Mais da metade da exposição dos brasileiros está em mercados desenvolvidos. Na Europa, a exposição é de US$ 15 bilhões. Nos Estados Unidos, chega a US$ 12,6 bilhões. Em Luxemburgo, centro bancário e fiscal, o montante é de cerca de US$ 2 bilhões.
O BIS mostra também que a exposição da banca brasileira em centros "offshore" é de US$ 13,1 bilhões, maior do que nos EUA. A maior fatia está nas Ilhas Cayman, com US$ 8,8 bilhões. Em seguida, vem Bahamas, com US$ 2,5 bilhões.
Pela definição da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os centros financeiros "offshore" tratam sobretudo de dinheiro de não residentes e suas instituições obtêm ganhos com vantagens fiscais que não são disponíveis em outros centros financeiros.
Na América Latina, bancos brasileiros tem exposição de US$ 8,9 bilhões, quase o mesmo montante registrado nas Ilhas Cayman. Na Argentina, a presença dos bancos é de US$ 1,1 bilhão e, no Chile, são US$ 6 bilhões.
A presença de bancos brasileiros no estrangeiro é muitas vezes maior que os US$ 8 bilhões dos bancos mexicanos e US$ 3 bilhões dos bancos chilenos, mas bem menor que os US$ 205 bilhões de Taiwan.
O banco sediado na Basileia (Suíça) não detalha a exposição dos bancos por segmento.
Em seu relatório, o BIS sinaliza que a crise do risco de crédito soberano tende a continuar "sacudindo" os mercados. Estima que a desigualdade no ritmo de recuperação da economia na Europa e nos Estados Unidos "minou" a confiança de investidores no começo do ano. As repentinas tensões nos mercados "serviram para advertir sobre os riscos financeiros que trazem os déficits fiscais persistentes", diz.
A cotação dos bancos vem sofrendo diante do tamanho de sua exposição nos mercados mais endividados. As instituições financeiras passaram a direcionar boa parte de seus empréstimos para o setor público. Os créditos alcançaram US$ 806 bilhões ao setor público somente entre janeiro e setembro do ano passado, num aumento de 20%. A estratégia foi generalizada de direcionar crédito aos governos – dos quais boa parte recebiam socorro para não quebrar.
Ou seja, ao mesmo tempo que tinham acesso a dinheiro barato dos bancos centrais, os bancos emprestaram com taxas maiores para os governos. A "parte do leão" foi destinada aos EUA (US$ 142 bilhões, aumento de 20%) e governos europeus como Alemanha (US$ 72 bilhões, 15%), Itália (US$ 49 bilhões, 11%) e França (US$ 51 bilhões, 29%).
Os bancos da zona euro concentraram mais de 70% de seus créditos ao setor público de Portugal (84%), Espanha (78%), Itália (77%) e Grécia (73%), países com dívidas explosivas que fragilizam a moeda comum europeia. O estoque de empréstimos transfronteiriços para os 16 países da zona euro alcançaram US$ 1,2 trilhão.
Cresce a inquietação com os bancos da Grécia, que viram seu valor cair 20% em apenas uma semana. Os títulos da dívida grega estão ameaçados de ser rebaixados de novo. O temor é de que os bancos gregos, os mais dependentes de fundos do Banco Central Europeu (BCE), não sejam mais capazes de usar bônus do governo grego para refinanciar suas operações com a autoridade monetária europeia. No terceiro trimestre de 2009, os empréstimos internacionais dos bancos caíram US$ 360 bilhões. Mas aumentaram para o Brasil em US$ 13,2 bilhões.
No mercado internacional de títulos da dívida, os anúncios de emissões brutas caíram 10% no último trimestre. Mas, de novo, aumentaram para a América Latina, o mais alto nível desde os anos 90 com captação de US$ 29 bilhões após US$ 13 bilhões no trimestre anterior.
O Brasil levantou US$ 6 bilhões, um dos volumes mais elevados, segundo o BIS, que prevê, porém, que o "boom das emissões" parece ter perdido fôlego ao final do ano.
Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira