Crédito: Cristiano Estrela – Fetrafi-RS
Os funcionários do BB aproveitaram a 12ª Conferência Estadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras dos RS para lançar o manifesto "O papel do Banco do Brasil na economia brasileira". O documento, apresentado pelo diretor do Sindicato dos Bancários de Santa Cruz do Sul e funcionário do BB, Oscar Graeff Siqueira, teve a aprovação do Congresso Estadual dos Funcionários do BB.
Ao longo do texto, o dirigente sindical aponta a equivocada postura de mercado adotada pelo Banco do Brasil, que afasta cada vez mais a instituição do seu papel de banco público. "Esse, sem dúvidas, não é o Banco do Brasil que o Brasil precisa e deseja. O País precisa de um banco que seja o suporte do desenvolvimento econômico e social, com sustentabilidade", afirma o bancário no manifesto.
O diretor do SindBancários e representante dos gaúchos na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, Ronaldo Zeni, diz que o manifesto expressa o anseio da sociedade por um banco público, que sirva tanto para atender indiscriminadamente a população quanto atuar no mercado como regulador das taxas de juros e tarifas. "Esperamos que os movimentos sociais se integrem neste fórum para que possamos pautar o debate durante a campanha presidencial 2010", salienta o dirigente sindical.
Agora o manifesto será encaminhado pela Fetrafi-RS à Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, agendada para o período de 23 a 25 de julho, no Rio de Janeiro.
Veja na íntegra o manifesto:
O papel do Banco do Brasil na economia brasileira
O Banco do Brasil, na atualidade, vem apresentando lucros extraordinários, ano após ano. Nada de surpreendente para os parâmetros ditados pelo mercado e pelo tipo de economia que se configurou nestes últimos 30 anos. O problema está no caráter do lucro, pois ele não vem de uma atividade de fomento, mas, sobretudo, de uma prática meramente mercantil.
Desde o fim da conta movimento, em 1986, o Banco do Brasil foi obrigado a buscar no mercado os recursos financeiros necessários para possibilitar suas atividades de intermediação do crédito e de geração de resultados. Isso propiciou a construção de uma estrutura corporativa voltada, essencialmente, para o mercado. Esse processo teve um importante impulso em 1990, com o Governo Collor e cristalizou-se no Governo Fernando Henrique.
Desse modo, o foco do Banco do Brasil passou a ser o de gerar "funding" (fundo de recursos) para realizar suas atividades comerciais e financeiras. O problema é que com isso o Banco deixou de lado uma postura de fomento e passou a "explorar" o mercado, retirando da mesma sociedade que um dia ele fomentou, os lucros e mais lucros que agora constituem a única razão da sua existência.
Para tanto, teve que mudar a sua estrutura organizativa e funcional dotando-a das mais "modernas" formas de mercado. A palavra "negócio" virou o vocábulo mais usado e difundindo entre todos os funcionários. O triste disso é que "negócio ótimo" conforme definição do economista Vilfredo Pareto (um dos expoentes do neoliberalismo) consiste na situação em que um perde e outro ganha. Essa é a tônica do Banco do Brasil hoje.
Ganhar em tudo, inclusive, na exploração e assédio moral dos seus funcionários e na exploração dos seus clientes (cidadãos brasileiros) que conforme a sua renda ou faixa etária são jogados no "varejão" das salas de autoatendimento, deixando o tratamento "VIP" para os mais endinheirados.
Esse, sem dúvidas, não é o Banco do Brasil que o Brasil precisa e deseja. O País precisa de um Banco que seja o suporte do desenvolvimento econômico e social, com sustentabilidade. Precisa de um Banco que invista na atividade produtiva e não na especulativa. Precisa de um Banco que seja moderador do mercado financeiro, puxando para baixo os altos juros praticados pelos outros bancos e pelo próprio Banco do Brasil. Enfim, precisa de um Banco que ajude na construção de um Brasil mais justo, fraterno e igualitário, no qual as mazelas que afligem a sociedade brasileira possam ser superadas definitivamente.
Dessa forma, o Banco do Brasil precisa ser reconduzido ao papel de instrumento fomentador da atividade produtiva das políticas traçadas pelo governo federal, sem deixar de atender o lado comercial. E para que isso possa acontecer está sendo iniciada uma campanha nacional para constituir o Banco do Brasil como gestor do Fundo Pré-Sal, de onde sairão os recursos para as atividades de fomento à produção que o Brasil precisa e deseja.
Contudo, esse papel de gestor dos recursos do Fundo Pré-Sal não precisa ficar restrito ao Banco do Brasil, ele pode ser estendido às demais instituições públicas financeiras federais. A Caixa Econômica Federal poderia, perfeitamente, coordenar os recursos que o governo federal pensa em direcionar para educação, infraestrutura e combate à pobreza.
O BASA e o Banco Nordeste poderiam seguir na mesma linha da Caixa Econômica Federal através de políticas pontuais regionais. O importante é que esses bancos federais possam ser usados pelo governo federal para intervirem na economia através de alterações na política monetária e cambial, quando necessário.
Como complemento desta proposta, o Banco do Brasil poderia ter seu conselho de administração democratizado através da participação da sociedade civil organizada. Os representantes dos movimentos sociais e de entidades sindicais poderiam, em conjunto com representantes do governo e de entidades empresariais, fazerem a gestão do processo de fomento da atividade produtiva e social do Banco do Brasil.
Finalizando, essas seriam as propostas e sugestões sobre o papel que o Banco do Brasil S.A., poderia representar para o governo federal. Certamente, com as formulações efetuadas, anteriormente, e outras que viriam a se somar a elas, se poderá ter a construção de um novo e importante instrumento de fomento das políticas econômicas e sociais chamado Banco do Brasil S.A.
Fonte: Fetrafi-RS