"Uma venda universal de ativos espanhóis está em andamento", afirma Andrea Williams, que ajuda a gerenciar 623 milhões de libras (US$ 968 milhões), incluindo ações do Banco Santander, na Royal London Asset Management. "O medo é de que Portugal, Espanha e Itália estejam agora na fila, depois do que aconteceu com a Irlanda."
A ansiedade com a capacidade da Espanha de reduzir o terceiro maior déficit fiscal da zona do euro, depois que a Europa concedeu um socorro financeiro de 85 bilhões à Irlanda, aumentou o custo dos financiamentos para os bancos do país, já abalados pelo aumento dos créditos podres e pela queda das receitas.
O rendimento médio que os investidores estão exigindo para ter em mãos bônus de bancos espanhóis denominados em euros, em relação à dívida do governo, aumentou 141 pontos-base para 385 pontos em novembro – o maior aumento mensal já registrado, segundo dados compilados pelo Bank of America Corp.
Depois que o custo de securitização da dívida do país contra defaults atingiu seu nível mais alto, os bancos espanhóis agora estão pagando os maiores prêmios de todos os tempos sobre suas dívidas em relação a outros bancos da Europa.
Os spreads dos bônus bancários espanhóis denominados em euros subiu para o recorde de 166 pontos-base mais que e média de todas as dívidas de bancos denominados na moeda, contra uma diferença de 63 pontos-base em 31 de outubro, segundo dados do Bank of America.
O risco para a Europa é que a economia da Espanha é duas vezes maior que a da Grécia, Irlanda e Portugal juntas, o que significa que o fundo de socorro de 750 bilhões da zona do euro poderá não ser grande o suficiente se a Espanha recorrer a ele.
Os bônus de 10 anos do governo espanhol tiveram ontem a maior queda desde a estreia do euro. O rendimento extra exigido pelos investidores para manter esses títulos, em vez dos bunds alemães, passou a ser o maior já registrado na era do euro.
"O grande elefante na sala não é Portugal e sim a Espanha", disse ontem em uma conferência em Praga Nouriel Roubini, o professor da Universidade de Nova York que previu a crise financeira global. "Não há dinheiro oficial suficiente para ajudar a Espanha se houver algum problema."
O Banco Central Europeu (BCE) poderá ter de acelerar as compras de bônus do governo espanhol e proteger seu sistema bancário se o país mergulhar em dificuldades financeiras, disse ontem em uma nota a investidores o principal economista do Citigroup Willem Buiter. "Uma vez que a Espanha precisar de ajuda, o apoio do BCE será crucial", escreveu Buiter.
As instituições financeiras espanholas venderam ? 300 milhões em bônus na Europa este mês, excluindo dívidas com garantias governamentais, comparado a ? 2,37 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela "Bloomberg".
A Espanha afirma que as finanças do governo e dos bancos do país estão sólidas. Os bancos estão "fundamentalmente saudáveis", disse ontem em Madri o principal economista do Banco da Espanha Jose Luis Malo de Molina. "O sistema financeiro espanhol não tem um problema de grande fragilidade como tem a economia da Irlanda."
Cerca de 30% das dívidas de médio e longo prazo dos bancos espanhóis vence em dezembro de 2012, segundo o relatório de estabilidade financeira de outubro do Banco da Espanha.
O relatório diz que o fato de 50% dos vencimentos ocorrerem depois de 2013 "alivia" as necessidades de refinanciamento dos bancos, mesmo com o banco central aconselhando-os a se apoiarem mais nas dívidas com prazos de vencimento mais longos.
"Perguntar aos bancos espanhóis como eles vão cumprir com essas necessidades de refinanciamento é uma pergunta absolutamente justa a ser feita a eles", disse Claire Kane, analista bancária da MF Global em Londres, em uma entrevista por telefone.
Quatro meses após o Banco da Espanha dizer que a publicação dos testes de estresse dos bancos espanhóis confirmavam a solidez do sistema bancário, investidores estão mais uma vez aumentando seus custos de financiamento. Os temores deverão se concentrar mais nas necessidades dos bancos de poupança espanhóis, segundo Daragh Quinn, analista da Nomura International em Madri.
Fonte: Bloomberg