O J. P. Morgan pretende triplicar o capital destinado a operações que envolvem o risco-Brasil em um ou dois anos, o que inclui o banco local e operações de crédito concedidas no exterior, diz o gaúcho Cláudio Berquó, que acaba de assumir a presidência do banco no país e está de mudança de Nova York. Após passar a crise financeira sem redução significativa de pessoal no país, o banco pretende voltar a ter atuação mais agressiva nas áreas de banco de investimento e atacado. Vai investir na área de gestão de fortunas e pretende voltar a ter gestora de recursos de terceiros local. O banco vendeu sua gestora com patrimônio de R$ 7 bilhões ao Bradesco no final de 2002.
Para fazer frente à expansão, o J.P. Morgan pretende abrir mais escritórios locais. Hoje, além da sede em São Paulo, está presente em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Recentemente, inaugurou um sistema local de gestão de caixa para empresas clientes, que pode se conectar com as plataformas do banco no mundo todo. O banco também não descarta passar a atuar com custódia local de ativos. Tem como meta elevar em 50% o volume de negócios de sua corretora.
A própria decisão de nomear um brasileiro como Berquó para coordenar as diversas áreas do banco no Brasil é uma mostra de comprometimento maior da instituição financeira. Cauteloso, sem saber como o Brasil iria sair da crise, o J.P. Morgan manteve Nicholas "Gucho" Aguzin, o presidente do banco na América Latina, como presidente do banco no país desde a saída de Ricardo Stern, em meados de 2008. Foi um período de transição, segundo definiu o próprio Aguzin.
O Brasil foi bem no teste: os resultados com o país foram positivos desde então. A instituição financeira prepara-se para ter lucro recorde neste ano no Brasil, segundo informou. No mercado interno, o J.P. Morgan está colocado como o 15º banco em ativos, segundo ranking do Banco Central de junho de 2009. Tem patrimônio líquido de referência de R$ 1,5 bilhão no país, mas contabiliza empréstimos externos em dólar em Nova York.
Os resultados positivos ajudaram a levar Aguzin ao conselho mundial do banco de investimento e deverão fortalecer ainda mais a posição do Brasil na instituição financeira. O grande número de visitas de integrantes do primeiro escalão do banco ao país mostram que o Brasil está mesmo na moda. Hoje está em São Paulo Heidi Miller, uma das mulheres mais poderosas de Wall Street, responsável global pela área de Treasury & Securities Services (TSS), que inclui custódia, gestão de caixa para clientes e linhas de comércio exterior, entre outros serviços.
É nesta área de TSS, sob o comando de Leonardo Lima na América Latina, que o banco americano está apostando grande parte de suas fichas. Acaba de se tornar, por exemplo, o custodiante do ADR (recibos de ações de empresas brasileiras negociados em Nova York) do Santander Brasil. "Queremos dar especial atenção às multinacionais brasileiras que estão comprando ativos no exterior e pretendem ter um caixa centralizado", afirma.
Também Jacques Nasser, que cuida do J.P. Morgan One Equity, fundo de participações em empresas (private equity) do banco, veio ao Brasil há poucas semanas em busca de oportunidades de investimento. O próprio presidente mundial James Dimon esteve no mês passado no Brasil.
Dimon é considerado um destaque em meio ao terremoto que abalou Wall Street, pois o J.P. Morgan Chase foi um dos bancos que menos perdeu, mesmo após a compra do Bear Stearns, no início de 2008, com a ajuda do Fed, banco central americano. Acabou abocanhando depósitos de seus concorrentes, além de ter ampliado sua participação no mercado de banco de investimento. É esse balanço positivo mundial que o banco quer capitalizar no país.
"Nossa base de clientes ainda é tímida e vamos ampliá-la certamente", conta o engenheiro civil Berquó, que já teve passagem pelo Citigroup e pelo ING e veio da área de gestão de fortunas do próprio JP Morgan em Nova York, cidade na qual reside há mais de dez anos. Sua ideia, segundo ele, é dar continuidade ao trabalho de "Gucho".
A área de banco de investimento no Brasil, sob o comando de Daniel Darahem e Patrícia Moraes, tem apresentado desempenho muito positivo. Os dois assumiram também em meados de junho do ano passado, com a saída de Ricardo Stern, e estão conseguindo receitas crescentes, após fazer operações de captação externa de dívida para empresas brasileiras como Petrobras e Gerdau e a emissão pública inicial de ações da Visanet, em meados de 2009.
É na área de corporate banking que o J.P. Morgan vai querer atingir um total de 200 empresas clientes, fornecendo crédito, derivativos e serviços de gestão de caixa. Em gestão de recursos de terceiros, o banco quer oferecer produtos locais para clientes institucionais nacionais e estrangeiros e produtos estrangeiros para clientes locais, segundo definiu Berquó, que ainda procura o executivo para cuidar da gestora. "Ele deverá vir do próprio banco", afirma. A intenção é dobrar o time local da instituição, hoje com cerca de 350 pessoas.
Presente no Brasil desde a década de 60, o J.P. Morgan abriu um escritório local de representação em 1966, enquanto o Chase Manhattan iniciou suas atividades no país em 1960, por meio do Banco Lar Brasileiro. No início dos anos 2000, logo após a compra do brasileiro Patrimônio, o Chase Manhattan e o J.P. Morgan se tornaram um só.
Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo