Isso pode ser um sinal de que fundos do mercado monetário, ou de curto prazo, e outros que podem comprar a dívida estão se recusando a fazer negócios com esses bancos.
Ao mesmo tempo, as instituições com mais dinheiro disponível estão optando por segurá-lo, transferindo fundos para o Banco Central Europeu, em vez de emprestar para outros bancos. Segundo dados da firma de pesquisa Dealogic e de uma mesa de operações de Londres, bancos que vão do Santander, da Espanha, até o Millennium BCP, de Portugual, registraram quedas de cerca de US$ 1 bilhão em notas promissórias em euros nos últimos dois meses.
Bancos europeus dependem muito desse tipo de financiamento de curto prazo, o que os torna vulneráveis a qualquer retração dos conservadores fundos de mercado monetário.
Os depósitos dos bancos no BCE estão crescendo diariamente, tendo passado de ? 253 bilhões (US$ 309,2 bilhões) segunda-feira para entre ? 264 bilhões e ? 268 bilhões ontem. Bancos como o Santander e o Bilbao Vizcaya Argentaria, ou BBVA, começaram recentemente a transferir fundos para o BCE, preferindo aceitar juros mais baixos em troca de menos risco, segundo pessoas a par da questão.
A queda também poderia representar uma cartada dos bancos para depender mais de depósitos dos clientes, mais estáveis, e menos dos voláteis mercados de atacado.
O BBVA e o português Banco Popular também mostraram redução em notas promissórias em euros. Um porta-voz do Banco Popular disse que o banco tem aumentado bastante os depósitos e reduzido a tomada de empréstimos no atacado.
Os mercados, de maneira geral, acalmaram-se ontem, e a alta nos indicadores-chave de estresse creditício reduziu sua marcha. Mas os dados de tomada de empréstimo dos bancos mostram que o contágio financeiro está atravessando a Europa. O contágio tem sido contido até agora, graças em grande parte ao crédito disponibilizado pelo BCE.
Uma área importante que está dando sinais de enfraquecimento é o mercado de títulos de dívida de curto prazo, no qual os bancos vendem notas promissórias para investidores, tais como gestores de fundos. Em Londres, mercado para os commercial papers em euros de cerca de 68 países, os grandes bancos estão reduzindo o volume total de dívida em circulação. Um outro mercado de notas promissórias nos Estados Unidos também tem dado sinais de fraqueza.
Os bancos europeus também são participantes ativos do segmento de commercial papers nos EUA. A demanda por dívida de curto prazo estava forte até a nova onda de preocupação com a solvência dos governos, e esses títulos respondiam por pelo menos um terço de todos os empréstimos no mercado de US$ 1 trilhão, no começo de maio, segundo estimativas. Com o agravamento da crise, os fundos e os investidores de notas promissórias perderam um pouco do apetite por dívida de curto prazo emitida por bancos europeus.
Embora dados sobre a composição do mercado de notas promissórias de instituições europeias não estejam disponíveis, o volume de total de commercial papers de bancos estrangeiros em circulação encolheu em cerca de US$ 32 bilhões, ou 15%, desde a semana de 21 de abril, conforme dados do Federal Reserve, o banco central americano. O Fed deve divulgar atualização dos números hoje.
A relutância dos bancos europeus em emprestar uns aos outros, ainda que no curto prazo, é evidenciada pelo aumento do volume de depósitos overnight no BCE.
Embora o montante de depósitos seja volátil, banqueiros e corretores dizem que essa é uma referência aproximada do apetite para operações entre as instituições.
O BCE é um porto seguro para os depósitos de curto prazo dos bancos, mas ele oferece um rendimento de apenas 0,25%. É bem menos do que os bancos conseguiriam se emprestassem uns aos outros, dizem os banqueiros.
No começo de maio, quando as aflições com a situação fiscal da Grécia chegaram ao ápice, os depósitos bancários no BCE totalizaram quase ? 315 bilhões, a cifra mais alta desde julho de 2009. Depois de cair por semanas seguidas, o volume de depósitos tem estado em alta novamente.
Os bancos que precisam tomar dinheiro emprestado no mercado a uma taxa razoável podem recorrer ao BCE. O banco central tem mais de ? 800 bilhões em empréstimos concedidos aos bancos, um nível que está se aproximando do pico atingido em julho, conforme relatório divulgado ontem pelos analistas Alastair Ryan e John-Paul Crutchley, do UBS AG. "Acreditamos que o estresse no mercado de crédito vai levá-lo de volta a níveis recordes nas próximas semanas", escreveram os analistas.
A disponibilidade de recursos do BCE indica que os bancos europeus correm menos risco de se deparar com o tipo de crise de crédito que dizimou ou debilitou grandes instituições, como o Lehman Brothers Holdings Inc. e o Royal Bank of Scotland Group PLC, no calor da crise financeira de 2008 e 2009.
Mas banqueiros e analistas dizem que os credores que dependem do crédito do BCE podem ser vistos como mais frágeis, tornando mais difícil o acesso ao crédito privado e aumentando a dependência ao governo como fonte de liquidez.
Fonte: The Wall Street Journal / Carrick Mollenkamp, David Enrich e Mark Gongloff