Depois de encerrar suas operações no país em 2009, o suíço UBS mostra cada vez mais que ficou mesmo arrependido com a revenda, na época, do Pactual ao banqueiro André Esteves. A compra da corretora Link, anunciada em abril de 2010, por R$ 195 milhões, foi só o primeiro passo do que promete ser uma nova onda de investimentos no país.
 

"Caminhamos a passos largos para ter uma operação bastante robusta, com a cara do UBS", diz Lywal Salles, que assumiu há 90 dias como diretor-presidente do grupo no país. Aos 64 anos, Salles havia deixado o Itaú em aposentadoria compulsória após levar o banco brasileiro à liderança em gestão de fortunas.

Outra mostra de que o suíço não pretende economizar em pessoal foi a contratação de Eduardo Centola, executivo que já teve passagens pelo Goldman Sachs e foi tirado a peso de ouro da presidência para as Américas do sul-africano Standard Bank. "Nossos planos são concorrer para ganhar com os principais bancos de investimento no país e para isso não vamos economizar capital", diz Centola, em sua primeira entrevista após assumir como CEO do banco de investimento do UBS no país.

Hoje, o UBS Brasil já conta com 312 pessoas, incluindo os funcionários da Link. O objetivo é chegar ao fim de 2012 com 500. Só nos últimos 90 dias, foram contratadas mais de 50 pessoas.

Por enquanto, no entanto, a sua atuação ainda está limitada. O UBS aguarda aprovação da compra da Link pelo Banco Central e também espera por licença para atuar como banco. Salles espera que o sinal verde das autoridades saia até o início de abril. Enquanto isso, o UBS já pode operar como gestora de recursos de terceiros e de fortunas – já tem autorização da Comissão de Valores Mobiliários – e, em breve, deve receber os fundos de clientes estrangeiros do UBS que estão ainda sob os cuidados do BTG Pactual. Um dos pontos fortes do UBS no mundo é justamente a área de private banking, a gestão de recursos para as pessoas mais ricas.

O banco já pode também prestar assessoria em fusões e aquisições e trazer seus clientes estrangeiros para comprar ações no mercado brasileiro por meio da Link. Segundo Centola, somente o fluxo desses novos clientes e mais a atuação dos fundos de alta frequência já elevaram a Link da quinta posição, no ano passado, no ranking de volume de negócios na Bolsa para de Valores de São Paulo para uma colocação entre as primeiras em volume financeiro durante este ano.

O UBS usa ainda seu poder de distribuição no exterior para vender ações e títulos de dívida externa de companhias brasileira para os investidores internacionais e a Link para distribuição no mercado interno. Este ano, por exemplo, já participou da emissão de bônus do Cruzeiro do Sul, do Safra e do BVA, além da oferta de ações da Queiroz Galvão, entre outras transações.

A ideia, no entanto, após obtidas as licenças necessárias, é ter uma atuação pesada em tesouraria, com captação local, fornecendo proteção financeira em juros, câmbio e commodities para clientes. O banco não descarta a possibilidade até mesmo atuar em crédito, desde que vinculado às transações de bancos de investimento, como para fusões e aquisições. "Os processos caminham bem, temos contatos frequentes com o Banco Central, que tem sido muito receptivo", diz Salles. "É um marco importante para nosso retorno conseguir as licenças", diz.

Segundo Salles, a área de gestão de fortunas e de recursos deve estar em velocidade de cruzeiro até 2015. O plano é fechar 2012 com 12 executivos, os chamados "bankers", e um total de R$ 2 bilhões em ativos. "Queremos até 2015 ter 36 bankers e um patrimônio de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões", diz o executivo.

Na área de banco de investimentos, Centola já trouxe um time de cinco pessoas do Standard Bank para assessoria em fusões e aquisições encabeçado por Cristina Bueno. Todos eles haviam trabalhado com Centola no Goldman Sachs e ajudaram o Standard a liderar a transação de R$ 3 bilhões de compra da empresa de transmissão Plena pela State Grid. "Vamos focar em transações que atravessam fronteiras, como essas, principalmente entre mercados emergentes", diz Eduardo Centola. Segundo ele, a ideia é aproveitar o fluxo de recursos externos para o Brasil, mas também dar destaque às operações entre empresas no mercado interno.

No total, hoje o UBS já tem 15 executivos no banco de investimento, mas a ideia é chegar rapidamente a 25. O UBS já conta com 10 analistas de mercado e pretende montar uma mesa robusta de renda fixa, commodities e moedas. "Vamos voltar a operar muito nas áreas de mercado aberto de crédito", diz Salles.

A Link, por enquanto, continua uma empresa separada. Mas, quando a compra for aprovada, ficará sob os cuidados do banco de investimento. A ideia de Centola é dar posição de destaque para os quatro principais sócios da Link: Daniel e Marcelo Mendonça de Barros, Norberto Giangrande e Frederico Meinberg.

"Ainda não definimos quem serão os chefes de cada área do banco de investimento", diz Centola. Segundo ele, o UBS só está esperando o pagamento de bônus da concorrência para trazer muitos executivos seniores e decidir quem é quem. Em um mercado aquecido como o atual, esses executivos devem exigir salários e bônus polpudos, certamente superiores aos praticados no mercado externo.

Para alojar toda essa equipe, o UBS alugou por dez anos cinco andares de um prédio recém-concluído na Avenida Faria Lima, novo centro financeiro paulistano que está com os preços de locação em níveis históricos de alta. São seis mil metros quadrados que abrigarão as estruturas de private banking, gestão e banco de investimentos. A mudança deve ocorrer em abril, segundo preveem os executivos.

Fortemente atingido pela crise financeira de 2008, o banco suíço anunciou anteontem o primeiro resultado anual global positivo em três anos, de US$ 7,5 bilhões. O capital mínimo exigido ponderado pelos ativos atingiu 17,5%, bem acima dos 13,5% exigidos pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), destaca Salles. Na gestão de recursos, depois de perder muitos clientes com a crise, o executivo observa que o patrimônio sob gestão se estabilizou no mundo todo.

 
Fonte:  Valor Econômico / Angelo Pavini e Cristiane Perini Lucchesi