Operações de compra de carteira de crédito e o uso de créditos tributários por bancos brasileiros poderão ser duramente afetados pela nova regulação do Acordo de Basileia 3 de capital mínimo, segundo fontes do mercado. O pacote, que exigirá bilhões de dólares adicionais dos bancos globalmente para se protegerem de futuras crises, pode ser definido no domingo pelos bancos centrais, na Suíça.

As operações de compra de carteira de crédito e o uso de crédito tributário por bancos brasileiros são alguns dos elementos que poderão ser duramente afetadas pela nova regulação do Acordo de Basileia 3 de capital mínimo, segundo fontes do mercado. O pacote que exigirá bilhões de dólares adicionais dos bancos globalmente, para se proteger de futuras crises, pode ser definido no domingo por bancos centrais na Suíça.

Os bancos brasileiros, mesmo em melhor situação do que boa parte de seus parceiros internacionais, deverão fazer maior alocação de capital para determinados tipos de riscos, mudança de estratégias de negócio e mesmo o fim de certas operações, para se enquadrar em três reformas regulatórias que se encavalam: o Acordo de Basileia 2, que só agora está sendo implementado, o novo padrão internacional de contabilidade e agora o Acordo de Basileia 3.

A adoção gradual desse arcabouço de regras pode inviabilizar as compras de carteiras de crédito, como é prática comum no mercado de crédito consignado, em que as instituições menores geram as carteiras e as vendem aos grandes bancos para se financiar. Como explica uma fonte qualificada, pela lei brasileira na cessão de crédito o banco comprador torna-se co-responsável.

Agora, isso significará requerimento de capital adicional para efeito de risco de crédito, o que pode tornar a operação cara demais. O saldo do crédito consignado alcançou R$ 125,6 bilhões em julho, representando 60% do crédito pessoal no país, e é motivo de intensa disputa entre bancos privados e bancos oficiais.

Outra preocupação entre banqueiros é como ficará o uso do crédito tributário, que em geral é resultado de provisões em excesso feitas no passado. As regras que ativam esse instrumento no Brasil destoam muito dos padrões internacionais. Pode-se mesmo abrir banco no país usando crédito tributário. O temor é de que o uso desse instrumento se torne um grande problema para todo tipo de instituição financeira.

Representantes de bancos menores já começaram a reclamar nas conversas entre banqueiros que o BC faz exigência tão rigorosa de provisão de créditos duvidosos que obriga os bancos a usar o credito tributário.

Com a nova regulação de capital, liquidez e contabilidade internacional, isso ficará difícil, mesmo impossível, dependendo de outros detalhes que podem condicionar o resultado final do que será implementado. Em todo caso, o BC será pressionado a fazer alguma mudança e certos banqueiros começam a pedir a redução do compulsório sobre depósito à vista como contrapartida.

O BC sinalizou aos bancos que não será mais exigente do que o pacote de Basileia 3, ainda mais se a demanda adicional de capital aumentar de 8% para 11% como é o nível brasileiro. Mas avisou que a fiscalização será bem mais rigorosa e estrita, na linha decidida pelos países para prevenir crises.

Num debate na Índia, Charles Dallara, diretor-geral do Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade que reúne os maiores bancos do mundo, alertou que vários países emergentes serão afetados pela nova regulação.

O IIF insiste para que o pacote seja suficientemente calibrado para não causar peso adicional nos emergentes. "Na busca de prevenir práticas ruins em um mercado, a regulação não deve inadvertidamente penalizar "players" em outros mercados onde a relação custo benefício para a regulação não se aplica", disse Dallara.

O IIF dá três exemplos que afetam os emergentes. Primeiro, pelo novo requerimento de liquidez, para operações de longo prazo, como financiamentos imobiliários de 30 anos, o banco deve buscar funding também de longo prazo, para não haver divergência maior entre ativo e passivo. A questão é que isso é possível nos países industrializados, onde existem instrumentos de longo prazo para o funding. Mas nem em todos os emergentes os bancos vão conseguir isso. Ou seja, o que é desenhado para o G3 – EUA, Europa e Japão -, não pode ser transposto para os emergentes.

Segundo, é o problema de financiamento ao comércio exterior (trade finance). A potencial aplicação do nível de alavancagem definido por Basileia 3 sobre os ativos fora do balanço como carta de crédito e outros instrumentos financeiros vai penalizar as atividades financeiras para os emergentes.

Pela proposta de Basileia, se a carta de crédito dada pelo banco for de US$ 100 milhões, o banco terá de ter 3% de capital adicional. Ainda que a garantia não seja usada, entra na medida do novo padrão de alavancagem, para limitar o endividamento do banco. O resultado, conforme o IIF, é encarecimento dos instrumentos de comércio exterior para os emergentes.

O terceiro problema é a proposta para que participações minoritárias deixem de contar como componente central do capital, o que vai dificultar a vida de grandes bancos internacionais com interesse de se expandir nos emergentes.

Quando um grande banco internacional entra num mercado, não necessariamente adquire a totalidade dos 100% da subsidiária. Pode, por exemplo, começar com uns 40%, 50%. Até aqui o banco pode contar com essa parte para os efeitos de exigência de capital. Agora, somente se comprar os 100%.

Fonte: Valor Econômico /  Assis Moreira

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