Crédito: Fonte: Caixa Econômica Federal
Fonte: Caixa Econômica Federal Claudia Safatle*

A Caixa Econômica Federal abocanhou, no ano passado, 8,9% do mercado de crédito no país, saindo de um "market share" de 6,52% em 2008. A meta para este ano é atingir 9,7%. Mas, na verdade, quer mesmo é superar 10% ainda em 2010. O orçamento deste exercício prevê uma expansão de 33% na oferta de financiamentos à economia, depois de ter crescido 56% no ano passado.

Para isso, a Caixa está analisando a possibilidade de emitir títulos no mercado internacional, pela primeira vez na sua história, para captar recursos mais longos, e apenas aguarda a regulamentação da emissão de debêntures, pelo Conselho Monetário Nacional, para também captar a prazos mais elásticos internamente.

O Banco do Brasil chegou a inéditos 20,4% de market share, em comparação com um padrão histórico de 16% a 17% e pretende aumentar sua oferta de crédito, em 2010, em algo como 20% a 30%, o que vai depender das operações de capitalização que o banco precisa para superar as restrições de Basileia.

Em 2009, a expansão do crédito do BB foi de mais de 40%. Já o BNDES, que elevou seus desembolsos no ano passado para R$ 137 bilhões, com aumento de 49% sobre o ano anterior, prevê, para este ano, um saldo de financiamentos um pouco menor, de R$ 126 bilhões. Para o banco de desenvolvimento, 2009 foi um ano atípico, excepcional, que não deve se repetir.

Como reação ao estreitamento do crédito no auge da crise financeira global, Caixa, BB e BNDES cumpriram as determinações do governo Lula de usar os bancos públicos para irrigar a economia doméstica e atenuar a recessão.

Os bancos federais, que em setembro de 2008 emprestavam o equivalente a 12,8% do PIB, subiram essa relação para 18,6% do PIB em 2009, desbancando o lugar que antes cabia ao sistema financeiro privado nacional, responsável por 18,2% do PIB em créditos (em comparação com 16,6% do PIB em setembro de 2008).

Os estrangeiros, nesse ranking, ficaram praticamente estáveis (saindo de 8% no setembro negro da crise, para 8,2% em dezembro de 2009). O crédito total chegou, assim, a 45% do PIB, percentual significativo de aumento sobre os 39,7% do PIB de 2008. O que cresceu, mesmo, foram as operações com recursos direcionados, que saltaram de 11,5% para 14,6% do PIB. A parcela com recursos livres teve aumento modesto, saindo de 28,2% para 30,4% do PIB entre 2008 e 2009.

O caso da Caixa, que assumiu um novo patamar no mercado de crédito doméstico, é emblemático do que ocorreu com os bancos públicos no governo Lula e, principalmente, no pós-crise global. A instituição diversificou-se, atuou agressivamente na busca de nova clientela e agora quer mais.

A carteira imobiliária cresceu 55% em 2009 sobre o ano anterior, o crédito consignado expandiu-se 60% e, para capital de giro, o aumento foi ainda mais acentuado, de 84%, informou o presidente da CaixaPar, Márcio Percival.

"Hoje 48 milhões de pessoas têm algum negócio com a Caixa. Queremos aumentar essa base em 10% este ano", disse ele, que antevê: "A disputa vai ser acirrada." A instituição pretende comprar mais participações em outros bancos, como fez em 2009 com o PanAmericano, e está atrás de negócios na área de apoio a serviços financeiros, inclusive no setor de tecnologia de informação.

Os tempos dos limites quantitativos de crédito dos bancos federais ao setor público acabaram, o crescimento das instituições vem desde o início do governo Lula e a retração dos bancos privados no momento mais agudo da crise mundial abriu um vasto espaço para uma ofensiva que, agora, não tem retorno. A atuação dos bancos estatais não foi só anticíclica. Veio para ficar.

O ano de 2010, porém, tem características totalmente distintas de 2009. A economia está em franco crescimento, os primeiros sinais de inflação começam a preocupar e é grande a expectativa de que o Banco Central aumente a taxa Selic (hoje de 8,75% ao ano).

Portanto, a expansão do crédito não será a mesma do ano passado e já há sinais de moderação. Percival acredita, porém, que o crescimento do PIB este ano ficará entre 5% e 5,5% e, a despeito de problemas sazonais, não será seguido de pressões inflacionárias. Avalia, também, que o mercado futuro de juros está operando com um prêmio excessivamente alto e não se espera, no governo, aumentos substanciais da Selic, se houver.

O problema inflacionário não é para 2010, disse Percival. E, se fosse, o BC já estaria atrasado na sua atuação, já que há um prazo de seis a nove meses para que apertos monetários atenuem a inflação.

O risco do IPCA é para 2011, assinalou ele, corroborando com a visão do Ministério da Fazenda. E este só ocorrerá se os investimentos não crescerem para a casa dos 18,5% a 19% do PIB, como se estima no governo, para equilibrar oferta e demanda agregadas.

Apertos monetários, seja por elevação de juros ou por aumento dos compulsórios, reduzem a capacidade de emprestar do sistema bancário. De qualquer forma, a CEF e o BB estão com planos de crescimento importantes e preparados para "uma briga de foice no escuro", como disse fonte oficial, não só para manter, mas para aumentar sua participação no mercado.

* Claudia Safatle é diretora de redação adjunta do Jornal Valor Econômico.

Fonte: Valor Econômico /  Claudia Safatle

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