Os bancos estão longe de se recuperar da crise, apesar dos bilhões de dólares de ajuda dos governos, e vários dificilmente escaparão de quebras diante de mais perdas de crédito, custos mais elevados de funding e dificuldades para refinanciar suas dívidas.

O alerta é do Banco Internacional de Compensações (BIS), banco dos banco centrais, em seu relatório anual, notando que o contágio das dificuldades fiscais de países desenvolvidos aos bancos agrava as dificuldades do setor. Várias instituições e sistemas bancários continuam a ter um nível de alavancagem importante e são mantidos "artificialmente em vida".

Bancos alemães têm mais "empréstimos podres" em seus balanços do que rivais no resto da Europa, segundo um estudo da PriceWaterhouseCooper citado pela agência "Reuters". O volume de inadimplência chega a ? 213 bilhões, 50% a mais do que no ano passado. No caso dos bancos britânicos, o valor é de ? 155 bilhões, dos espanhóis, ? 96,8 bilhões, e do italianos, ? 59 bilhões.

O BIS questiona a perenidade dos lucros dos bancos, deixando claro que isso não está garantido no futuro. Primeiro, os lucros de muitas instituições da Europa e dos EUA em 2009 dependeram em boa parte dos ganhos, normalmente voláteis, obtidos nos mercados de renda fixa e divisas. A relação empréstimos/depósitos de muitos grandes bancos internacionais diminuíram no ano passado. Os dados agregados dos EUA, da zona euro e do Japão mostram que o crédito ao setor privado também se contraiu em 2009, depois de já ter se desacelerado em 2008, quando os bancos endureceram seus critérios de concessão de crédito.

Em segundo lugar, a curva de rendimento se achatou. Num contexto de estagnação dos financiamentos a empresas e ao setor imobiliário residencial, os bancos conseguiram obter lucros canalizando os fundos para títulos de mais longo prazo sem risco de calote. Com isso, se expuseram ao risco de que um achatamento da curva de rendimento possa elevar seus custos de financiamento ou ocasionem perdas sobre a valorização de seus ativos.

Terceiro, as depreciações de ativos continuam. Jaime Caruana, diretor-geral do BIS, nota que as perdas ligadas à crise não foram totalmente contabilizadas, sobretudo nos bancos europeus. O BIS prevê novas perdas com a exposição no setor imobiliário de uso comercial.

Nos EUA, os preços dos imóveis comerciais caíram mais de um terço, e a taxa de inadimplência no setor duplicou para mais de 8%. Na Europa, a situação não é melhor, com a Irlanda e o Reino Unido registrando quedas de preços dos imóveis comerciais de 39% e 46% respectivamente comparado ao pico, o que elevará as perdas dos bancos nos próximos anos. Alguns bancos teriam decidido refinanciar os créditos existentes em vez de executar as hipotecas, adiando assim o reconhecimento das perdas.

Em quarto lugar, o receio de muita exposição dos bancos ao risco soberano, especialmente em relação à dívida pública de Espanha, Grécia e Portugal.

A rentabilidade está ameaçada igualmente pela dificuldade para refinanciar-se, diante da demanda prevista de fundos por parte dos governos. Os prazos de vencimento do financiamento foram reduzidos ao menor nível dos últimos 30 anos, o que aumenta as necessidades de capital do setor financeiro.

Mais de 60% da dívida de longo prazo dos bancos vence nos próximos três anos. Nos próximos dois anos, o vencimento de dívidas chega a US$ 3 trilhões. Os refinanciamentos interbancários estão mais caros.

Outro problema é o financiamento em dólares. Numerosos bancos europeus e de outros países dependem em grande medida do mercado de swaps de dívidas para financiar seus ativos em dólares. A banca europeia mantém em seus balanços ativos denominados em dólar num volume estimado em US$ 7 trilhões, com prazos de vencimento longos. Estimativa conservadora aponta necessidade de financiamento de curto prazo em dólar em US$ 500 bilhões, mas provedores de fundos de curto prazo se mostram reticentes em emprestar na moeda americana.

Para o BIS, os bancos precisam rever suas estruturas de custos e eliminar os excessos de capacidade. Só depois disso é que sua rentabilidade será verdadeiramente restabelecida. E precisam partir para outro modelo operacional. Diz que um nível elevado de fundos próprios não é incompatível com uma forte rentabilidade.

Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira, de Genebra

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