O setor financeiro da Suíça pode ser reduzido à metade sem o sigilo bancário, disse o presidente da Fundação Genebra Praça Financeira, Ivan Pictet, em uma entrevista ao jornal "Le Temps", de Genebra.
"Ao invés de representar quase 12% do PIB [Produto Interno Bruto], o setor financeiro poderia acabar representando de 6 a 7%, caso as contas suíças percam a confidencialidade", afirmou Pictet, um dos mais influentes banqueiros privados suíços.
"O cliente não terá nenhum motivo para percorrer 500 km e ver seu gerente. Para atrai-lo, temos que oferecer algo que não tem em casa", acrescentou.
Pictet teme que os países do G20 (grupo que reúne representantes de países ricos e dos principais emergentes) pressionem para garantir que seus contribuintes mais ricos não escapem do fisco.
O medo de Pictet está relacionado ao caso que opõe o maior banco suíço, o UBS, e a Justiça dos EUA. Na semana passada, o banco fechou um acordo para pagar US$ 780 milhões à Justiça dos Estados Unidos após ser acusado de ajudar milionários americanos a sonegar impostos. Além disso, o banco também se comprometeu a divulgar as identidades dos envolvidos.
O Departamento de Justiça havia aberto investigação sobre o UBS após obter provas de que diretores do banco ofereciam a americanos ricos a possibilidade de abrir contas no exterior que lhes permitiam omitir lucros milionários e sonegar impostos.
O UBS acusou o fisco americano de ignorar a soberania da Suíça e expor seus funcionários à Justiça. O IRS (a Receita Federal dos Estados Unidos) pediu informações sobre 52 mil titulares de contas secretas na semana passada, depois que o órgão descobriu fraudes em declarações de renda. A polêmica entre as autoridades suíças e americanas abriu uma discussão sobre sigilo bancário em relação a esquemas financeiros.
Ao tribunal federal de Miami (EUA), os advogados do UBS explicaram que a exigência das autoridades americanas obrigaria os funcionários do banco na Suíça a "violar direito penal suíço". Esta violação exporia os trabalhadores a "penas de prisão consideráveis, além de multas e outras punições", segundo os advogados. "O fisco ignora simplesmente a existência do direito e da soberania suíça."
Fonte: Folha Online, com France Presse, em Genebra