Outro gerente, do Itaú, conta que nos 10 anos que está no banco sempre teve de abrir caixas. "Entrei como caixa, mas não deixei de exercer essa função nem mesmo quando fui promovido a supervisor operacional e depois a gerente operacional, cargo que ocupo agora. E isso acontece com 99% dos gerentes operacionais do Itaú."
Para um gerente da Caixa, a situação não é muito diferente. "Bancário exercendo duas, três, quatro funções é muito comum no banco. Sem dúvida nenhuma falta pessoal e os que estão lá, sofrendo sobrecarga e pressão dos superiores, estão adoecendo", afirma.
As histórias desses trabalhadores ilustram a realidade nos bancos, tanto nos públicos quanto nos privados. O setor financeiro, um dos mais lucrativos do país, economiza em mão de obra, apostando na sobrecarga do funcionário, em demissões – quando na verdade seria preciso contratar -, na rotatividade como forma de diminuir os salários da categoria, e na terceirização.
Redução de postos de trabalho
Esse é o quadro do emprego bancário no Brasil. Segundo dados dos próprios balanços dos bancos, houve redução no número de postos de trabalho nas principais instituições financeiras do país.
Em 12 meses (de junho de 2011 a junho de 2012), o Itaú reduziu mais de 9 mil vagas. De março a junho deste ano, a queda foi de 3.777. No mesmo período (março a junho de 2012), o Bradesco cortou 571 postos e o Santander, 135.
Isso mostra que o setor financeiro caminha na contramão da economia brasileira, cuja taxa de desemprego está nos patamares mínimos da história.
De janeiro a junho deste ano, a economia brasileira gerou 1,04 milhão de empregos formais. Para esse total os bancos contribuíram apenas com 0,22%. E isso graças à Caixa Federal, pois se tirarmos a instituição pública dessa conta, o saldo do setor seria negativo em 1.142 postos de trabalho.
"É importante lembrar que somente os três maiores bancos privados (Itaú, Bradesco e Santander) lucraram, juntos, R$ 16 bilhões no primeiro semestre. Nos primeiros três meses do ano o lucro dos cinco maiores chegou a R$ 12 bilhões e, em 2011, essa soma (incluindo o HSBC) alcançou R$ 52 bilhões. Além do mais, o setor bancário é o de maior rentabilidade no país. Portanto, os bancos podem e devem contratar mais", destaca a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira.
Rotatividade
Além da redução de postos de trabalho, a rotatividade é alta no setor e é usada para conter a expansão da massa salarial da categoria. Segundo pesquisa do Dieese, no primeiro trimestre do ano, o salário médio dos trabalhadores contratados foi 38,2% inferior ao dos desligados. A remuneração média foi de R$ 2.656,92 e a dos desligados de R$ 4.299,27. Ou seja, os contratados recebem 38,2% menos que os desligados. Já na economia brasileira como um todo, a média salarial dos admitidos é 7% inferior a dos demitidos.
Presente à mesa que discutiu o tema emprego, na 14ª Conferência Nacional dos Bancários, em julho, o ministro do Trabalho Brizola Neto criticou a rotatividade nos bancos e prometeu combatê-la. Segundo ele, as maiores taxas de rotatividade da economia brasileira são as do setor financeiro e construção civil. Ele ressaltou, porém, que enquanto o problema na construção civil tem explicações na sazonalidade própria do setor, no sistema financeiro ele não se justifica.
Correspondentes
Com cada vez menos bancários nas agências, os bancos acabam empurrando os clientes, principalmente os de menor renda, para o atendimento precário dos correspondentes bancários.
No início da década de 2000 o número de correspondentes era inexpressivo, mas em 2010 eles chegavam a158 mil e, este ano, já ultrapassaram os 300 mil. "São trabalhadores que não possuem representação formal e têm direitos limitados", destaca o técnico do Dieese, Nelson Karam.
A abertura de correspondentes é mais uma estratégia desse setor tão lucrativo para cortar gastos com o atendimento aos correntistas e com os trabalhadores que, terceirizados, não têm os mesmos salários nem os mesmos direitos dos bancários.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb São Paulo