Em plena pandemia, os cinco maiores bancos brasileiros obtiveram R$ 26,4 bilhões de lucro líquido nos três primeiros meses de 2021. No mesmo período, os bancos demitiram 2.900 funcionários, com destaque para escriturários e gerentes, encerraram as atividades de 399 agências e tiraram 726 caixas eletrônicos de operação, dando continuidade a um movimento de enxugamento do quadro funcional e de estrutura física que vem se intensificando do ano passado para cá.
Dados do Banco Central mostram que, de dezembro de 2016 para cá, as instituições financeiras já fecharam as portas de mais de 4.000 agências bancárias, o equivalente a quase 20% do total que possuíam há cinco anos. Somente de janeiro de 2020 para cá, 13,2 mil bancários foram desligados, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) – o cadastro mudou a metodologia a partir de 2020 e não permite comparação com períodos anteriores.
Todas essas medidas adotadas pelos bancos, através de diversos artifícios que eles chamam de reestruturações, são prejudiciais à categoria bancária, que adoece devido à sobrecarga de trabalho, à pressão e o assédio moral, e à população em geral que vai passar ainda mais tempo nas filas, principalmente idosos e pessoas de baixa escolaridade que têm muita dificuldade no acesso aos canais digitais e ficam reféns do atendimento presencial.
Reintegrações
Diante do desrespeito dos bancos, que se comprometeram em não demitir durante a pandemia e não honraram a palavra, bancárias e bancários recorreram ao Sindicato, que colocou à disposição da categoria os serviços da equipe do Escritório de Marcelo Assunção & Advogados Associados para acompanhar as ações de reintegração. Então, desde o início da pandemia 14 bancárias e 12 bancários foram reintegrados aos seus respectivos bancos, na base do Sindicato dos Bancários da Paraíba, em cumprimento às decisões da Justiça do Trabalho, sendo: 9 no Santander, 7 no Bradesco, 7 no Itaú, 2 no Aymoré e 1 no Safra.
“Essas reintegrações foram fruto da confiança de bancárias e bancários no nosso trabalho, da parceria com o Escritório de Marcelo Assunção e do posicionamento da Justiça em garantir os direitos da classe trabalhadora”, ressaltou Lindonjhonson Almeida, presidente do Seeb – PB.
Lucros dos Bancos no primeiro trimestre de 2021
O Bradesco teve Lucro Líquido Recorrente, que exclui efeitos extraordinários no lucro, de R$ 6,5 bilhões, no 1º trimestre de 2021. Os números representam uma alta de 73,6% em relação ao mesmo período de 2020 e queda de 4,2% no trimestre anterior (o Lucro Líquido Recorrente no 4º trimestre de 2020 foi de R$ 6,8 bilhões). Mesmo com o excelente resultado, o banco fechou 8.547 postos de trabalho em doze meses e 888 no trimestre. Em doze meses, foram fechadas 1.088 agências e abertas 700 unidades de negócios totalizando 3.312 agências e 766 unidades de negócio.
Itaú Unibanco – R$ 6,4 bilhões
O Itaú obteve um Lucro Líquido Recorrente Gerencial, que exclui efeitos extraordinários no lucro, de R$ 6,4 bilhões, no 1º trimestre de 2021. O resultado representa alta de 63,5% em relação ao mesmo período de 2020 e de 18,7% no trimestre. Esses números dão ao banco uma rentabilidade (retorno recorrente consolidado sobre o Patrimônio Líquido médio anualizado do banco – ROE) de 18,7%, alta de 4,7 pontos percentuais em doze meses.
Neste mesmo período, a receita do banco com prestação de serviços e tarifas bancárias chegou a R$ 10 bilhões, valor 59,8% maior do que as despesas que o banco teve nos 12 meses com seus funcionários (R$ 6,2 bilhões), que trabalharam para que o banco obtivesse toda essa receita.
Ao final de março de 2021, a holding contava com 84.415 empregados no país, com abertura de 2.308 postos de trabalho em doze meses e 496, no trimestre. Esse saldo se deve a contratações para a área de TI e à incorporação, a partir do segundo trimestre de 2020, dos empregados da ZUP (empresa de tecnologia adquirida em outubro de 2019).
Banco do Brasil – R$ 4,9 bilhões
O Banco do Brasil obteve lucro líquido de R$ 4,9 bilhões nos três primeiros meses de 2021, alta de 44,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação ao trimestre passado, o crescimento foi de 33%.
Ao fazer o anúncio, juntamente com os resultados do balanço, o banco enviou aos funcionários um vídeo com seu presidente, Fausto Ribeiro, destacando a importância deles para a obtenção dos resultados. Em um trecho do vídeo, Fausto afirma que “atrás de cada número de nosso balanço está o esforço de cada um de vocês”, fazendo referência aos bancários.
“Neste ponto, concordamos completamente. Os excelentes resultados do banco são frutos do trabalho dos funcionários. Mas, infelizmente, para nós soa como puro marketing, no pior sentido”, afirmou o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga. “O Fausto assumiu dizendo que valorizaria a nós e ao banco, mas nada fez para reverter o processo de desestruturação que levou à queda do seu antecessor. São medidas que reduzem a capacidade do banco cumprir sua função de banco público, que prejudicam estados, municípios e os brasileiros que vivem nestes locais, além de penalizar os funcionários”, completou.
A desestruturação a qual Fukunaga se refere pode ser vista nos dados do balanço, ao se analisar, por exemplo, a relação entre número de clientes, de pontos de atendimento e de funcionários.
Em 12 meses, o número de clientes (correntistas, poupadores e beneficiários do INSS) cresceu 3,7 milhões. Na contramão deste crescimento, estas pessoas viram e sentiram na pele (e nas filas) a redução de pontos de atendimento e de funcionários. O banco fechou 279 agências e reduziu o tamanho do quadro de pessoal em 4.881 funcionários.
Caixa Econômica Federal – R$ 4,6 bilhões
A Caixa Econômica Federal obteve um lucro líquido de R$ 4,6 bilhões no primeiro trimestre de 2021, crescimento de 50,3% em relação aos três primeiros meses de 2020, alcançando uma rentabilidade (retorno sobre o patrimônio líquido – ROE) de 16,33%.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, privatista nomeado por Bolsonaro para desmantelar a Caixa e facilitar sua venda a preço de banana, vem afirmando que o lucro da gestão dele em dois anos é maior do que o obtido pelo banco nos oito anos do governo Lula.
Por sua vez, o presidente falastrão também andou fazendo comparações equivocadas ou de má fé sobre os resultados da Caixa. “A Caixa, lá atrás, dava prejuízo. Em nosso governo, mais que lucro, ela traz benefícios para todos nós do Brasil”, disse Bolsonaro numa inauguração em Maceió – AL.
Pedro Guimarães, de pura má fé, já que deve ter competência para analisar balanços, uma vez que foi colocado no comando de uma instituição financeira de 160 anos com a missão de liquidá-la, comparou os valores absolutos do lucro nominal, sem trazer os números a valor presente.
A verdade é que, sem atualizar, o lucro da Caixa durante o governo Lula foi de R$ 20,5 bilhões. Mas, atualizando, o lucro chega aos R$ 41,4 bilhões. No governo Bolsonaro, a Caixa faturou R$ 35,2 bilhões. Os valores foram atualizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O banco Santander obteve no Brasil um lucro líquido gerencial de R$ 4,012 bilhões no primeiro trimestre de 2021. O valor é 4,1% maior do que o obtido no mesmo período em 2020 e 1,4% maior do que o obtido no trimestre passado. É o maior lucro trimestral do banco desde o segundo trimestre de 2010.
Mais-valia – A receita do banco com a cobrança pela prestação de serviços e tarifas bancárias cresceu 8,3% em doze meses, totalizando R$ 4,9 bilhões. Os gastos totais com os funcionários tiveram uma queda de 4,4% no ano.
“O que o banco arrancou de seus clientes com a cobrança pelos serviços realizados daria para pagar mais do que duas vezes as despesas que tem com quem realiza os serviços. É o típico exemplo da exploração do trabalho humano”, explicou o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mario Raia.
As despesas do banco com os funcionários somaram R$ 2,2 bilhões. Os R$ 4,9 bilhões arrecadados com a cobrança de serviços e tarifas é 215,74% maior do que os gastos com funcionários.
Uma das formas encontradas pelo banco para reduzir as despesas de pessoal é diminuir o quadro de funcionários. A holding encerrou o primeiro trimestre de 2021 com 44.806 empregados, 2.386 postos de trabalho a menos do que o banco tinha há 12 meses. No período também foram fechadas 140 agências e 91 Postos de Atendimento Bancário.
“Infelizmente, a pandemia que já vai ceifando quase meio milhão de brasileiras e brasileiros – por falta de ação do governo de Jair Messias Bolsonaro, que deixou de comprar vacinas em tempo hábil, age na contramão do combate ao contágio com seu discurso e postura negacionistas e ainda se dá ao luxo de fazer acusações levianas ao maior fornecedor de vacinas e insumos imunizantes e de desestruturar as empresas públicas essenciais para a retomada da economia e o desenvolvimento do país – continua sendo um paraíso para os banqueiros privados. A nossa luta continua até que os trabalhadores e as trabalhadoras que fazem serviços essenciais sejam devidamente protegidos/as, que toda a população seja vacinada, que cessem os ataques aos serviços e empresas públicas, inclusive aos bancos estatais, e que o Brasil retome o caminho da democracia. Fora Bolsonaro!”, desabafou Lindonjhonson Almeida.