O Banco do Brasil desembolsou até agora um terço do orçamento de R$ 6 bilhões destinados à instituição pelo Tesouro Nacional para financiar capital de giro emergencial a agroindústrias e usinas de álcool.
O BB ainda não recebeu os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para lastrear esses empréstimos, como previsto pelo governo, mas financiou R$ 2 bilhões a empresas dos segmentos sucroalcooleiro, frigorífico, tabaco, têxtil, madeira e celulose, máquinas e equipamentos agrícolas, café e laticínios. Até o fim de agosto, o BB estima emprestar outros R$ 3 bilhões em operações com juros fixos de 11,25% ao ano para empresas com dificuldades de caixa.
O Tesouro Nacional autorizou, há dois meses, o repasse ao BB de metade do orçamento de R$ 10 bilhões do Programa de Crédito Especial Rural (Procer) e de R$ 1 bilhão do Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro (PASS). Uma lei, aprovada em abril deste ano pelo Congresso Nacional, permitiu o subsídio direto do Tesouro aos juros dessas operações. O governo espera financiar até 1,87 bilhão de litros de etanol para usinas e dar fôlego financeiro suficiente para agroindústrias e cooperativas consolidarem suas posições em meio à crise econômica global.
O BB informa que o repasse deve ocorrer até o fim de julho. "Estamos atendendo a toda demanda que tem chegado, dentro do cronograma acertado no âmbito do governo", diz o diretor de Agronegócios, José Carlos Vaz. Mas o atraso, dizem analistas, deve encurtar o prazo de adesão e o tempo do financiamento, previsto para até dois anos.
Para suprir a demanda de crédito, o BB optou por fazer uma espécie de "empréstimo-ponte", usando recursos captados na poupança rural para alimentar as novas linhas do governo. Depois, o banco fará um arranjo contábil para reclassificar essas operações como crédito rural para o novo Plano de Safra.
No balanço dos empréstimos, as usinas de álcool foram as mais beneficiadas até agora. Levaram R$ 817 milhões do total do crédito agroindustrial liberado pelo BB. Com dificuldades de caixa, os frigoríficos contrataram R$ 795 milhões da linha. Já o complexo soja ficou com R$ 558 milhões. A surpresa ficou para os desembolsos às indústrias de tabaco, que levaram R$ 362 milhões , e das têxteis, que contrataram R$ 275 milhões. Indústrias de madeira e celulose obtiveram R$ 326 milhões em financiamento. O setor de defensivos ficou com R$ 313 milhões e o de máquinas e equipamentos agrícolas, R$ 133 milhões. As indústrias de suco de laranja tiveram R$ 80 milhões, as de café R$ 60 milhões, e os laticínios, R$ 58 milhões.
Nas contas do BB, porém, os desembolsos somam R$ 5,6 bilhões. "Essas operações não estavam previstas no Plano de Safra original e foram realizadas como ação anti-crise", explica José Carlos Vaz. Os recursos extras vieram da poupança rural. "Mas sem comprometer os desembolsos em crédito rural", ressalva. Houve, segundo ele, o efeito da elevação do percentual de aplicação obrigatória pelos bancos no setor (exigibilidades) – no caso da poupança, de 65% para 70%. Também foi registrado um forte crescimento da captação "acima e fora da curva histórica" prevista no desenho do Plano de Safra 2008/09.
Nos cálculos do BB, entram todas as operações de crédito agroindustrial feitas na safra 2008/09, encerrada em 30 de junho – nesse período, o banco liberou R$ 30,5 bilhões em crédito rural. No total, o governo reservou R$ 12,3 bilhões para socorrer agroindústrias e usinas de álcool.
Fonte: Valor Econômico / Mauro Zanatta, de Brasília