O sistema bancário brasileiro mostrou forte resistência nos testes de estresse conduzidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para analisar a saúde das instituições diante de riscos de liquidez, solvência e contágio.

“O sistema bancário parece ter reservas de capital substanciais”, diz documento divulgado nesta quinta-feira (6), como parte do Programa de Avaliação do Setor Financeiro (FSAP) do Brasil realizado em 2012. Os testes foram feitos em cooperação com o Banco Central brasileiro.

Os testes de solvência abordaram a resistência do sistema sob três cenários macroeconômicos adversos entre 2012 e 2016. O primeiro é uma recessão grave por dois anos, retornando depois ao cenário-base; o segundo, uma fuga de capitais súbita num prazo curto; enquanto o terceiro é um choque na balança comercial, mostrando uma saída de capitais persistente por um período mais longo. As medidas de capital já incorporam as mudanças de regulação previstas em Basileia 3.

“Em termos de solvência, os bancos se beneficiam de níveis de renda muito favoráveis, que servem como uma primeira e forte linha de defesa contra perdas de crédito, o principal risco de solvência”, aponta o FMI. Mesmo no caso de uma recessão global grave, que costuma ocorrer uma vez a cada 20 ou 30 anos, a necessidade de capital adicional para se adequar a Basileia seria limitado. Apenas reter lucros seria suficiente para sua recomposição.

Os testes de liquidez simularam a resistência dos bancos a saques repentinos e, em alguma extensão, o descasamento de prazos. O resultado indicou que a maioria dos bancos é capaz de lidar com choques de liquidez elevados e mesmo assim cumprir as exigências de Basileia 3. O risco de liquidez é monitorado diariamente pelo BC e sugere que os bancos melhoraram suas posições depois de alguns problemas no período da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.

“As posições de liquidez são sólidas, graças aos níveis elevados de ativos líquidos; as exceções são alguns bancos pequenos e de médio porte, que são mais vulneráveis a choques de financiamento de tamanho considerável, devido à sua forte dependência de funding no atacado”, diz o relatório do FMI.

O risco de contágio, por fim, foi medido pela simulação do efeito que o calote de um banco teria no capital das outras instituições, considerando o impacto direto, por meio da exposição interbancária, e o indireto, no c aso de saques de depósitos e vendas de ativos a preços baixos.

O FMI conclui que o risco direto é limitado, mas se fosse amplificado por meio dos mercados de financiamento dos bancos haveria algum potencial de impacto mais adverso. O relatório destaca que essa ameaça parece pouco relevante porque há pouca exposição bilateral sem garantias.

O contágio indireto tenderia a se materializar por meio de canais de liquidez se, ao mesmo tempo, houvesse um calote de um grande banco e mais de 20% a 25% dos depósitos fossem sacados (de todos os bancos ao mesmo tempo), “o que é um cenário extremamente improvável”, segundo o FMI.

O documento nota ainda que a exposição dos bancos brasileiros à periferia da zona do euro e ao resto do mundo é limitada, exceto pela ligação dos bancos estrangeiros às suas. O FMI observa que essas instituições são subsidiárias, que se financiam e emprestam em grande parte no Brasil, além de estar em cercadas por regulação e intensa supervisão.

Nas conclusões, o FMI diz que, “dadas as incertezas na economia global e no panorama financeiro, a resistência do sistema bancário brasileiro pode vir a ser testada, no curto ou no médio prazo. Políticas devem focar nos riscos de liquidez e na ponta mais fraca do sistema”.

O Fundo nota que, embora o sistema tenha se mostrado resistente, cautela é importante, à medida que mudanças estruturais podem alterar a situação. “Os testes de solvência econômica indicam que alguns bancos específicos podem precisar de algum capital adicional para se preparar para uma eventual grande piora no futuro”. Em outro ponto, o relatório destaca que mudanças estruturais podem reduzir a lucratividade dos bancos a níveis observados em outros países.

Por fim, o FMI diz que o bem desenhado arranjo de testes de estresse do BC brasileiro pode ser ainda mais fortalecido, especialmente por meio de análise de solvência de longo prazo, e que testes mais amplos podem ser usados.

Fonte: Valor Econômico / Sergio Lamucci