O "middle market" virou rei para as instituições financeiras. As faixas de faturamento dos clientes variam de banco para banco, mas o que se percebe é que linhas e produtos antes destinados às grandes empresas agora começam a servir às pequenas e médias. No crédito dirigido a investimentos isso se traduz em prazos mais longos, que se estendem a até cinco anos. E o mais inusitado, com capital próprio, fora dos repasses do BNDES.

É o caso do Banco Votorantim, que com o previsto recuo na atuação do BNDES, pretende dar ênfase às linhas de investimento em capital fixo em vez de apenas prover o giro das empresas. "Vamos atuar de forma complementar ao BNDES", diz o diretor da área, Carlos Montone. "Algumas companhias, quando estão em ciclo de investimento, ficam sufocadas pelo caixa de curto prazo e a ideia é dar fôlego para que os investimentos possam maturar." As linhas passam então a ter prazos de 36, 48 ou 60 meses, em lugar dos 6 ou 12 meses habituais. Contam, ainda, com uma carência de 6 a 12 meses.

Depois de um 2010 com crescimento vigoroso (175%), quando a carteira chegou a R$ 6 bilhões, o Votorantim pretende incrementar o portfólio em mais 40% neste ano, a R$ 8,5 bilhões, o que nas contas de Montone significa ganhar uma fatia de 6,5% desse mercado, em comparação aos 4% atuais. Para tanto, o banco acaba de ampliar sua atuação no universo middle, baixando a faixa mínima de faturamento anual de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões, chegando, na ponta mais alta, a R$ 200 milhões.

Com a maior restrição ao crédito à pessoa física – dado o maior requisito de capital imposto em dezembro pelo BC-, os bancos estão voltando seu balanço para o segmento empresarial, justamente naquele nicho que não acessa o mercado de capitais, diz o diretor de middle do HSBC, Fernando Freiberger. "A favor, as instituições estão encontrando mais formalidade nas empresas, melhor governança e um processo de internacionalização."

No banco de capital inglês, que nesse nicho atende companhias com faturamento a partir de R$ 30 milhões, a tendência de alongamento se observa nas linhas de BNDES – vale lembrar que, embora o custo seja subsidiado, o risco de crédito é da instituição que faz o repasse e arbitra os prazos. Freiberger conta que as operações com vencimento em sete anos se tornaram mais comuns e que já há exemplos na carteira com resgate em dez anos, em comparação aos cinco anos disseminados no mercado. As linhas de capital de giro, com recursos próprios, também ficaram mais longas, chegando a três anos, ganhando um período de carência.

No Bradesco, que elegeu o segmento de micro, pequenas e médias como carro chefe do crédito neste ano, os prazos se limitam a cinco anos nos financiamentos com recursos do BNDES e chegam a três nas linhas de capital de giro. Com a distribuição nacional, tais prazos atendem bem à demanda das empresas, segundo o diretor da área de empréstimos e financiamentos, Osmar Roncolato Pinho. Em cima de uma base de R$ 84 bilhões, que inclui faturamentos a partir de R$ 2,4 milhões, o banco pretende crescer entre 20% e 24%. Dessa forma, pode compensar a menor oferta direcionada à pessoa física, com expansão prevista entre 13% e 17%.

O BicBanco, que atende a empresas com faturamento anual entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões, vem trabalhando há cerca dois anos no alongamento de seus passivos para fazer frente à demanda por financiamentos com prazos maiores. Em dezembro, o prazo médio dos passivos era de 713 dias, ante 276 dias de prazo dos créditos. Na opinião de Milto Bardini, vice-presidente da instituição, grande parte da procura por investimentos em infraestrutura ainda está por vir. Mas o comportamento da carteira do banco já dá uma mostra desse movimento.

Em dezembro de 2008, 19,6% do saldo de R$ 8,07 bilhões era composto por créditos superiores a um ano. Em 2010, essa proporção subiu para 26,5%, sobre um estoque de R$ 13,23 bilhões. "Cresceu em termos relativos, mas muito mais em termos absolutos", observa Bardini. O executivo acredita que, em dois anos, os créditos com prazos superiores a um ano vão responder por 33% da carteira do banco. O BicBanco tem como teto três anos de financiamento. "Gostamos de trabalhar com os riscos visíveis no horizonte", explica.

O Itaú Unibanco, tido por muitos bancos de nicho como um concorrente agressivo, vai acrescentar neste ano ao seu portfólio o cartão BNDES, voltado para financiar investimentos de empresas com receita anual de até R$ 90 milhões. A adesão do banco das famílias Setubal e Moreira Salles ajuda a engrossar a pequena lista de emissores do plástico, que conta hoje com Banco do Brasil (BB), Bradesco, Caixa Econômica e Banrisul. O cartão permite financiamento automático para a aquisição de bens de produção e insumos em até 48 meses.

No Banco do Brasil, a linha BB Crédito Empresa, lastreada em recursos do FAT e do BNDES para a aquisição de veículos, passará, neste ano, a incluir máquinas e equipamentos.

Com a maior exigência de capital para operarem as suas carteiras de consumo em prazos acima de 24 meses, mesmo instituições que não tinham esse nicho como prioritário demonstram tal inclinação, caso do Bonsucesso, especializado no consignado. O banco quer ter até o fim do ano 40% dos ativos distribuídos a pequenas e médias empresas, em comparação aos 25% de 2010. Isso significa impor um ritmo acelerado à carteira que fechou o ano passado em R$ 430 milhões e já tinha crescido de forma expressiva, 78%. "Sempre atuamos no middle, mas nunca foi o foco e é um segmento que vai me exigir menos capital e pode proporcionar praticamente o mesmo retorno do consignado", disse recentemente o presidente do banco, Paulo Henrique Pentagna Guimarães.

 
Fonte:  Valor Econômico / Adriana Cotias e Aline Lima

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *