Crédito: Jailton Garcia/Rede de Comunicação dos Bancários
O professor Laerte Idal Sznelwar defendeu, durante o V Encontro de Saúde e Condições de Trabalho realizado na 11ª Conferência Nacional dos bancários, que é necessário entender a fundo as minúcias do trabalho para promover a saúde no ambiente profissional. O palestrante – médico do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) – disse ainda que os trabalhadores têm de parar de "correr atrás da doença".
Conforme exposição, acompanhada por representantes da categoria de todo o país, na atual conjuntura, as pessoas trabalham no seu limite, desconsiderando todo tipo de desconforto, com receios de serem estigmatizadas por conta de possíveis doenças e, sobretudo, frente aos riscos de demissão.
As saídas possíveis
Para o médico, no entanto, existem saídas possíveis. "Muitos dos nossos esforços têm sido voltados a tratar a doença, quando o certo é focarmos a saúde. E, para isso, é imprescindível fazer com que o trabalhador tenha conhecimento sobre o todo do seu trabalho, de maneira a poder interagir. Hoje, é justamente essa impossibilidade de agir o que gera o adoecimento. Se conseguirmos mudar essa situação, favorecendo o conhecimento, as pessoas poderão enriquecer o conteúdo de suas tarefas. Aí,então, teremos o foco na defesa da saúde". Para tal, o professor definiu dois caminhos, um físico e um psicológico.
Para conseguir um ambiente físico que promova a saúde ao invés da doença – as Ler/Dort são as mais comuns entre os bancários – Laerte aponta para a valorização da ergonomia em seu sentido amplo, não restrito a apenas às ferramentas corretas de trabalho. Junto a elas, o professor destaca a necessidade também de uma análise profunda sobre o que é trabalho, como ele é feito, o tempo necessário para que ele seja concluído, as etapas do processo, dentre outras variáveis que têm consequências na saúde física do trabalhador. "Temos que saber de que maneira otimizar as tarefas sem mandar (o trabalhador) fazer 15 coisas ao mesmo tempo".
Psicodinâmica do trabalho
Para a parte psicológica, o especialista cita a psicodinâmica do trabalho, por onde procura-se entender melhor qual é a real função de sua profissão a fim de achar um motivo de fato, e até prazeroso, para exerce-la. "É se aprofundar no núcleo do trabalho. Entender o que é ser enfermeiro. O que é ser bancário", diz. "Hoje o nosso cérebro é alugado. Não pensa direito no que faz. Simplesmente executa a tarefa, o que é totalmente contra a sua natureza, que é de pensar livremente", acrescenta.
"Dependendo da forma e dos motivos que levam a pessoa a exercer determinada função, maior ou menor o interesse dela naquilo. E interesse é importante no trabalho, pois não é horrível passar o dia fazendo algo que não se sabe bem o porquê ou que não é interessante?", indaga o professor, que completa: "O trabalho é fundamental para a pessoa se colocar no mundo, para a identificação social".
Desafio contínuo
Na avaliação de Plínio Pavão, secretário de Saúde da Contraf-CUT e coordenador da mesa do V Encontro Nacional de Saúde e Condições de Trabalho dos Bancários, proporcionar conhecimento ao trabalhador é um desafio contínuo. "Por isso, a importância de estreitarmos nossas relações com os estudiosos sobre o tema. O movimento sindical tem muito o que aprender e conversar com a Academia, de maneira a encaminharmos projetos conjuntos", finaliza o dirigente.
Para a secretária de Saúde da Fetec/CUT-SP, Crislaine Bertazzi, o movimento sindical deve aproveitar esse momento, quando a categoria dá início à Campanha Nacional 2009, para aprofundar o debate sobre prevenção, melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida como um todo. "Por outro lado, temos de pressionar os bancos a reconhecerem que a defesa da saúde não é custo. Pelo contrário, é investimento, uma vez que são os trabalhadores quem
trazem retorno financeiro às instituições financeiras", ressalta a dirigente.
Fonte: André Rossi e Lucimar Cruz Beraldo/Rede de Comunicação dos Bancários