bradesco, as seguradoras Met Life e Royal & Sun Alliance (RSA), a francesa AXA e a New York Life.

Procurada pela reportagem, a SulAmérica Seguros respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não comenta rumores de mercado". Também procuradas, as seguradoras MetLife e Royal & Sun Alliance (RSA) responderam que não têm comentários sobre a operação. A AXA e a New York Life não responderam aos pedidos de entrevista. O Bradesco informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece o assunto, e a Zurich, que chegou a declarar ao Valor interesse em realizar alguma aquisição no Brasil, também preferiu não comentar.

O ING já vendeu para a AXA sua área de seguros no México, mas mantém atividade de fundos de pensão, fundos mútuos, leasing e hipotecas. No Chile, tem atuação em seguro de vida, fundos de pensão, poupança voluntária e fundos mútuos. No Peru, tem atividade de seguro de vida. Na Colômbia, Uruguai e no Peru atua com fundos mútuos e de pensão. O banco holandês se classifica como o segundo maior no segmento de fundos de pensão na região, logo após o líder, o espanhol BBVA.

O ING está vendendo sua fatia na SulAmérica não porque esteja descontente com ela, mas sim porque está sendo forçado a isso. Em outubro de 2008, teve de aceitar se desfazer da atividade de seguros no mundo todo para que a União Europeia aprovasse seu socorro financeiro. Na época, houve 7 mil funcionários demitidos no mundo todo, 1,5 mil no banco de atacado. No início de 2009, a instituição reduziu também sua atuação como banco de investimento no Brasil, que agora foi retomada em dimensão menor.

O grande número de interessados no negócio da Sul América se justifica: o mercado segurador brasileiro vem crescendo ao ritmo de 15% ao ano desde 2008, praticamente o dobro do crescimento do PIB. O volume de prêmios acumulados nos primeiros nove meses do ano somou R$ 63,5 bilhões, o que representou um incremento de 16,2% em relação ao mesmo período de 2009, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão regulador e fiscalizador do mercado. Esse número não inclui o seguro saúde, que está sob a jurisdição da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Os maiores segmentos do mercado, automóveis e vida, são também os que mais crescem. No acumulado em nove meses, a receita em prêmios nas vendas de seguros de automóveis (excluindo o Dpvat) somou R$ 14,6 bilhões, 15,4% a mais que no mesmo período do ano passado. O seguro de previdência complementar privada, o VGBL, até setembro registrou faturamento de R$ 24,5 bilhões em prêmios, o que representou um crescimento de 20,7% em relação a igual período do exercício passado.

 
Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi, Aline Lima e Janes Rocha

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