Pelo quarto mês consecutivo, a pesquisa do Banco Central (BC) sobre operações de crédito, divulgada ontem 21, apontou aumento do custo médio de captação das instituições financeiras. Numa evidência de que o mercado já vem "precificando" a expectativa de elevação da taxa básica de juros (Selic), de agosto a dezembro a taxa média de captação praticada pelo sistema financeiro subiu de 9,1% para 10% ao ano, sinalizando nova interrupção da trajetória de queda das taxas dos empréstimos e financiamentos tomados por empresas e pessoas físicas.

Por enquanto, ainda não houve aumento da taxa para o tomador final. Em dezembro, pelo menos na média das operações tomadas como referência na pesquisa do BC, não houve elevação de juros. Ao contrário, comparativamente a novembro, a taxa recuou de 34,9% para 34,3% ao ano, o mais baixo patamar registrado desde dezembro de 2007.

O juro final não subiu, apesar da taxa de captação maior, porque a elevação de custo foi compensada pelos bancos via redução de "spread". O diferencial entre taxa de captação e taxa de aplicação caiu de 25,1 para 24,3 pontos percentuais, na comparação entre as médias de novembro e dezembro.

A pesquisa do BC detectou redução de juros finais e de spreads tanto nas operações com pessoas físicas quanto nas operações com empresas.

Para as pessoas físicas, a taxa média de juros saiu de 43% para 42,7% ao ano, nível mais baixo da série do BC, apurada desde julho de 1994. O spread para esse segmento da clientela baixou, em média, de 32,2 para 31,6 pontos percentuais, o que também representa o piso da respectiva série.

Para as pessoas jurídicas, por sua vez, a taxa final saiu de 26% para 25,5% ao ano e o spread, de 17,1 para 16,5 pontos percentuais. Os números não são os menores da série, mas situam-se pouco acima, destacou o BC. Os menores níveis, nesse caso, foram registrados em dezembro de 2007 (taxa final de 22,9% ao ano e spread de 11,9 pontos percentuais).

A elevação dos custos de captação não são o único sinal de que pode estar chegando ao fim o processo de queda de juros visto nos últimos meses, após a elevação provocada pela crise financeira no último trimestre de 2008. Apesar de ter havido redução na média geral, tomadas separadamente, diversas modalidade de crédito já tiveram suas taxas aumentadas em dezembro.

No segmento de pessoas jurídicas, esse foi o caso das operações prefixadas de ´hot money´ (46,5% para 53,2% ao ano), de desconto de promissórias (47,7% para 52,1%), de crédito para aquisição de bens (16,4% para 18,1%). Ainda subiu, para as empresas, o custo do crédito remunerado a taxas flutuantes, de 16,7% para 17,1% ao ano.

No segmento de operações com pessoas físicas, também subiram as taxas médias de juros de diversas modalidades: financiamento de veículos (25,3% para 25,4% ao ano), financiamento de outros bens (51,8% para 54,8%), credito pessoal (43,6% para 44,4%), incluindo aí o crédito consignado (27% para 27,2%). Só a do cheque especial recuou, de 163,3% para 159,1% ao ano).

Essas elevações por modalidade só não provocaram aumento da taxa média geral, do conjunto de operações consideradas, porque o BC leva em conta o volume de crédito concedido em cada uma. Então, se houver crescimento maior de operações de uma modalidade mais barata, como o crédito consignado, ainda que o seu custo tenha subido, a taxa média ponderada de todas as modalidades pode cair, como ocorreu em dezembro de 2009.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, acha que, mesmo com o aumento do custo de captação dos bancos, há espaço para novas reduções de spread em 2010. Assim, não necessariamente os juros finais vão subir, disse.

Ao contrário, Altamir acredita que haverá reduções e não aumentos da taxa final de juros ao tomador. Ele justifica sua previsões apontando o comportamento mais recente da inadimplência do conjunto das operações de crédito do sistema financeiro. O percentual de operações com parcelas em atraso há mais de 90 dias caiu em dezembro, pela primeira vez desde outubro de 2008, quando começou a subir em função da crise.

Com a inadimplência menor, o BC espera que a carteira cresça nominalmente 20% em 2010, fechando o ano em montante equivalente a 48% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, o estoque das operações de crédito aumentou 14,9% em termos nominais, para R$ 1,41 trilhão em dezembro. Como proporção do PIB, o estoque elevou-se para 45%.

Em função da política do governo de usar os bancos públicos no combate à crise, a participação do sistema estatal aumentou. No fim de 2008, os bancos públicos tinham 36,3% da carteira de crédito; no fim de 2009, 41,4%.

Fonte: Valor Econômico /  Mônica Izaguirre, de Brasília

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