O novo instrumento de captação dos bancos médios, o depósito a prazo com garantia especial (DPGE), chegou a R$ 9,16 bilhões em registros na Cetip e conseguiu de fato regularizar a liquidez do sistema financeiro. Essa é a visão dos próprios bancos, que relatam a melhora do ambiente e já se preparam para retomar o ritmo na concessão de crédito.

"O depósito está restabelecido e o DPGE permitiu o alongamento das captações. O papel foi extremamente saudável para o mercado financeiro", afirma Paulo Henrique Pentagna Guimarães, presidente do Banco Bonsucesso.

Segundo ele, o novo depósito a prazo tem permitido captar recursos com prazos desde o mínimo de seis meses até títulos superiores a um ano (o limite máximo é de cinco ano). A única reclamação ainda é o preço. "Está caro, mas pelo menos não temos mais descasamentos entre ativos e passivos", disse Pentagna Guimarães.

Esses descasamentos surgem quando a carteira de crédito tem um prazo médio superior aos títulos usados pelas instituições para captar recursos. Como muitos bancos médios têm forte atuação em linhas mais longas, como consignado e veículos, o CDB tradicional não oferece uma alternativa adequada, já que a maior parte dos certificados tem liquidez diária. De acordo com dados do Banco Central, o prazo médio dos empréstimos a pessoas físicas é de 495 dias. Para empresas é de 270 dias.

Segundo a Cetip S.A. Balcão Organizado de Ativos e Derivativos, o prazo médio dos novos depósitos a prazo é de 744 dias. Registraram emissões de DPGE 48 bancos. "Foi uma verdadeira salvação captar quase R$ 10 bilhões em três meses", disse o diretor da Cetip, Jorge Sant’Anna.

A novidade se mostrou tão eficiente que algumas instituições já substituíram o interesse em papéis externos pelo novo depósito. "Com o aparecimento do DPGE, bastante atraente, a dívida externa ficou relativamente cara", disse Cristiano Gomes, diretor-executivo financeiro do Banco Mercantil do Brasil.

Segundo ele, por conta da crise, o banco acumulou liquidez e agora que "o pior já passou", disse, "ficamos efetivamente com caixa maior do que a necessidade operacional do banco". Com isso, no início do mês, a instituição realizou uma operação de recompra de parte de uma emissão externa de US$ 175 milhões. "Hoje não é interessante em termos de custo fazer novas emissões no exterior", disse.

A nova modalidade de depósito a prazo, que conta com a cobertura de até R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), foi criada no fim de março. Segundo os próprios bancos, além do modelo adotado, o momento escolhido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para lançar o produto foi considerado ideal. A visão é de que se o DPGE tivesse surgido em meio à crise, o papel não teria credibilidade suficiente para resolver o problema. No auge da crise, as cessões de carteira e as intervenções do próprio FGC serviram para manter uma liquidez mínima necessária.

As instituições comemoraram também quando em maio o CMN anunciou que os DPGE não poderiam mais ter resgate antecipado. Até aquele momento, a carência mínima era de seis meses e, dependendo do acordo com o investidor, o papel poderia ter liquidez diária a partir daquela data.

Os principais compradores são as administradoras recursos. Muitos já criaram carteiras próprias para comprar esse ativos, como o HSBC, por exemplo. Aos poucos, os fundos de pensão também começam a comprar diretamente esses papéis.

A Funcef realizou, no fim do mês passado, uma espécie de leilão, por meio de uma plataforma eletrônica, e adquiriu papéis de 11 instituições financeiras, que somaram R$ 146,3 milhões em títulos atrelados a variação de índices de inflação. Os prazos ficaram concentrados no limite máximo permitido, de cinco anos, mas também foram adquiridos DPGEs de dois e três anos.

Com o aumento da demanda, a expectativa dos bancos é que as taxas comecem a ceder. Os papéis variam desde 95% do CDI até 138% do CDI, dependendo do prazo e do apetite da instituição, segundo dados da Cetip. O problema é que, para o banco, além desse preço há ainda uma taxa paga para o FGC, de 1% ao ano, o que eleva o custo em quase 100 pontos base.

Uma alternativa que já começa a ser estudada pelas instituições financeiras é a volta da emissão de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC), afirma Marcelo Xandó, da Verax Serviços Financeiros. Essa foi durante muitos anos a principal fonte de recursos de longo prazo, mas a crise esfriou o mercado no início do ano.

Segundo ele, já há uma movimentação para volta nesse segundo semestre. Os bancos não estão com muita necessidade de captação, mas quem já tem esse instrumento não vai deixar o mercado. "O FIDC volta a ser fonte de funding para bancos, mas tem de olhar condições", afirma.

A alternativa do FIDC também começa a ficar interessante, já que agora existe uma nova curva de preços para papéis de bancos médios. "Os preços sofreram um refresco por conta do DPGE. Além disso, o FIDC é mais barato e com capacidade de revolvência, ou seja, todo mês se tem liquidez", completa Xandó.

Fonte: Valor Econômico