Ao fugir da convocação da Câmara dos Deputados, Febraban mostra desinteresse com a inclusão de minorias no mercado de trabalho – (São Paulo) A federação dos bancos (Febraban) mostrou que não está nem aí para a inclusão de negros, mulheres, homossexuais e pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Alegando problemas de agenda, os bancos não compareceram à audiência pública realizada na quarta-feira, dia 27, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que discutiu a retomada das atividades do grupo de trabalho sobre a diversidade dos bancários.

“Os bancos demonstraram que não têm vontade nenhuma de resolver o problema da desigualdade no mercado de trabalho bancário. As mulheres negras, em geral, ocupam lugares precários nos bancos e a situação ainda é muito pior nas terceirizadas. Viemos aqui com a expectativa de colocar debates importantes, como a ampliação da licença-maternidade para seis meses, mas os representantes da Febraban não compareceram”, lamentou durante sua fala a diretora da Contraf-CUT Deise Recoaro, que representou os bancários na audiência.

A diretora do Sindicato Neiva Ribeiro dos Santos, que assistiu à audiência, conta que todos os participantes ficaram chocados com o desinteresse da Febraban e fizeram críticas veementes contra os bancos. “Os próprios parlamentares reclamaram que as instituições financeiras não querem construir um processo de inclusão das minorias no mercado de trabalho. A atitude dos bancos foi muito ruim e demonstrou que os bancos não dão prioridade ao tema”, diz Neiva.

Mapa da diversidade – Os bancários e os parlamentares esperavam que os bancos apresentassem os resultados do Mapa da Diversidade, pesquisa realizada no ano passado com mais de 200 mil bancários de todo o Brasil. O movimento sindical reivindica esta auditoria desde os anos de 1990.

“Esta reivindicação nasceu quando denunciamos para a Fenaban que havia discriminação nos locais de trabalho e que as contratações eram desiguais. Os bancos, entretanto, negaram a discriminação e nos desafiaram a provar. Daí publicamos o ‘Rosto dos Bancários’, uma pesquisa realizada pelo Dieese em 2001 que comprovava toda a discriminação que denunciamos”, explica Neiva.

De posse dessa publicação, o Ministério Público do Trabalho resolveu procurar os bancos para garantir um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), mas não houve concordância por parte das instituições financeiras. O MPT, então, entrou na Justiça contra cinco bancos (Itaú, Bradesco, ABN, Unibanco e HSBC) por discriminação coletiva, e o movimento negro conseguiu arrancar uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em meados de 2005. A audiência rendeu reuniões permanentes que perduram até hoje.

A Comissão também institui um grupo de trabalho sobre o assunto, que funcionou até abril de 2007 e teve a participação de representantes da Febraban, entidades do Movimento Negro, do Ministério Público Federal do Trabalho, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além do movimento sindical bancário.

“Nesse grupo de trabalho, que foi retomado agora, os bancos se comprometeram a apresentar os resultados do Mapa da Diversidade em março de 2008. Mas até agora nada. Esse censo é fundamental para que a gente elaborare ações afirmativas para igualdade de oportunidades e conquistarmos, assim, a garantia de que as mulheres tenham os mesmos salários dos homens e que os negros e pessoas com deficiência tenham a possibilidade de fazer carreira. A falta de compromisso dos bancos, no entanto, mostra que a responsabilidade social é só discurso”, finaliza Neiva.

Fonte: Fábio Jammal Makhoul – Seeb/SP

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